segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

A MESÓCLISE DE CRISTO

Jerusalém, ano 30. Estava Jesus se preparando para o Sermão da Montanha. O fim da tarde era iminente e a introdução de suas palavras deveria ser breve.

- Direi a vós o sermão?! - pensou - Não posso começar com essa frase, preciso de algo com mais impacto! Definitivo!

Enquanto matutava, os fariseus pediam:

- Tem peixe?! Tem peixe?!

Tenso, o Nazareno tentava encontrar a frase certa para dar a boa-nova daquele fim de dia.

- Tem peixe?! Tem peixe?! – urravam os fariseus.

E o Ungido teve uma brilhante ideia. Elevado, até português sabia, decidiu trocar os complementos verbais por pronomes.

- Tiro esse a vóse coloco vos. Substituo o sermão por o: Direi-vos-o?! - odiou - Corto esse s de vose junto com esse pronome, o o se torna lo! Direi-vo-lo?! - a equação se resolveria.

 - Tem peixe?! Tem peixe?!

E foi então que aconteceu. Uma luz divina atingiu o Profeta em cheio. Seus olhos se arregalaram maravilhados. E tomado por uma energia contagiante, parou no topo da montanha, abriu os braços e berrou aos barulhentos:

DIR-VO-LO-EI! – numa mesóclise perfeita, num português que poucos saberiam usar.

E o silêncio se fez. 

A comoção dominou a cena. Fariseus boquiabertos. A bênção do dia começaria a ser dada, mas sem antes um mirrado fariseu levantar a mão no fundo da multidão e perguntar:

- Tem peixe?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

O PACIFICADOR MÍOPE

Histórias sobre óculos sempre são inusitadas, mas a que veremos é mais do que isso, é um brinde à paz.


O ano é 1992. Tínhamos um grupo seleto para ir aos jogos do Palmeiras. Não me lembro se naquele domingo havia mais alguém, mas fato é que eu, Marcelo Paciello, Luciano Paciello e Anderson Menon, vulgo Xu, estávamos na estação de metrô naquela tarde.

Pela insensibilidade da Federação Paulista, Palmeiras e São Paulo jogariam no mesmo dia, no mesmo horário. E fomos os 4 ao jogo já nos moldes costumeiros, anônimos.

Ao chegarmos à plataforma, percebemos uma movimentação grande de palmeirenses. Percebemos também que, de longe havia são-paulinos se aproximando.  O embate seria iminente.

O deslocamento começou a acontecer. Um grupo se juntou e começou a xingar. Em vez de o outro se afastar, não, preferiram retribuir a recepção. E nós torcendo para que o trem chegasse o quanto antes.

Nervos acalorados, tensão acesa, trem chegando.

E chegou antes que os dois grupos se atracassem. Rapidamente, nós 4 entramos e deixamos muitos na plataforma. A porta fechou, mas o trem não saía, e a briga começou, a poucos metros de todos, que se amontoavam nas janelas com olhares tensos, mas curiosos.

Como a plateia era grande, o Marcelo não conseguiu um bom lugar para ver. Não teve dúvida, forçou a porta do trem com as mãos, abrindo-a, enfiou o rosto entre as borrachas e bum! Um rojão estourou por lá. Todos se assustaram, inclusive o meu mais velho, que, num impulso, começou a berrar:

- Meus óculos!!! Meus óculos!!! 

De pronto, o Xu, que estava perto da porta, deu murro no compartimento de plástico e acionou o botão de alarme. Imediatamente a porta se abriu e o escandaloso do Marcelo saiu berrando:

- Meus óculos!!! Meus óculos!!!

E o bizarro aconteceu. Quando você menos espera, o milagre se faz. Aquele alemão, vermelho de berrar, com os olhos azuis arregalados berrando conseguiu o impossível. 

A briga parou.

Todos se sensibilizaram com os urros do meu irmão. Deu até para ver um palmeirense enforcando um são-paulino com a direita e socando o rosto dele com a esquerda parar o ato e perguntar se o Marcelo estava bem. 

Até mesmo o surrado se preocupou. A briga tinha cedido. Marcelo Paciello, o pacificador da tarde. O trem partiu. Funcionários do metrô chegaram. Interditaram a estação e pescaram a armação dos trilhos. Uma lente sumiu, mas a outra estava lá. 

Fomos ao jogo e tivemos de ouvir o caolho do meu irmão reclamar que não conseguia assistir direito ao jogo por conta de uma lente só. 

Não sabemos se a briga recomeçou, só tivemos a certeza de que Marcelo Paciello igualou-se a Pelé, também parando uma guerra. 

E, naquela tarde, o palestrino endossou e fez jus ao ditado popular: quem tem um olho é rei.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

O DESCUMPRIDOR DE PROMESSAS

Nascido de uma promessa, Antenor tinha em seus genes a coerência de um espólio peculiar. Nasceu católico, cresceu católico e viu um mar de promessas diante de seus olhos como nenhum outro ser humano deste mundo. Tias, avós, primos, todos envoltos em um compromisso com santos de toda cúria, de todo o firmamento.

As preferidas eram por curas e por empregos. Tinha promessa pra engravidar, pra campeonato, pra venda de terreno, até pra sobriedade. Batata! A família tinha assumido um carnê com os santos, pagos mensal e religiosamente. Tinham acordado entre si que os elos da corrente jamais se quebrariam. O menino se acostumou aos milagres. Até mesmo São Longuinho, o estagiário dos santos, dava as caras por lá, sempre eficiente, mas sem efetivação aparente.

Antenor não tinha tanta pretensão assim, mas foi na 7ª série, quando uma nota vermelha em matemática apareceu, que a mãe sugeriu que ele enfiasse a cara nos livros e uma promessa a São Judas Tadeu. Foi o que ele fez. Em troca de uma boa nota, um ano sem comer chocolate. Qual não foi a alegria de uma nota 8 e qual não foi o desespero da mãe: "Não existe São Judas Iscariotes!!!". 

E o garoto plantou uma crise entre todos. Seria o tesoureiro um santo? Teria o traidor agido de modo escuso? Fato é que o acordo se cumpriu, mas - pelo bem comum e pela sábia avó maternas, com seus 88 anos - julgaram melhor que a promessa não fosse cumprida, e Antenor ficou entre a tensão de sua indigna palavra e a tentação dos bombons. Preferiu a conveniência e se entupiu deles sem remorso.

O acordo não foi cumprido e a vida seguiu. Todos esqueceram a heresia e ninguém morreu. Quando completou 18 anos e o vestibular se sentou ao seu lado, a mãe não teve dúvidas, incutiu São Judas Tadeu - 'TADEU!!!"- repetiu em letras garrafais para que o despacho católico não ganhasse mais uma vez uma via errada. 

Um rosário foi formado na família. Vieram as tias e quem mais estivesse disponível, e o menino saiu pro exame com duas certezas: o chocolate e Iscariotes, era supersticioso demais - graças à devoção dos seus - para quebrar suas promessas. Fez suas orações, seus acordos e bingo: na primeira lista! Festa e chocolates escondidos com louvor.

Agora era a vez do emprego. A multinacional requeria algo bem mais ousado, e Santa Rita de Cássia era apresentada ao rapaz, que a olhou de cima a baixo e não teve uma empatia intensa, principalmente pela promessa sugerida: sua castidade. Ora, diria o pai, um adolescente se vira muito bem em um ano. E mais vale um bom salário do que um belo par de coxas.

Não, decididamente não. Ficou Antenor com suas crenças e Iscariotes não o trairia, diferentemente do requerente. O RH apareceu junto a uma caixa de chocolates importados. E a doçura se fez presente, fosse com cacau, fosse sem lingeries. O cargo o fez livre. Aos 24 anos, tinha mais do que imaginou. 

E foi nessa soberba que se perdeu e, numa manhã de sábado, a campainha tocou e Maria, uma moça de cabelos curtos e olhos profundos, sorria à porta, perguntando sobre Antenor, que não lhe atendia as ligações e que seria pai em 8 meses, caindo na desgraça familiar.

Julgou que Iscariotes tinha escolhido o melhor momento para cobrar o que lhe era devido e lhe desmascarar a canalhice e a falta de dignidade usando uma genialidade inoportuna: sua excomungação e sua queda. 

Antenor, então, se lembrou de Santa Rita e, dessa vez, afogou seu parceiro no inferno e, com todas as suas forças, pediu que um milagre acontecesse, em troca, esqueceria - e por 2 anos - dos chocolates, das coxas e de qualquer momento de prazer. Seria um celibatário por natureza, um ermitão.

E pôde se redimir com honestidade, humilhando-se em sua soberba e principalmente em sua desobediência. A gravidez não seguiu adiante e o rapaz tinha seus quase 800 dias de uma nova vida, sem graça, sem emoção e com testes diários à sua dignidade.

6 meses depois, percebeu que fora a melhor promessa de sua vida. Encontrou-se. Sua serenidade o pôs feliz, porque percebeu que muitas futilidades mundanas eram efêmeras. Nunca dormiu tão bem. Nunca teve tanta paz e apaixonou-se pelo isolamento. Realmente era o momento mais feliz de sua vida e encontrou prazer em tudo que rechaçou por anos. 

Foi então que percebeu que sua promessa estava, mais uma vez sendo quebrada, porque havia decidido se afastar de tudo que lhe desse prazer. De certa forma, fez jus a um legado que jurou defender até o fim de seus dias. Travou numa manhã a caminho do trabalho. De repente, ele parou no meio da calçada, entre o vaivém frenético das pessoas que não tinham tempo nem o privilégio de travar.

Estava ainda parado, sendo desviado, sendo xingado. Quando se deu conta, percebeu que, do outro lado da rua, havia uma brigadeiria insinuante e lasciva. Era a resposta que precisava, porque precisava de um enorme e suculento brigadeiro. Sorriu e atravessou a rua confiante. Seria seu melhor deleite em meses, não fosse uma kombi desavisada colocá-lo violentamente no chão. 

A manhã estava interrompida, não apenas por uma freira estar no volante, mas principalmente pela consequência do atropelamento. Qualquer um teria morrido, no entanto quem presenciou o evento diria ser impossível alguém se levantar depois daquele acidente. 

Disseram também que certamente foi um milagre justificável, por a motorista ser uma carmelita. O rapaz se levantou com a ajuda de sua algoz e seguiu sua vida sem traumas nem cortes, porém com uma certeza que guardaria no fundo de sua alma: Santa Rita de Cássia era sim tão rancorosa quanto Judas Iscariotes. 

    

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

O FESTIVAL DA DESILUSÃO

Quando vi a entrevista que Woody Allen deu a Pedro Bial, em 2021, minhas expectativas referentes ao nada simpático e encantador roteirista e diretor se ratificaram de uma maneira triste. Vi um homem desiludido com tudo e todos - em tempos de pandemia. 

O olhar melancólico sobre o mundo, as piadas ressabiadas, com o humor desconfiado e tudo mais tinham de soar coerentes à visão que o americano sempre deu às situações diversas da vida.

Allen falou das saudades que sentia em ver a Nova Iorque que tão maravilhosamente sabe explorar em seus longas e isso foi, talvez, uma das distâncias que o forçaram a filmar na Espanha o seu último trabalho, além, claro, da beleza de San Sebastián, aliás uma ratificação do bom gosto de Woody para cidades. 

Reitero agora que toda a coerência monstruosa e sem metáforas descritas no parágrafo acima se repetiram com força em Mort, protagonista de "Rifikin"s Festival", o 50ª obra do diretor.

Woody Allen é como McDonald's, você sabe o que vai encontrar e é exatamente isso que você quer ver. A diferença é que nesse longa muitos outros filmes podem ser revistos aqui. Um professor de cinema insatisfeito com a sua carreira e com as novidades cinematográficas acompanha a esposa ao festival de cinema em San Sebastián. 

Com o casamento por um fio e desconfiado que ela o trai com um diretor francês, ele se deixa levar pelos atrativos da cidade e se apaixona, claro, por uma mulher mais nova.

Se você conhece bem o trabalho do diretor americano, certamente vai dizer: "Epa, mas eu já vi algo parecido em algum outro filme dele!". Sim, viu em MEIA-NOITE EM PARIS, em UM DIA DE CHUVA EM NOVA IORQUE, em TODOS DIZEM EU TE AMO, em TUDO PODE DAR CERTO e por aí vai - e tudo bem. 

Marcas registradas de roteiristas e/ou diretores são comuns. No entanto as semelhanças aqui ficam muito mais que evidentes, aparecem já sem força e provavelmente sem nenhum ardil em esconder as próprias fontes de criação.

Mas existe aqui uma confissão do diretor, o seu desânimo descarado com tudo. Os recentes cancelamentos que sofreu pelas especulações (ou não) de assédio e a batida história de seu casamento com a filha adotiva mais do que suscitam controvérsias e divergem opiniões. Ele passou a ser seu próprio holofote. E, quando se vê um protagonista desiludido com o cinema, não se pode negar que seu cansaço também está ali. 

De todos os personagens principais de seus filmes, nunca um foi tão longe de si mesmo. Seus alteregos apareciam sem nenhum esforço de esconder o diretor. Você não via os autores, você vi Woody ali, reclamando, ironizando e se lamentando. 

Neste último trabalho não. Talvez tenha chegado a hora de se desvencilhar de mas linhas, de suas palavras para tentar entender ou aceitar a sua dor ou se despedir da ficção com esse peso, com esse pesar. Me convém pensar que a escolha de Wallace Shawn reforça esse tom morno e pouco carismático que o diretor tem na vida real: uma confissão e tanto.

Então, leitor, você pode concluir que eu não indicaria o filme! Não, muito pelo contrário, indicadíssimo. Não quis falar mais sobre porque ele merece ser visto, porque tudo o que Woody Allen faz tem seu valor grandioso, para o bem do cinema, para o bem da arte e contra toda a mesmice que desfila por aí, porque existem desânimos bem talentosos neste mundo.



quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

UMA VIDA BOA


Dizem que existe um determinado momento da vida que nada mais pode acontecer, mas nunca legitimam o momento exato para que o fim seja decretado. Como se existisse um dono de tempo, com seu relógio a marcar os derradeiros segundos e decretar o inevitável fim de tudo ainda em vida. E o velho creu nisso. Seus 82 anos realmente não poderiam inspirar longevos projetos, no entanto limitar seus passos e sonhos a idas ao mercado ou à farmácia e vibrar com cada noite bem dormida era sim um espólio do nada.


Já havia perdido a conta de quando começou com sua rotina diária, manjada e sem gosto. Também não poderia negar quando entrou nesse modo morno e morto de se limitar a a respirar, piscar e outras conquistas impostas aos senis. Não fossem os lindos arcos-íris, que vinham a cada 6 meses, suas horas seriam do passado, que também não traziam tanta recordação. Sua vida morna e cotidiana não lhe deu aventuras amorosas, filhos ou amigos. Chegou a alimentar um gato, que logo sumiu porque percebeu que a morte estava por lá como uma doença incurável. E o velho não sentiu sua falta, pois não sabia o que era saudade, não teve o talento para desenvolver tal habilidade.

Mas - depois que um novo bistrô apareceu nas redondezas, com a magia que só a Belle Époque poderia ter - algo mudou. E mudaria qualquer pessoa. As cortinas brancas, as janelas pequenas de madeira, as rendas surpreendentes, a bicicleta estilosa, o cestinho com flores, os postes, as luzes amarelas, o perfume. O velho teve um baque como nunca. Desistiu de se intrigar como aquilo tudo surgiu do nada, pois aquilo só endossaria sua indiferença à vida. Sensatez que aparece mesmo aos mornos, porque não se pode fugir a ela quando se vive muito.

Nada sabia de Paris, nada sabia de quase nada, além do domínio público. Mas era o aroma, era o acordeão, as cores. Por dias, arranjava motivos para colocar o pé na rua e passar por lá, Não tentou juntar as letras, pois não era dado a frustrações. Nem precisava, o que seu peito mandava era um alfabeto de alegria. Ficava na esquina à espreita. Via casais, solteiros, pessoas ali sentadas com seus cafés, suas eclaires. Sorriam como se ali fosse uma anestesia à realidade. 

Era comum ele ficar horas por ali. Aquele ambiente inteiro era seu mundo. Pela primeira vez em sua vida, tinha algum incentivo para sair de casa sem um protocolo à sobrevivência. Mentira. Aquilo era mais do que ar, mais do que água ou comida, era a razão para celebrar uma vida toda. Adorava ver tudo iluminado e esperava a noite chegar e tudo ficava ainda mais vivo, mais necessário.

Quando voltava pra casa, ensaiava como fazer para sorver tudo aquilo. Tomaria o espresso grande e comeria todos os macaroons, mas não tinha certeza se era essa a palavra, porque não conseguia ler direito os lábios. Ficava observando a vida ali por horas e ensaiava em casa como tudo seria. Do mesmo jeito que se perdeu no nada, meses se passaram nesse desejo, nessa obsessão. Até que um arco-íris cruzou o céu de um modo diferente naquele fim de tarde de verão e ele entendeu que estava pronto.

Na manhã seguinte, o velho não saiu pra rua. Banhou-se como nunca se banhou. Barbeou-se como se fosse roçar a pele de um amor impossível. Pôs seu melhor suéter, desenterrou uma boina mofada e sorriu no espelho, provavelmente pela primeira vez. Estava feliz. Os passos que os levariam até lá nunca foram tão desafiadores. As mãos suavam. As pernas tremiam e o coração rebatia com força. O bistrô estava ali, mas lindo do que nunca. Parecia cintilar a mesma felicidade do velho. 

Ele escolheu a mesa da janela, sua preferida e saberia como seria a visão de lá. A menina sorriu, ele devolveu o gracejo e seguiu poderoso até o canto, que ficava perto da parede de tijolos e um quadro indecifrável ainda. O velho sentou orgulhoso, olhou ao redor e quis que todos o vissem e se cumprimentou e se gabou. Vibrou com a certeza de ter acertado o nome do seu petit four favorito. Pediu meia dúzia e um espresso grande. 

A música estava mais colorida, a vida estava melhor e o velho esticou o olhar para a esquina onde tanto ficou e acenou para um passado de medo. Não se reconheceu mais, principalmente quando a moça deixou o pedido à sua frente. Uma explosão de sabor e de euforia eclodiu em sua boca. de repente, tudo fazia sentido, mesmo sem entender quais seriam as melhores palavras para explanar tal significado. Mordeu delicadamente cada macaroon, como se não quisesse machucá-los e os engoliu como quem abraça a si mesmo. Decididamente foi o momento mais feliz de sua vida, o único.

Saiu de lá pisando um sonho. Euforia. Precisava ver sua expressão antes de dormir e se viu menino, com um brilho intenso. Estava pronto, revigorado. Sabia que aquela noite era um marco. A partir de então, escolheu que todos os dias seriam aquele momento. Pausaria a vida nas horas que o receberam com alegria. Deitou sorrindo e dormiu a melhor noite de sua vida. Estava tão radiante que, na manhã seguinte, o gatinho havia voltado e ficou miando em sua janela, pedindo um afago ou provavelmente apenas para saudar-lhe a ousadia. A janela não se abriu nem se abriria, porque os dias por ali haviam terminado e o fizeram com sabedoria e no
auge.