terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

SILVIO SANTOS E A MUÇARELA

Prometi a mim mesmo que, meu blog se fixaria somente em histórias e outras ficções. Que não envolveria meu trabalho nas linhas que passariam pelos olhos dos leitores. Juro que me esforcei, mas às vezes, o amor pelo meu trabalho acaba falando mais alto.

Tenho dois projetos na internet a respeito, escrevo dicas de língua portuguesa no site Aspirante Profissional, e junto a Lucas amura, estamos no ar há quase dois meses com podcasts no Português com Humor.

Dois canais que me poderiam ser suficientes, mas não. Tenho ainda de falar a respeito. O brasileiro não valoriza a língua portuguesa e não é de hoje, é de sempre. Li várias crônica de Nelson Rodrigues, e o gênio abordou muitas vezes o assunto. Crônicas de 1960, 1970.

O que diria o notório cronista em tempos de internet, em tempos de abreviações e da rapidez na comunicação. Diria a vizinha gorda que o idioma é difícil e o que mais importa é a comunicação.

Não quero trazer aqui regras e acertos, quero apenas endossar que a leitura acaba sendo a muleta para que a língua pátria não sucumba à modernidade. Porque tudo tem uma evolução, as palavras e o modo de se comunicar também trazem esse progresso. Porém muito diferente de o errado acabar prevalecendo.

Óbvio que minhas pretensões chegam apenas àqueles que têm acesso à educação, à sala de aula. Utopia demais pedir que se dê palavras antes de comida. Mas meu sonho é que os de barriga cheia tenham a fome de saber, de ler, da importância do falar certo.

Português é lindo demais para morrer à míngua. Poesias são o resultado do talento de quem somente domina o idioma, assunto que nem sempre é bem aceito entre os daqui.

Exemplifico com duas histórias. Certa vez um aluno – quero pensar que de forma mais pura do que obtusa – perguntou-me onde o usaria o português, já que o inglês é a língua do universo.

Fui irônico em dizer que, no Brasil, eu nem poderia imaginar onde ele pudesse usar a língua portuguesa. Ele rebateu com um sorriso, dizendo: “Se você que é professor não sabe, eu saberia?”.

E a última. Num dia de aula sobre ortografia, disse que a grafia correta de muçarela era com cedilha. Metade da sala só faltou me condenar, dizendo que aquilo seria um absurdo. Na época, havia um programa na tão culta emissora de Sílvio Santos chamado “Você é mais esperto que um garoto da quinta série?”.

O programa era aos domingos. Numa segunda-feira, logo nos primeiros 5 minutos de aula, uma aluna pede a palavra entre os quase cem alunos e me elogia: “Professor, o senhor estava certo, assisti ao programa do Sílvio e ele disse que muçarela realmente é com cedilha”.

Aplausos.

E é assim, no Brasil, ensina não quem tem conhecimento, ensina quem tem poder. E sabe o que é pior, eu deveria ficar triste, mas fico feliz em saber que qualquer mídia possa ser útil e endossar o que professores dizem em sala de aula, ainda que alguns não sejam tão críveis assim... Como eu.

2 comentários:

  1. Dri, são realmente tristes essas constatações, mas se serve de consolo...nunca duvidei de você, nem na aula da "muçarela"! rs

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