domingo, 30 de junho de 2013

MONITORADOS

Não há aqui nenhuma história ardente de motel. Podem-se pular todas as preliminares, os banhos de hidromassagem ou os na piscina. Se preferir, pule também o almoço executivo o momento de rir com os gritos alheios.

Quando chegaram no carro, ele não pegou. Sim. O carro não pegava. Nenhum sinal de nada, virava-se a chave, o painel acendia, mas nada acontecia. Um carro morto. O carro era da mãe da menina, que precisava dele para o evento do bingo numa associação espírita.

E as horas estavam para vencer, e ainda havia a carona do rapaz. Pensar rápido. Foram a pé à portaria, pagaram tudo e pediram ajuda da recepcionista, que, mesmo que quisesse, além dela, era mais uma faxineira e a copeira.

A Hilux era um pouco pesada para um só empurrar. Mas tentariam e não conseguiram. Tenso. Enquanto ela tentava ligar, o quarto ao lado saiu. Uma ajuda, três poderiam dar conta. Porém os sexagenários estavam exaustos demais para isso.

- Minha hérnia, filho, é exigir muito hoje desse vovô!

O seguro! Porém ela descartou, e a recepcionista também, se fosse guincho, não passaria e dar o endereço do socorro seria meio constrangedor.

A recepcionista os deixou ficarem até alguém precisar do quarto. Ninguém mais aparecia, e torciam pra isso, porque teriam um bônus no esforço.

Pensaram que a notícia da picape quebrada correra todas as suítes e ninguém se dispusera a sair.

Meia hora para o evento, e a mãe ligando. O rapaz desesperado, a menina só chorava, tentando uma história mirabolante. Interromper o prazer alheio seria ousadia extrema, mas quem sabe um empurrão só?

Menina chorando. Rapaz pensando. Recepcionista postando: “foda aqui fodeu o carro”.

Celular tocando e tocando. Menina chorando. Rapaz pensando. Amigos da recepcionista curtindo o post “foda aqui fodeu o carro”.

Celular tocando, tocando e recebendo mensagens. Menina chorando. Rapaz pensando. Amigos dos amigos da recepcionista curtindo o vídeo de entrada do carro que emperrou.

Celular tocando, tocando, recebendo mensagens e mais mensagens. Menina chorando. Rapaz pensando. Amigos dos amigos dos amigos e 3 amigos dela em comum entre os da recepcionista não crendo na imagem.

26 ligações não atendidas, 15 mensagens não lidas, 1 aparelho sem bateria, 490 curtidas, 103 comentários e 1 hora depois, por milagre, o carro pegou. A menina pediu para o rapaz avisar a mãe, do taxi e a caminho de casa, que o carro quebrara e que logo ela estaria em casa.

- Avise a minha filha que já cheguei aqui e estou explicando a todos que o vídeo de vocês foi uma brincadeira de despedida de semestre da faculdade.

 

 

sábado, 29 de junho de 2013

CLICHÊS!

Já diria um sábio amigo que os clichês são clichês porque são verdadeiros! Eu os endosso agora, porque as verdades crispam nossas vidas, rasgam nossos corações e nos fazem sorrir outras vezes...

sexta-feira, 28 de junho de 2013

A LOUCA PAIXÃO

Sempre que ouvia o termo paixão, eu me remetia a coisas lindas. Anos mais tarde, percebi que ele está mais ligado a sofrimento que nunca.

E essa é uma dessas histórias em que a loucura se associa ao fato. A menina caiu doente por causa do rapaz. Não há explicação porque não existe, ama-se e apaixona-se pela mesma razão que olha para o lado esquerdo num quarto escuro.

A timidez poderia ser um empecilho, mas quando o coração berra, todos os lados se calam, incluindo o bom-senso, a noção de respeito e a sensação de bem-estar. O estar apaixonado é nada bom, é tudo ruim. A boca seca, a fala some, a alvo é perfeito.

Trabalhavam na mesma empresa, e, ainda que os setores fossem diferentes, e os andares também, o elevador tornava-se o único elo entre eles. Nunca se falaram, apenas o sorriso sincero de agradecimento por segurar a porta de entrada do setor e os bons-dias diários bastaram para aquela mulher se ver nua e perdida.

Começou a aparecer mais produzida. Gastava tubos de dinheiro nos melhores salões da Paulista. Recebia assovios de todos os lados, menos do certo. Ok, convenhamos, que ela era algo morno e, mesmo que todos os produtos da Mack fossem aplicados nela, ela passava de chuchu a chuchu com molho rosé.

Roupas caras e, em anos, o primeiro uso do cheque especial. Talvez o investimento fosse mias pesado. E começou a aumentar o limite do cartão, e começou a usá-lo, e começou a abusar dele. 40 dias depois, sua dívida mensal, que não chegava a 3 mil reais em tudo, passava dos 25. E conseguiu um sorriso franco do rapaz.

Sentiu-se desejada. Escapava para o banheiro várias vezes e se imaginava derrubando portas e rolos de papel. Quase dois meses, tomou coragem e mandou um email. Começou suave e se identificou.

Ele respondeu. Ok, não foi com um beijo de despedida, mas um abraço. Oras e tudo começa com um abraço. Decidiu mandar o segundo e foi mais ousada. A resposta demorou dois dias e veio com um gentil “obrigado” e nada mais.

Ela viu-se certa de que bastaria algo mais ousado. Revelou-se e revelou o sonho do banheiro da empresa. Dois dias, três, uma semana e nada. Tentou uma segunda vez. Nada, uma terceira. Na  quarta, leu um “melhor focarmos em nossas carreiras”. Um grito sôfrego a fez berrar, sorte às 22h a seção estar deserta.

Ficou louca. Mandava emails pedindo uma chance e nada. Nunca mais o vira de modo natural. Sentiu que ele fugira toda vez que a via. Forçava encontros e percebeu que ele a evitava. Começou a descumprir prazos. Começou a sumir por horas, esperando vê-lo ou apenas espreitando-o 5 andares abaixo.

Expôs-se, deixou-se fácil. Não aparecia em reuniões. Estava cada vez mais entregue, linda, endividada e no inferno. E realmente ficou quando a demissão chegou. Chorou como nunca e não pôde crer quando soube que o mundo sabia de sua paixão. Inconformada, demitida e seca, beirou a loucura, quando mandou os supostos emails falsos do rapaz, que era casado e bem casado

Juras de amor não cumpridas, perseguições descabidas, coações emocionais. Ela creu nisso e voltou decidida a reaver o emprego e colocar sua paixão pra fora. Sim. Ela voltaria e ele sumiria, perfeito. Nada como a justiça dos loucos.

E assim o fez. Mandou as 15 longas e bem cuidadas promessas de amor em aberto. Lugares divididos, beijados ou invadidos – aos cuidados do superior dele e dela.

Como resposta, viu-se ameaçada por danos morais, pelo advogado dele. Quase enlouqueceu quando leu o email, principalmente quando foi ameaçada de ter as fotos íntimas tiradas no banheiro da empresa reveladas numa rede social.

Não havia mais nada a ser feito, abriu a janela e se atirou. E ainda não sabe se o remorso do rapaz ficou aceso ou se realmente as fotos dela seriam reveladas...

quarta-feira, 26 de junho de 2013

AS BENFAZEJAS DA LITERATURA

Escritor promissor num país miserável não é raro, mas com uma projeção internacional, daquelas que colocam uma nação no centro do mundo é. E ele se tornava o orgulho nacional.

Seu primeiro romance explodia com uma fúria criativa e depressão invejável. Sabia trazer os problemas e rir deles como a fome que devastava as ruas ou os escândalos que rompiam famílias e políticos.

Governo falido, não havia dinheiro para se comprar comida, muito menos livros. E ele se tornava ponte de entrada a algo. Lido no primeiro mundo, França, Estados Unidos, Inglaterra e demais exemplos se rendiam às linhas do talentoso literato.

E o país entrava na lista dos mais lidos. Seis meses, mais de 20 milhões de livros vendidos, primeiro lugar em cada esquina. ONU e ong’s descobriam aquele fim de mundo, eram as letras que traziam ar e proventos para mais de 20% dos analfabetos do local.

O mérito viria como um relâmpago. O governo se reuniu e decidiu condecorá-lo com mais que um cidadão, com 100 mil dólares, pela abastança que conseguia com seu título.

Mas o bom senso e a ideologia falam alto. Aceitou o diploma e as palmas, estendeu a mão a todos os poucos poetas e catedráticos conterrâneos, e enfiou-a no bolso para o cheque. Não cairia bem, ainda que fosse o salvador da pátria, engordar a conta corrente enquanto houvesse corpos pelas valas, que não estavam de todo limpas.

De salvador, virou herói e de herói viraria santo. Realmente, homens de boa fé são mais raros que escritores promissores.

Não conseguiremos ver até quando isso se perdurará. Ao término desse texto, não teremos o exato momento dos fatos ou saberemos se um segundo romance vingou.

O que se tem certeza é que os direitos autorais podem não durar tanto assim, por isso é que os estudos da única filha, de apenas dois meses, tinham de ser garantidos. E, convenhamos, começar uma conta-poupança com 100 mil dólares é tão raro quanto um efêmero e improvável sucesso literário.

terça-feira, 25 de junho de 2013

DÉJÀ VU?

Não raro costumo me lembrar de determinadas cenas de filmes. E acho que sempre existem coisas que nos podem servir de alerta ou de constatações. A cena abaixo me veio à mente há pouco e, num momento raro de ligar o TV, eu me deparo com ela em minha frente.

Não há como não reparti-la com o leitor e desejar sempre dias assim, com uma frequência cada vez mais comum! 500 DAYS OF SUMMER, e o excelente Joseph Gordon-Levitt em ação!


segunda-feira, 24 de junho de 2013

O SORTUDO

Essa não é uma dessas histórias que acontecem sempre. Porém é uma daquelas que sempre devem ser contadas. O protagonista em questão, cujo nome não nos vem ao caso, sempre repetiu aos quatro cantos que nasceu sem sorte.

O mais velho de seis irmãos, nunca liderou nada pela natureza. Não foi dele a primeira nota dez, não foi dele o primeiro emprego, o primeiro casamento ou o primeiro neto. Dizia quase num mantra que a primeira vez nunca traria seu nome.

Abrindo um espaço aqui, não teve uma vida medíocre. Levou tudo de modo normal. Casou-se, teve um bom emprego, até conheceu a Argentina, formou dois filhos e, mesmo sem excessos, passou vontades como a maioria das pessoas.

Entretanto o velho hábito de urrar não ter sorte esteve sempre em seu encalço. Nunca ganhou na loteria, apesar dos jogos semanais. Nunca achou uma note de dinheiro na rua, apesar de viver andando com a cabeça de olho no chão.

E foi numa dessas caminhadas que não reparou que um carro parou atrás dele.

Não reparou que três homens saíram do carro e correram até, só reparou que tinha sido abordado de modo abrupto pelo trio quando se viu dentro de um porta-malas de um carro em movimento.

O que pensar? O que fazer? Rezar? Chorar? Como entender? Tantas perguntas para se responder e ele apenas endossou com pena de si mesmo que a sorte dessa vez, literalmente, havia pregado uma peça nele. Aos 65 anos, seria morto, porque, se fosse um sequestro, dinheiro não havia.

Quieto ficou aceitando o azar como companheiro fiel. Sentiu as curvas aparecerem e sumindo várias vezes. A velocidade do carro e dos pensamentos se confundia. Os trancos que dava com o descuidado balançar era um empecilho e tanto para ele.

Tentou rezar, mas não conseguiu juntar a lógica de uma oração sequer. Repensou sua vida e julgou-se injustiçado por tudo aquilo. Quem eram? O que queriam? Por que ele?

Enfim o carro parou. Preferiu o silêncio e decidiu aceitar tudo sem nada, apenas culpou mais uma vez a falta de sorte. Tiraram-no de lá e o levaram para dentro. Deparou-se com um olhar arregalado e inconformado, que virou ao trio e berrou:

- Não é ele! Pegaram o cara errado! Não é ele! Leva o cara daqui!

E voltou para dentro do porta-malas e, dessa vez mais rápido, deixaram-no numa avenida distante. Quando reuniu a lógica, viu o carro se afastar, olhou aos lados e viu o pessoal do bar olhando-o de modo absorto e incrédulo. Ele ficou mudo. Um dos rapazes, o mais velho chegou até ele, ofereceu ajuda e escutou:

- Como chego no centro? – perguntou.

- São duas conduções até lá... – respondeu sem entender nada.

Ele meneou a cabeça aos lados, decididamente e mais uma vez disse a si mesmo não ter sorte. Àquela hora, o trânsito de volta deveria estar um inferno...

domingo, 23 de junho de 2013

FOREVER BY YOUR SIDE

Existem momentos duros nessa vida, assim como existem momentos doces como essa melodia. No fundo, bem no fundo, ainda que seja quase invisível, todos desejam a mesma coisa!


sábado, 22 de junho de 2013

ESTEFÂNIO, O ESTABANADO

Há coisas nessa vida que vão além de qualquer explicação. Tentar desvendar o porquê das coisas é inútil, é como tentar achar uma razão para se amar alguém, ama-se e pronto.

Podemos estender isso ás demais coisas nessa vida. Há os que nascem lindos, os que nascem feios, os que são educados, os ogros. Há os delicados, há os atenciosos e há pessoas como Estefânio.

Se a tropeirice – Guimarães que me dê licença – possa definir alguém, esse alguém é Estefânio. O cara nasceu derrubando coisas, chutando outras, quebrando mais algumas. No berçário era o único a perder a chupeta, abrir o berreiro e acordar todos.

Na escola, sempre voltava sujo do suco, da tinta, com o joelho ralado. Foi o único a quebrar o nariz dormindo, além de tudo era sonâmbulo. Talvez a única segurança de mantê-lo ileso dos outros e dele mesmo, além da distância, fosse um isolamento à Hannibal Lecter.

Que a fama de furacão lhe era peculiar, todos sabiam. Agora quando o desastrado colocava em risco a paz do universo, uma interdição deveria ser requisitada.

Estava o homem no metrô, tranquilo no contrafluxo num raio de ação seguro a todos. Mas o que uma inofensiva empadinha de frango com requeijão poderia causar: quase uma guerra civil.

O cara exagerou nas 6 empadas e começou a sentir o efeito delas entre uma estação e outra. O conselho dele mesmo era não levantar, mas existem coisas que fogem aos conselhos e ao controle. Não aguentando mais, esperou, suando frio, pela próxima estação.

Fato é que, se calmo, ele já causaria um terremoto, alucinado seria uma hecatombe. E foi o que aconteceu. Num relance de sorte, havia ninguém entre o banco e a porta do metrô. Numa linha reta, saiu em disparada. Conseguiu, às bicas, se safar de duas velhinhas e uma mulher.

Não se sabe como, conseguiu pedir informação a uma funcionária, que apontou o andar de cima, em busca de um banheiro. Tudo bem que de cara ele escolheu a escada rolante errada e ficou amassando degraus por uns 30 segundos. Mas isso se descarta por causa do desespero.

Quando conseguiu alcançar a escada certa, precipitou-se em desabotoar a longa bermuda para facilitar a respiração, dominar o controle e viabilizar o objetivo. Tudo seria plausível, caso ele fosse normal.

E tudo daria certo, mas é Estefânio no comando. E foi na metade do trajeto, quando o celular tocou e ele soltou a mão direita, a mesma que segurava a bermuda aberta, para atender ao chamado. Escolha errada. A bermuda escorregou e, assim que atingiu o topo, ficou presa entre os degraus. Vergonha alheia. Ele conseguiu se prender na escada, fazê-la parar, derrubar dois dos degraus com o impacto brusco.

Ele ficou preso, a bermuda também. O instinto o fez tentar puxá-la para cima, contornando uma cena dantesca. Estefânio no chão, com a bermuda nas canelas, a mão esquerda na bermuda e a direita com o celular. O lado bom disso tudo: a vontade de ir ao banheiro passou.  

O lado ruim, não havia cueca limpa na gaveta dele naquela manhã...

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A-DO-LE-TÁ - EM QUEM É QUE VOU VOTAR?

Escrevi esse texto em outubro de 2012 e, em virtude de tanta mudança, quem sabe não serve de alento à nova safra indignada. Revisitando...


Importante sempre colocar a cidadania na vida das crianças. Diria Rousseau que para um adulto ser ético, basta que livremos a criança das coisas ruins. O problema é saber se e quando uma raspa desses malefícios encontra os pimpolhos.

Em tempos de eleição, a molecada das primeiras séries, antigo pré-primário, passava por uma lição de civilidade. Amparados pela época das eleições, a professora organizou, durante dois meses, uma simulação do mundo real ao infantil. Havia 3 candidatos, com campanhas, propagandas, santinhos.

Os 90 alunos se mobilizaram para escolher o melhor representante, que teria a foto colocada nas salas, posando com faixa e tudo, até o fim das aulas. Com a supervisão da professora, eles fizeram discursos. Houve quem prometesse ampliar o parquinho, quem prometesse pizza e chocolate nos recreios, quem instaurasse toda semana um dia aos brinquedos etc.

Os pais dos candidatos fizeram a divulgação, seguindo critérios da escola, nada de sujeira, de faixas. E a briga de egos começou.

Cada candidato, por 60 dias, trazia a novidade do concorrente, e os pais usavam de tudo para fazer prevalecer o nome do filho entre todos. Se aparecesse uma propaganda em foto, uma montagem, outro devolvia em DVD. Se a caminhada fosse filmada pelo bairro, outro vídeo do candidato, desde 1 aninho, para sensibilizar os eleitores.

E assim foi até o dia da eleição.

Elaboraram a cabina de votação, separaram mesários, os próprios professores – e a eleição começou, sem boca de urna, sem tumulto, fila organizada. Tudo transcorreu sem atropelos.

Hora da contagem dos votos. Bruninho, Rodriguinho e Sandrinha estavam esperançosos. Prometeram encarar a vitória ou a derrota da mesma forma. “O importante é competir”, repetiram quase que diariamente.

E o resultado foi arrasador, Bruninho, 2 votos – o primo e o vizinho. Rodriguinho, 3 votos, uma família de quadrigêmeos sempre traz alguma vantagem. Sandrinha, 85 votos – um sábado no Hopi Hari é um investimento e tanto.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

CAMILLE OUTRA VEZ!

Costumo postar dicas de bons filmes em meu perfil no Facebook. Em virtude dos acontecimentos que dominam o país e parte do continente, anteontem fui ao cinema, mas preferi nada falar sobre o longa francês a que assisti.

Achei que o coerente e o justo andariam juntos aqui. Coerente pelas manifestações e justo pela dica de uma ótima obra.

CAMILLE REDOUBLE é uma comédia refinada, de bom gosto e inteligente sobre uma mulher que, aos 40 anos, numa noite de 31 de dezembro, depois de se divorciar do grande amor de sua vida – juntos desde a adolescência – desmaia e se vê em 1985.

O sonho de muitos se realiza e se repete nas telas como um clichê doce e por que não idealizado. O mais interessante e inovador na história é que Noémie Lvovsky, excelente por sinal, reaparece naquele ambiente com o mesmo rosto, as mesmas rugas, mas é vista jovem por todos.

Mas interessante ainda são as melhores amigas, que também trazem as mesmas marcas. Refazer o passado, desviar do destino? Não.

Ela apenas começa a vivenciar os dias que antecederam a morte de sua mãe, que morreu no mesmo dia em que quase soube que seria avó.

As músicas, as roupas para quem vivenciou 1985, é um espetáculo delicioso. A magia fica em saber que, seja em qualquer parte do mundo, adolescentes são adolescentes, o ambiente entre eles também, a essência dos anos 80 se torna cada vez mais Cult e nostálgica.

Daí você pode me perguntar: o que diferencia esse longa de DE REPENTE 30, PEGGY SUE e BACK TO THE FUTURE, excelentes referências sobre o assunto? Sinceramente, nada e tudo.

Porque a visão da protagonista não é a de encontrar respostas, senão a de analisar tudo, inclusive o seu relacionamento.

As metáforas sobre decisões e incertezas são tão sutis e tão claras que o espectador chega a dar aquele sorriso de soslaio, como se, ao perceber isso, dividisse a mesma lição que Camille acabou de aprender e de passar.

Um filme delicioso para ser visto com blazer de ombreiras ao som delicioso de 99 LUFTBALLONS, de Nena e WALK ON SUNSHINE, de Katrina And The Waves.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

NÃO É SÓ PELOS 20 CENTAVOS...

- É isso aí, vamos parar São Paulo e começar uma revolução!!!

- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos contra tudo o que está errado!

- Chega de passividade! Chega de pasmaceira!

- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos contra tudo o que está errado!

- Não à violência, não à PEC 37, não aos 20 centavos no transporte público, não ao gasto abusivo na copa!

- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos contra tudo o que está errado!

- Chega de salários faraônicos dos políticos! Chega de regalias! Chega dos baixos salários dos professores da rede pública!

- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos contra tudo o que está errado!

- Vamos cobrar melhorias na saúde, na educação, na segurança!

- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos contra tudo o que está errado!

-Chega de proteção aos motoristas bêbados! Chega de proteção a menores assassinos!

- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos contra tudo o que está errado!

- Um basta aos maus tratos contra os animais! Vamos levantar uma multidão contra o mensalão!

- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos contra tudo o que está errado!

- Chega do desmatamento de nossas florestas! Marchemos amanhã, a partir das 16h, de bandeiras na mão!

- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos contra tudo... Amanhã? Tem jogo do Brasil às 16h...

- 16h? Na casa do Betão?
 
- Sim! Postamos nas redes sociais e compartilhamos!
 
- Fechou!  

terça-feira, 18 de junho de 2013

UM NOVO TEMPO

Quando Gilhermina começou a carreira de atriz recebeu duas incumbências, uma dela mesma e outra do avô materno, também conhecido como pai: ter um nome artístico e continuar com valores sãos.

Nas pequenas peças mambembes, em pontas de filmes para comerciais, em eventos em empresas. Um pouco aqui outro ali, até conseguir um papel de destaque no teatro. Sim. A personagem de assassina correu o Brasil inteiro e adquiriu status de milhões de curtidas em redes sociais.

O sucesso foi tamanho que o nome dela apareceu em forte numa produção cinematográfica, indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro e ganhador de inúmeros prêmios pela América Latina.

A leal amiga do senador que vai preso por desvios de verbas sensibilizou a mídia e a crítica, e o primeiro papel de destaque numa novela global chegava forte. O nome dela apontava como a maior promessa das atrizes nacionais, bem como uma personagem homossexual, com a ousadia de dar o primeiro beijo entre pessoas de mesmo sexo, em rede nacional.

Sinal de alerta à moça de 25 anos. Quando leu as ambiciosas linhas, sabia que havia dois caminhos a seguir, o de ratificação de seu talento e o de volta ao anonimato, guiado pelo avô, que, com certeza, apareceria forte com seus valores e tal.

Consultou a mãe, consultou os irmãos e até a avó, que disseram para que seguisse firme e que fariam de tudo para o avô não saber do fato. Tudo bem que o senhorzinho era apaixonado pela neta. E daí se ele tinha tudo, absolutamente tudo sobre ela. Recortes de entrevistas, todos os comerciais, nem todo fanático consegue ter tudo, não é?

Não, eles conseguem tudo, e o avô, de 89 anos, era louco pela garota que tomou para filha quando o filho morreu naquele acidente de carro.

Contrato de dois anos, mais de 50 mil mensais, publicidade iminente, lentes iminentes, ou seja, tudo o que uma atriz precisa para existir, ela simplesmente não poderia falar não. Ela simplesmente não poderia decepcionar quem mais o incentivou e quem mais odiou MONSTERS.

Fechou os olhos, ponderou e sabia que um amor não acabaria, que o apoio sempre poderia existir, e o contrato estava assinado.

Por provações da vida, a primeira cena que iria ao ar seria essa, uma proposta para atrair pessoas, por mídia e por levantar a bandeira da igualdade entre todos os seres com suas predileções distintas.

4 semanas depois da gravação, o primeiro capítulo foi ao ar. O esquema estava montado. Quando as manias existem, o poder alheio de atrapalhá-las fica mais aceso. Tudo armado. A família em peso para a estreia. E os óculos do avô sumiriam minutos antes. Foi o que aconteceu. Ele chamou pela esposa e pelas lentes, que não apareceram.

Aquele cinismo todo foi ultrajante, surpreendente. Mas não tão surpreendente quando o bom velhinho sacou do bolso novos pares de óculos e clareou a visão. Não havia mais nada a ser feito. Clima tenso. Pensaram em cortar a luz, pensaram em tudo, porém deixaram que o natural seguisse. Afinal de contas, a mentira e a manipulação também estariam fora dos valores sãos dos humanos.

E a cena veio, ainda que em poucos segundos. Entres as quase 20 pessoas na sala, parece que muitos tentaram tampar os olhos como se tampassem a visão do avô, que assistiu à cena quieto, sem dizer uma palavra sequer. No intervalo, ele saca do celular e liga para a neta, que atende inocentemente ao chamado e chora como criança, minutos depois:

- Filha? Finalmente um papel digno! Matar pessoas e ajudar corruptos não tem nada de amor! Estou orgulhoso de você!

E o silêncio se fez, porque nenhuma palavra mais caberia aqui...

 

    

 

 

segunda-feira, 17 de junho de 2013

MI BEMOL AZEDO

Já disse e repito que os clichês só são clichês porque são verdadeiros. Depois que o Rezendão me ensinou isso, tenho de endossar a afirmação cada vez que me pautarei neles para começar um relato.

O famoso “Deus castiga” é a melhor forma de resumir a história a seguir. Eram duas primas e, por enquanto, não classifiquemos quem seria o anjo e quem seria o cão. Estavam numa dessas semanas de feriado ou qualquer coisa que o valha, cada qual com seus 4 aninhos.

Brincavam com suas Fofoletes, quando uma delas resolveu apimentar o lúdico. Foi durante o lanche. Uma delas mastigou bem a pipoca, misturou coma groselha na boca e simulou um vômito magistral, fato que resultou num vômito real da outra, que desandou a chorar, e acabava por entregar um ponto fraco.

E como toda criança é maquiavélica, aquilo se tornou aliado e acabava de separar as duas para sempre. Aos 12 anos, no meio de uma festa de família, a maldosa não teve outra saída, senão – no meio do aniversário do anjinho – aparecer no meio de todos os colegas dela e simular outro vômito.

Resultado, o melhor amigo da boazinha teve a calça infestada de coxinhas e refrigerante. Pior é pensar se realmente a maldosa passou anos, depois de conquistar a confiança da prima, pensando em executar outra obra-prima daquelas.

Naturalmente, elas se afastaram. Nem adolescência, nada. Mantinham um discreto contato, até a maquiavélica se casar. Sim. 13 anos sem se verem, e o convite chegava das mãos dela e do educado noivo. E santo que nasce santo morre santo. A prima boa viu o olhar doce da outra e teve a certeza de que tinha mudado. E tinha mesmo, parecia alguém normal, talvez o amor tenha feito isso a ela.

Cerimônia linda, coral impecável, arranjos únicos, uma noite banhada de elegância e bom gosto. Choro dos padrinhos, até a prima boa chorou, o que era comum e previsível. O abraço entre as primas então foi comovente. A foto ficou maravilhosa.

A música na recepção, então, de um charme poderoso. Ouvir o Daniel Boaventura cantar e trazer um Sinatra ou um Tony Bennett para juntos de todos era um sonho, um sonho. Até o padre estava por lá e embalou as danças, relembrando a juventude com seus ídolos.

Embalou tanto e misturou tanto que não se sentiu muito bem. Correu para o banheiro, entrou e saiu branco. Encontrou-se com a noiva no hall entre os banheiros, estava parado e pálido. A moça correu para ajudá-lo, ele se apoiou nela e deitou.

Estava com a cabeça apoiada no branco do vestido. Tudo rodava. Talvez tenha sido o champanhe, talvez tenha sido a maionese de camarão, talvez tenha sido as frituras, talvez tenha sido as batidas, fato é que o cara teria de colocar tudo isso pra fora, e colocou lá dentro.

Mas o mal-estar prevalecia ainda e de nada adiantou os abanos da noiva. O homem não aguentou, vomitou tudo, tudo. E, por Deus, ele teve o bom senso de rapidamente se levantar e virar o rosto para o lado contrário ao da noiva, que continuou a segurar a mão dele enquanto o jato saía.

E talvez tenha sido também, por Deus, que, segundos antes de isso acontecer, a prima boa foi chamada pela noiva para acudi-los. O coração bom e solícito do anjinho era sempre bem-vindo. Mas em segundos, a roda gigante virou de modo abrupto.

Do jato do padre, ela escapou, mas a prima que chegava segundos antes, agachava-se pra ajudar, teve os sapatos e os joelhos infestados daquele lodo azedo. E, como tudo que vai volta, sobrou para a noiva, que recebeu em cheio, no decote e no rosto, toda injúria e maldade que deu à prima, que também não aguentou e devolveu na nuca do padre.

Pois é, se Deus realmente castiga, e se o que damos recebemos em dobro, o presente veio com azedume e ao som de HELLO DETROIT.  

 

domingo, 16 de junho de 2013

TOM CHAPLIN...

Não é o filho de Charles Chaplin, nem Freddie Mercury, mas mostrou um talento único na bela IT'S HARD LIFE!


sábado, 15 de junho de 2013

O EXORCISMO DE 1993

Geralmente, o primeiro ídolo de uma criança acaba sendo seu pai. Normal o pimpolho olhar pra cima e ver que aquele cara tem poderes fenomenais, que sabe trocar lâmpadas, pneus de carros etc.

Devo confessar que isso não ocorreu no meu caso, não porque o velho Ary não fosse de trocar lâmpadas, acontece que havia alguém muito próximo a mim que acabou sendo meu ídolo por muito tempo. O cara era 4 anos mais velho, tinha e tem irritantes olhos azuis - o que me causou inveja por anos, inteligência aguçada e foi assunto em vários textos aqui em meu blog.

Conheci muitas pessoas brilhantes e que me influenciaram os gostos que tenho nessa vida, mas ninguém tão próximo e que dormisse no quarto ao lado. Marcelo Paciello acabou sendo mais que isso. Cazzo, o cara me apresentou o rock'n'roll, o cara me ensinou a torcer pelo Palmeiras.

E quando falo ensinar a torcer pelo Palmeiras é saber que as derrotas seriam muito doídas, mas, como diria um amigo, "palmeirense sempre é cascudo". Ele dizia, eu aceitava. Ele ensinava, eu falava amém. Poxa, e não era qualquer um, era o Atum, da 8a. série, o melhor goleiro de Handebol de 1983.

O cara que teve o ingresso rasgado pela minha mãe - confesso que isso deve doer muito nele, porque em mim ainda está vivo - de um show do Kiss. O cara que assistiu ao show do Van Halen, em 1983, de perto. Ele merecia meu respeito.

Ouvia seus comentários sobre futebol e música e ia anotando. Aprendendo.  Nunca conheci alguém tão fanático e apaixonado pelo Palmeiras. Eu o vi chorar de alegria, de tristeza. Eu o vi derrubar carros de raiva e provocar tempestades de felicidade.

E agora ele consegue registrar tudo o que vivenciou até hoje, todas as suas paixões num livro, era o que faltava. Não porque é meu irmão e por tudo que representa a mim, mas a obra é fenomenal. Conta os dias de dor, os dias de aprendizado, de crescimento, de redenção até o primeiro grito de "É campeão!".

Naquele dia, 12 de junho de 1993, não pude estar ao lado dos meus irmãos naquela final. fazia parte de uma peça infantil, cuja apresentação era aos sábados e domingos e me podaram de ver quão alucinados eles devem ter ficado. Nós três sofremos juntos por várias vezes, sofremos separados dessa vez.

Olhando para trás, percebo que essas duas paixões, o rock'n'roll e o Palmeiras, foram o principal elo entre os irmãos Paciello. Meu pai deve ver orgulhoso lá do céu os três filhos que teve. E, se foi ele quem ensinou o primogênito a amar o Palmeiras, hoje, especialmente, mais orgulhoso ainda de saber que o Marcelo materializou uma paixão toda em mais de 230 páginas.

Tive a honra de ler tudo antes da publicação. Mais que isso, tive a honra de ver de perto quase tudo o que as linhas trazem. Porém o que mais me dói não foi ter ficado de fora daquele jogo, foi a idiotice de não ter abraçado os dois naquela tarde fria de junho.

Lembro que saí correndo sozinho pelas ruas frias de São Paulo, voltando pra casa, comemorando sozinho aquela alegria inteira. Do metrô, via os fogos, meu time era campeão, eu via isso pela primeira vez e - por uma coisa chamada responsabilidade - tive dessa vez de chorar sozinho.

20 anos depois, eu e meu gêmeo corremos mais uma vez ao nosso professor, se não para comemorar o gol de pênalti do Evair naquela prorrogação, mas para algo ainda maior: Marcelo Paciello, eu o saúdo, parabéns pelo livro!

Você me ensinou que ser palmeirense, decididamente, é muito rock'n'roll!

quinta-feira, 13 de junho de 2013

AUTOPROMOÇÃO

O principal objetivo quando comecei a ter um blog foi me divulgar para alguém que gostasse dos meus textos e quisesse me publicar. Depois de quase 300 textos, decidi colocar o início do meu único livro publicado. Se você se interessar por ele, chama-se GROSELHA & ROCK’N’ROLL e só é vendido no site da editora Protexto, de Curitiba: .www.protexto.com.br.

Rock’n’roll: a primeira influência em minha vida. A primeira namorada, o primeiro casamento, o primeiro e preferido filho. É uma troca de energia, de amor e fidelidade. Sentimentos estes repartidos aos moldes dos instrumentos que batizam tão sublimes toques.

Uma guitarra jamais esbofetearia o parceiro quando este deslizasse a mão pelas curvas sinuosas e lustradas de um corpo tão formoso; jamais a bateria clamará por silêncio, não são como os pais, programados para mandar abaixar o volume do som, nem como as rádios, que tocam o lixo passageiro da moda.

Está sempre lá, um psicólogo, um conselheiro, o único a entender que aquela calça que sua mãe jogara fora estava perfeita; o único que gosta das pontas enormes dos seus cabelos; o único a elogiar as sete camisas pretas semanais; o único a se encantar com o quarto cheio de pôsteres de homens e bandeiras da Inglaterra, enquanto outros escondem as paredes com musas de borracharias. Esse é o rock’n’roll, que cheira à rota sixty-six e tem a aparência do demônio, o mesmo demônio dos anos 50, ingênuo e de extremo bom gosto.

De extremo bom gosto, também, é o clã que invoca os hinos ao satã. De Beatles a Iron Maiden, de Rolling Stones a Black Sabbath, de Elvis Presley a Van Halen, não importa, todos são filhos de Lúcifer, bem como as roupas, os modos e até as opiniões, tudo repugnado pela sociedade que escuta o que a moda permite. Era isso o que eu sabia, era isso o que sempre escutamos.

Olhando agora, percebo ter participado de algo que poderia revolucionar o mundo, algo em que acreditávamos ser uma ideologia intransponível, na qual mortal algum poderia dar um basta definitivo às nossas ideias. Ainda me lembro de tudo o que nos envolveu, das pessoas que cruzaram o nosso caminho e das notas musicais que martelaram em nossos ouvidos; lembro bem das noites de sábado e das tardes de domingo e ainda posso escutar o pipocar dos discos a tremer o vidro fumê de minha casa e também os dos vizinhos.

Pensando bem, analisando friamente, sem qualquer tendência emocional ou paterna: valeu a pena! Faria tudo novamente, sem desfazer as burradas ou as inutilidades. Ainda me recordo dos amores e das mentiras, das aventuras, das tramas e do sabor do descompromisso com a vida. Um tempo em que aula significava tortura; fim-de-semana, a nona maravilha do mundo, depois do rock’n’roll, e família, uma desgraça, uma das pestes que não povoou o Egito.

Parece que estou sendo sugado pela memória e tudo é tão forte, tão presente, que sinto ser puxado para aquela época, para junto de todos eles, para anos passados; e agora, é o som da maturidade que rufa forte em minha vida...

...preferiria que fosse o rock’n’roll.

 

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O MEU AMIGO... EUCIR DE SOUSA

Eucir de Sousa, o Juarez, em (FDP)
Geralmente, damos uma importância enorme quando algo sai como queremos. E quando a surpresa, mesmo aquela que você torce e sabe que não acontecerá acontece, daí tudo ganha mais cor e brilho, sabor e aroma.

O que realmente quero dizer é que o homem cria meios que podem ser maravilhosos e, quando ratificam isso, mesmo que o destino final não tenha sido exatamente ao resultado final, ainda assim merece nossa credibilidade e aquele tom de “isso funciona de verdade”.

No começo de junho, fui assistir à peça de Alessandra Negrini e do espetacular Eucir de Sousa, do seriado (FDP), pela HBO. Confesso que fiquei mais empolgado em ver a peça mais por ele do que pela eterna Engraçadinha.

Mas essas coisas deixei pra confessar agora porque endossa ainda mais essa narração – e outra – agora que muitos amigos meus leram isso, vou ter de me explicar...

Enfim, via peça e o cara realmente vale o espetáculo. Para mim, quando um ator faz papéis que em nada lembram outros que protagonizou (aqui, o Richard Gere e o Francisco Cuoco e até a Alessandra Negrini ficam de fora) ratifica-lhe o talento peculiar.

Voltei e, empolgado com a atuação do mineiro, pesquisei no Facebook e achei o perfil dele. E aqui entra minha explicação de toda a introdução desse post – se as redes sociais aproxima as pessoas, por que não minha mensagem não pode chegar ao cara.

No início do meu blog, em agosto de 2012, escrevi um texto elogiando o então recém-inciado seriado da TV paga – leiam, se quiserem: (FDP), NOSSO APITO AMIGO.

Não tive dúvidas, mandei elogios ao Eucir e, de quebra, um link desse texto. E eis que ontem, sim, ontem, dia 11 de junho, abro minha caixa de mensagens e me deparo com essa resposta: “Que legal, Adriano! Muito obrigado mesmo! Que bom que gostou! Também curti seu texto, grande abraço!!!”.

Vale ressaltar que o texto em itálico foi colado e copiado.

Cazzo, o Eucir respondeu! Sabe aquela cara daquela criança que vê o ídolo e ele acena a ela? Pois é, foi essa cara que fiz. Assisti a todos os episódios da primeira temporada de (FDP) e ria com as aventuras e foras que a personagem Juarez se metia ou dava.

Sim, as redes sociais aproximam pessoas. Fiquei muito satisfeito e feliz com esse retorno dele e com a prontidão e gentileza...

Ok, ok, confesso que mandei uma mensagem à Alessandra Negrini também, quem sabe amanhã ela não me responde... Raios costumam cair duas vezes no mesmo lugar, não é?

terça-feira, 11 de junho de 2013

PASSANDO A PERNA NAS LEIS

A paixão pelo circo e pelo mundo dos palhaços sempre o aproximou do picadeiro. Desde criança, quis se pintar e, principalmente, conseguir andar com as pernas-de-pau. Talvez a vida vista além de todas as cabeças seria muito mais bonita.

Quis o pai e os dias que a carreira de advogado fosse prioridade. Formou-se e assumiu com maestria o escritório do avô. As leis tributárias eram os pratos a serem equilibrados, e, diga-se de passagem, muito bem equilibrados.

Foi então que se encontrou com um curso de palhaço, desses que servem para livrar as pessoas do estresse, desses que servem como terapia. Mas a ele não, era mais do que isso.

Aproveitou bem a chance, e, três vezes por semana, ele e mais 29 tiravam as máscaras de executivos, comerciantes e médicos e assumiam os narizes vermelhos e as traquinagens. E na terceira semana, o sonho. Sim, as pernas-de-pau estavam em seu caminho.

O que demoraria a todos, a ele foi nada. O sonho era seu combustível. Ele montou aquilo como se montasse na própria fantasia. Em duas aulas, já se equilibrava muito bem. A partir da quarta, ganhou caminho, ganhou vida. E o que seriam apenas alguns passos tornou-se em dança, pulos etc.

Estava tão familiarizado com o assunto, que o professor o indicou a uma brincadeira. Um primo inauguraria uma concessionária imensa de uma marca alemã. Haveria de tudo, até mesmo um palhaço com as pernas gigantes. Nem mesmo os 100 reais por 5 horas de trabalho, mais o lanche e o refrigerante tirariam a chance. Sim, ele foi!

Estava lá, e pôde reconhecer dois ou três clientes, com a família, se divertindo com carrões, pipocas e as peripécias daquele palhaço. Divertiu-se duplamente, mas principalmente por não ter sido reconhecido, nem seria.

Dançou, pulou, entreteve o muno. Disseram que dois carros foram fechados por causa do malabarismo eminente. Talvez tenha sido azar, talvez tenha sido distração, talvez tenha sido inexperiência, porque uma hora ela apareceria.

Foi num movimento de balé que, ao içar a perna direita num chute para trás e abrir os braços, a perna de madeira acertou em cheio o queixo de uma doce senhora, que sorria encantada até ser nocauteada.

Burburinho. Correria. Gritos. Sim, a velhinha estava no chão. Ele se virou aflito, tenso. Quis descer o quanto antes de lá, e esse gesto afoito o derrubou. Ele caiu em cima do carrinho de pipoca. Foram ao chão o pipoqueiro, os milhos. As pombas do mágico voaram para o banquete. As crianças voaram para as pipocas. O caos.

Ele ficou sem o lanche, sem o cachê e rezou para que a senhora não tivesse tido algo pior. Mas a sequela maior foi quando, na segunda, ao abrir a porta do escritório, encontrou a mesma senhora, de nariz quebrado e queixo ralado, e tentou dissuadi-la de processar um artista circense. São três horas de conversa e até agora não obteve êxito algum...

 

 

sexta-feira, 7 de junho de 2013

QUANTO VALE A SUA IDEIA?

Em algum outro lugar, em alguma outra época, o dinheiro inexistia. O sistema de compra e venda era incentivado por ideias. Sim, ideias. E nunca numa região houve tantas pessoas criativas.

Era comum vender um quilo de batatas usando ideias alheias. Porém se houvesse um banquete na família, a ideia teria de ser inédita e boa, como o do pai da noiva, que, por 10 quilos de batatas, sugeriu que todas fossem colocadas num saco, o que aumentou a venda em 30%.

Com tantas ideias, o batateiro conseguiu aumentar seu patrimônio.

Ou a história também do farmacêutico, que sugeriu ao curandeiro uma balança para melhor precisão nos gramas das ervas, dizem que o rapaz virou sócio do conselheiro.

E assim, as ideias apareciam e iam alimentando famílias, enriquecendo muitas e deixando os cérebros cada vez mais treinados.

Até que um poeta começou a colocar sua obra no papel e passou a distribuí-la a todos. As pessoas adoraram, pois a nova moeda começou a ser valiosa, justamente porque só os que sabiam ler entendiam o recado usavam o que de mais requintado possuíam por um verso ou uma epopeia inteira.

Dizem que um matemático seguiu a inovação e começou a colocar no papel suas teorias. Outra nova moeda. Podia-se comprar dois pés de alface por uma adição. E como muitos não entendiam isso, surgiu a necessidade de ensiná-los a decifrar tais mistérios. E a primeira escola apareceu.

O avô do menino, que sabia muito do local e das pessoas foi o primeiro professor de História. O apaixonado por rios e afins, o primeiro professor de Geografia. Mentes sendo moldadas. Ideias sendo criadas. E os que não estavam na escola não conseguiam desfrutar de muitas coisas, ficavam com as mesmas ideias e não conseguiam algo mais arriscado.

E o lugar começou a ver a prosperidade em quem conseguia colocar no papel o que pensavam. Surgiram ideias fenomenais, revolucionárias. Houve quem juntou todas as ideias num bloco de papéis, o livro estava criado. Aquele local de produção de ideias tornou-se sagrado.

Crianças, adultos, velhos todos decidiram que somente a escola era a saída a tudo.

Poatz, daí tive de parar com essa fábula, porque o caixa me disse que faltavam 50 centavos, resultado, fiquei sem os dadinhos, de que tanto gosto...

quinta-feira, 6 de junho de 2013

UM SIM AO BOM FALAR

É muito comum para nós brasileiros aprendermos algo para benefício próprio, para algum lucro financeiro. Infelizmente, não temos a ótima mania de nos beneficiarmos pelo menos pelo lado cultural. E isso se reflete até mesmo nas salas de aula. Desde pequenos, aprendemos mais a perguntar: onde, quando e por que vou usar isso?

Antes mesmo de imaginarmos o quanto de ganho tal conhecimento pode causar a nós, para o desenvolvimento de nosso intelecto, que podemos ter um raciocínio melhor na resolução de problemas, tanto os das ciências exatas como os da vida e os das letras. Sim. E é aqui que gostaria de ressaltar. A maioria, para não falar todos os que não estão envolvidos diretamente com o idioma, digo isso, excluindo professores e profissionais que estão envolvidos DIRETAMENTE com o idioma, creem não ser a gramática uma ciência.

Não convém entrar no detalhe-clichê da ineficácia do ensino de nossa língua, mesmo porque não é de hoje, é de sempre. Aprendemos língua portuguesa como uma espécie de memorização. E seria louco se falasse que esta não existe, pois em todos os assuntos do mundo, ela aparece de uma forma ou outra. O pior é quando a memorização permeia todo o ensinamento de nossa gramática. Nos meus 15 anos de experiência como professor e amante do idioma mais lindo do mundo, vejo a realidade das pessoas, a dificuldade delas no aprendizado.

É comum eu ver o olhar de terror e até de certa repulsa pelas aulas de gramática. Não estou levantando a bandeira ufanista de que todos devemos amar a gramática, seria utopia demais de minha parte. Porém há que ressaltar sobre a qualidade das aulas e de como se pode tirar proveito delas. Explico. A língua portuguesa é aplicável no dia a dia. Pensamos em português, falamos em português, lemos em português. Não falo das nomenclaturas, falo dos exemplos práticos.

Muitos alunos encaram a língua portuguesa tal qual um rio quando vê uma pedra, desviam do curso natural! Se é difícil, desistem, exercitar o cérebro para muitos é ruim, dá trabalho. E então vemos mais uma vez: se me for útil, valoroso financeiramente, eu encaro! Se realmente o aprendizado é importante, sendo para desenvolvimento mental, a bagagem cultural de quem realmente quer aprender algo sofre uma mudança nada sensível.

Por outro lado, absurdos na língua provocam um efeito catastrófico. Mesmo que uma pessoa tenha a ciência exata como formação, ela passou pelo português para entender as fórmulas, e ganha a vida falando português, também. Imaginemos uma pessoa pós-doutorada, numa palestra, uma pessoa conceituada; imaginemos que pela boca dela se escute qualquer aberração. Todos os anos de estudo caem. E essa importância que rogo a todos. Valorizar o próprio idioma é uma forma de se valorizar e valorizar o país em que vivemos.

O aprendizado do idioma também é uma forma de estimular o cérebro. Mesmo que eu não saiba por que o menas está errado, se souber que está errado já é um grande caminho. E antes de finalizar meu desabafo (risos), gostaria de ressaltar que o nosso idioma é lindo, está presente cada vez que abrimos a boca, escrevemos e pensamos com ele e se fizermos deste ser o primeiro grande domínio entre todos os outros que se deseja ter, todo aquele que saiba falar o português de modo correto terá nas palavras um aliado e tanto ao sucesso.

 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

JESUS SARAMAGO MERCURY

Talvez nunca entenda essa relação de fã e ídolo. Talvez nunca entenda, porque os que idolatro já estejam mortos. Não sei qual seria a minha reação se encontrasse Cristo, Saramago ou o Mercury.

Por isso prefiro acompanhar de longe e sem julgar os gritos histéricos, as ações impensadas e as inconsequentes insanidades que acontecem por aí.

Quando eu me encontrei com a Marisa Monte, pensei ser de fato um encontro impossível entre fanático e uma deusa, mas não, era mais paixão mesmo do que qualquer outra coisa. Sei disso porque ídolo não perde o título, assim como filho, pai, mãe etc.

Acho de um presente incrível aqueles que têm seus ídolos vivos e puderam ter essa proximidade, nem que seja por segundos, ainda assim ela existiu.

Revirando meus dias de idólatra, o único acontecimento que mais se assemelha a isso foi no show do Queen com o Paul Rodgers em São Paulo, em 2008. Não era o Freddie que estaria lá nem consigo imaginar qual gafe cometeria se lá estivesse.

Lembro que quando soube que viriam e quando soube o dia que começariam a vender, contei dias e horas para tal. Os ingressos começaram a ser vendidos num sábado, às 9h. Eram 9h15 quando consegui falar com o atendente.

Foram os 450 reais mais baratos da minha vida. A sensação de ouvir do cara: “A compra foi concluída, tenha um bom show” – me fez voltar anos e anos, me fez sentir em Jerusalém nos anos 30 ou em Portugal. A diferença que eu chegaria tarde aos dois locais. Essa foi a real sensação, mas, ainda assim, estaria por lá.

Sempre fui ansioso, porém naquele momento decidi não ser. Esqueci que faltavam 4 semanas para o show. E elas vieram rapidamente. Levantei naquela quinta-feira mais tranquilo do que pensava. Dei minha aula e voltei mais calmo do que o previsto.

Cheguei ao Via Funchal sereno e irritantemente relaxado. Passei pela entrada, cheguei à cadeira e me sentei mais sossegado que um monge tibetano e me orgulhei de poder saborear cada momento mágico sem atropelos nem sustos.

Estava a uns 50 metros do palco, na parte de cima do evento. Ao meu lado, vários fãs da banda inglesa, de adolescentes com seus avós a avós com seus filhos.

O ingresso apontava 22h para o início, e eram 22h01, quando as luzes se apagaram e o som começou. Assovios, choros, urros. E eu tremendamente calmo, sorrindo àquilo tudo. Quando as luzes se acenderam, e trouxe para meu campo de visão um Brian May idêntico ao que me acostumei ver desde os meus 10 anos, o autocontrole foi para o espaço.

Escutando HAMMER TO FALL, desabei. Caí em lágrimas, debrucei-me nas minhas mãos e chorei um choro doído por tudo. Por saber que o Freddie poderia ter estado lá, por saber que encontros impossíveis, mesmo que as sombras deles, acontecem.  
 
Não vi mais nada até o fim da música. Chorei por 4 minutos escutando uma voz que não de Farrokh Bulsara, ainda assim era seu nicho que estava lá, ainda assim ele poderia ter estado lá, ainda assim consegui ver o legado da maior voz que já escutei.

Senti que eu havia morrido e, pretensiosamente, eu ressuscitei no 5°minuto e falando o mesmo idioma de José Saramago.