terça-feira, 2 de agosto de 2016

BASTIÃO, O TAXISTA SUINGUEIRO


Bastião era taxista. E, naquela tarde de segunda-feira, um casal animado entraria em seu carro rumo a um destino inusitado: “Ao motel mais próximo, por favor”. Tudo bem que ruas, alamedas e avenidas faziam parte de seu itinerário diariamente, mas os locais que as margeavam não lhe eram de domínio.


A sinceridade falou mais alto e disse que o que conhecia  ficava a 15 km de lá, cujo dono, compadre de anos, sempre recomendou para que o taxista e a esposa aparecessem por lá. “Sem problemas”. O tesão faz isso, ele concordou. Com o trânsito pouco lento, 50 reais de corrida seriam bem-vindos, porém a pouca castidade e exibição no banco traseiro foram mais convidativas.

Pisou fundo e, em exatos 30 minutos – longos, por sinal, a Fonte dos Prazeres aparecia linda na frente de ambos. Ele parou na recepção, teve de intermediar a suíte, piscou para a menina - filha do amigo - passou os documentos, levou-os até o 45 e saiu. 

O trajeto de volta serviu como sorriso. Aquilo seria uma história e tanto para amigos. 40 minutos depois, estava de volta ao ponto, mal estacionou e uma outra mulher entrou esbaforida em seu carro, dizendo: “O senhor acabou de levar um casal há pouco, não?”

A descrição era exata do rapaz.

- Ele é meu marido! Quero saber aonde o senhor os levou e me leve até lá, agora!

Poucos segundos separaram o não do sim. 300 reais estavam em suas mãos antes de sair em disparada. A moça chorava copiosamente. Bastião, com anos de prática, pelo caminho tentou acalmá-la. Disse que abriria mão da corrida pela paz dela. Mas a moça estava irredutível.

1 hora depois, chegavam ao local. Teve de escolher um quarto, deixou ambas identidades na recepção – piscou de novo para a menina - e teve de parar em frente ao 45. Rezando para que ela sumisse dali e ele também. Daí então, mais 300 reais apareceram na sua mão: “Espere aqui, por favor, não demoro”.

600 reais valeriam aquele constrangimento? Sim, com certeza. Tentou fazer o papel de expectador. Em 25 minutos, não se sabe como, ambos saíram de lá. Sim, o casal no papel. E pior, entre sorrisos e afagos. Como assim???

Saíram os três e deixaram a moça lá. Quase uma hora depois, deixava os dois no apartamento. Durante o caminho, ele teve de se segurar para perguntar o porquê daquilo tudo. E a moça, coitada? Ficou lá. Sem casal, sem carona, nada. Para endossar a cumplicidade, mais 400 reais apareceram na suas mãos.

Três corridas por 1050 reais? Mas isso não comprou a paz dele. Antes mesmo de pensar, voltou ao motel. E, qual não foi sua surpresa, ao ver a esposa lá, parada em frente ao local. A filha, que contou pro pai, que contou pra esposa, que bateu as notícias para a comadre. 

As notícias correm rápido, quem explicaria um suingue do sonso Bastião com pessoas descoladas. A moça largada já havia ido embora.

E tudo acabou bem, porque os mais de mil reais serviram para comprar a paz da esposa, que exigiu um jantar romântico no melhor restaurante da cidade e toda uma produção a isso. A noite terminou muito linda e fogosa. Claro, no motel Fonte dos Prazeres, cortesia do compadre, mas não na suíte 45, que estava ocupada no momento.