terça-feira, 20 de outubro de 2015

COMO SUA VIDA É?

Diziam que a garota era diferente. Que corria em círculos e pensando para saber se as ideias se chocavam. Que gostava de olhar o arco-íris refletindo no rio, imaginando que as águas sorriam para ela. Que andava pela rua ouvindo música, protagonizando a abertura do próprio filme.

Mas até provar se isso mesmo era fato, todos deixavam de sonhar.

Diziam que a garota amava caminhar pelas alamedas em dias cinza só para realçar a cor das árvores. Diziam que ela amava ficar no inverno em praças com galhos secos e pendurar maçãs, só para sentir o gosto das cores rubras.

Mas até provar se isso mesmo era fato, todos deixavam de sonhar.

Diziam que a garota, enquanto fazia compras no supermercado, se imaginava colhendo flores, que enquanto estava só em casa, afastava os móveis, colocava a música preferida e fazia um show a milhões, sempre com bis. Diziam que ela tentava entender as pessoas apenas pelo olhar.

Mas até provar se isso mesmo era fato, todos deixavam de sonhar.

Diziam que a garota era todo sorrisos, que ninguém jamais a vira chorar e que sua alegria não ofendia, contagiava. Diziam que, quando viajava, fazia questão de se perder entre a cultura do local e os costumes, como os olhos que perdem a linha de um bom livro, ou a boca que busca aquele amendoim misturado ao sorvete.

Mas até provar se isso mesmo era fato, todos deixavam de sonhar.

Diziam que a garota um dia sumiu. Que, se realmente tudo que fizera fosse fato, não passariam de besteiras, porque - para sonhar - precisa de coragem e, para ter coragem, não se pode impor limites, tem que se lamber a última página do livro e ler tudo o que passa pela sua vida.

Mas até provar se isso mesmo era fato, todos deixavam de tentar.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

OUTONO... (vá até o fim, clique na música e leia o texto com ela)

Não era a luz nem o local. Não era o clima nem o ambiente. Era tristeza mesmo. Aquela melancolia aguda que arde o peito e que nos faz tremer, desejando que nos tire de lá a qualquer momento.

Estava sozinho no casamento do melhor amigo. Tentou disfarçar a solidão, mas chega aquele momento em que cada um segue com seu par. Ele respirou fundo encarou o vazio do seu lado esticou a mão ao nada e saiu para o jardim com ninguém.

A música estava longe, muito longe, e aquele fim de tarde de outono era um convite a tudo, menos à tristeza. E ele conseguia sentir-se só. Tentou chorar para desafogar o peito, mas nem isso conseguiu, além de cabisbaixo achou-se inútil.

Deve ter ficado minutos olhando o champanhe borbulhar, percebeu-se contando cada estouro dela e quase sorriu quando enfiou o nariz no copo para tentar sentir cócegas.

Viu que aquilo não funcionou. Estava disposto a entrar, despedir-se do amigo e seguir a um lugar qualquer. Pôs o pé no salão de volta e a música tocou. Fechou os olhos e se viu em um local aconchegante e seguro.

Talvez tenha sido a música, talvez tenha sido o cheiro do bolo. Ou talvez tenha sido aquela moça. Não, não se parecia com a ideal nem chegava perto do que imaginava para si, porém fez o que deveria ter feito.

Aproximou-se, sorriu o mais sincero dos sorrisos, estendeu a mão. Ela retribuiu sorrindo e eles dançaram até a última nota.

Não perguntou o nome dela, entretanto soube que, às vezes, uma dança pode colocar ao menos a melancolia sentada, à espera também de um outro par.