sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O DIA EM QUE NÃO ESCUTEI O MEU PAI!

Aos 23 anos, já estava entregue às letras, estava no segundo ano da faculdade, era pago para criar materiais didáticos e já me dedicava ao meu quarto livro.

Minha professora de Redação sabia de minha predileção a histórias e criações e me convidou a participar de um concurso literário, premiação: publicação do livro e uma viagem à Europa. Regulamento: 50 páginas – e eu tinha apenas três meses.

Trabalhava das 8h às 18h e estudava até 23h. Sobravam as horas de sono para me dedicar à criação, que foi dividida em duas partes: redigia de madrugada e, no dia seguinte – uma hora antes – passava tudo ao computador do trabalho, salvando o livro num saudoso disquete.

1h da manhã de uma quinta-feira. Escrevendo na cozinha, meu pai aparece, voz de travesseiro, e fica indignado com minha justificativa para estar acordado àquela hora:

Prêmio Teresa Martin, 1998
- Filho, deixa disso, vai dormir, amanhã você trabalha... Esse passatempo pode ser feito num sábado...

Razão falando alto, mas nem sempre somos obedientes. Encurtando, dois dias antes do término do concurso, mandei 3 originais, como de praxe.

8 meses depois, o telefone toca em minha mesa. Eram 14h, de um dia de julho de 1998: entre 400 candidatos, por unanimidade, ganhei a publicação do livro e a viagem à Europa!

Graças ao meu pai, ganhei uma força a mais pra escrever. E, pelo sarcasmo dessa vida, era a voz dele que estava do outro lado da linha.


quinta-feira, 30 de agosto de 2012

(FDP) - O NOSSO APITO AMIGO

Todo domingo, às 20h30
Aquela frase “por que não pensei nisso antes?” engloba bem a nova série brasileira produzida pela HBO, (FDP).

A produção traz a história de um árbitro de futebol, Juarez Gomes (Eucir de Souza), cujo sonho de apitar a final de uma Copa do Mundo permeará todo o suspense.

Em um país como Brasil, seria normal a arte baseada na paixão pelo futebol, mas filmes baseados nele não têm tanta tradição como em outros países.

Até em nossas competentes novelas – como em VEREDA TROPICAL, de 1984, em que Mário Gomes protagonizava Luca, centroavante que acaba jogando no Corinthians - pouco ou nada foi abordado.

Ao que me parece, este tabu acaba de ser quebrado.

Assisti ao primeiro episódio – ao todo são 13 - o roteiro é muito benfeito e humaniza a protagonista, odiada, mundialmente, muitas vezes até pela mãe.

A primeira cena mostra uma suposta decisão de mundial, em que os jogadores, ao apito final, param para aplaudir o árbitro.

Poxa, depois disso, não precisaria de mais talento e criatividade ao longo da trama. Porém, o belo espetáculo acaba endossando competentemente o audacioso início.

Em tempos de Copa 2014 e na falta de filmes a respeito, (FDP) aparece para agregar quem gosta ou não de futebol e, pelo horário - domingos, às 20h30, pela HBO – até para amenizar um mal resultado do seu time.

Regra 3 ao preconceito contra os árbitros e contra a produção nacional, que já deixou a série B há tempos!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

QUAL É O SEU COLÍRIO?


Dizer que as linhas dos roteiristas não fazem sombra às dos escritores é quase uma unanimidade, agora saber que as linhas dos roteiristas atuais não se comparam às dos mais antigos já é uma tendência.

Dias atrás, assisti a uma nova versão do fantástico Dumas com seus 3 mosqueteiros. A obra - que já foi honestamente filmada e brilhantemente protagonizada, entre outras, em duas ocasiões, uma pelo excelente trio Gerard Depardieu, Gabriel Byrne e Jeremy Irons e outra, pela Disney, com Oliver Platt, Charlie Sheen e Kiefer Sutherland – recebe agora uma estúpida e colorida versão apenas com o magnífico Christoph Waltz.

Um Matrix absurdo numa França futurista de séculos passados, se é que isso é possível – com engenhocas maravilhosas até para os dias de hoje – endossa a expressão “quer que eu desenhe para você entender?”. Sim. O filme é um exemplo típico de que a falta de leitura resulta numa explosão de poluição visual, de cores e de entretenimento previsível.

Não me espantaria se a juventude preferisse vê-lo dublado, para não perder a bela Milla Jovovich em ação ou porque as letras das legendas fossem rápidas demais, deixando-o complexo.
 
Entretanto o espanto de Alexandre Dumas, com a prostituição de seu clássico, não seria maior ao revelar que paguei 9 reais para engolir um sapo francês falando inglês.
 
C'est la vie...

 

 

sábado, 25 de agosto de 2012

SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO

No fim dos anos 80, apareceu em minhas mãos AMOR, de Léo Buscaglia, livro que, entre tantas mensagens, trazia também a história de um vilarejo que se acabou em chamas numa noite de verão.

Diziam que as pessoas se esforçavam para salvar o que de mais valioso possuíam. Televisões, máquinas de lavar e geladeiras se amontoavam, para alívio quase geral.

Apenas 3 ou mais pessoas conseguiriam salvar todos os livros. O narrador endossou que ninguém sabia quem eram, pois a fuligem e as queimaduras desfiguraram os rostos desse pequeno grupo.

O que isso teria a ver comigo?

Em meados dos anos 90, eu trabalhava numa empresa multinacional – uma franquia educacional japonesa -  criando materiais didáticos. Lembro que tive de ceder a eles mais de 1200 histórias. Foram 3 livros de alfabetização e o último sobre análises literárias. De Albert Camus a Ziraldo, essas 4 produções me custaram 6 anos mergulhado em clássicos mundiais e em mais de 2.000 livros infantis.
 
E, hoje, 16 anos depois - saber que mais de 40 mil crianças se alfabetizaram pelas minhas letras e concluíram o curso lendo Gil Vicente, Cervantes, Shakespeare, Rousseau, Vergílio - posso me dar conta das doces cicatrizes que as chamas me deixaram naquela noite quente e inesquecível.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

PRIMEIRA ESTAÇÃO

Há tempos que as letras entraram na minha vida. Tanto assim que não me lembro do exato momento em que isso aconteceu. Primeiro na forma dos livros alheios, depois na forma dos meus.

E após dezenas de livros, centenas de histórias e de palavras e letras a perder de vista - quando tudo pareceria estagnado - vem a internet, com sua democracia a denunciar o que se desejar.

E já que se expor está em voga e expor as ideias mais ainda, por que não abrir meu mundo, por que não deixar o tapete à mostra, por que não encontrar a chave dourada?