sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

UM 2019 SEM "PELO MENOS"

Clichê fazer uma análise do ano em cada 31 de dezembro. Como os clichês são verdadeiros, vou endossá-los por aqui, desejando que em 2019 um termo suma de seus dias, o "pelo menos". Ele se equivale ao "tudo bem" ao "sem problemas". Esses pares de palavras me parecem perigosos e, muitas vezes, e por nossa culpa, inevitáveis.

Então você está em um emprego que não lhe dá o prazer necessário nem tem um salário condizente. Você não se vê útil ocupando suas 40 horas semanais e odeia sair da cama todas as manhãs. Ah, mas "pelo menos" eu pago minhas contas...

Então você está em um relacionamento há 5 anos. Tudo bem que ele está morno e que vocês já não troquem mensagens tão íntimas ou saiam para um jantar romântico, mas "pelo menos" você sabe que ele ou ela não tem vícios e vem de família boa...

Então você tem amigos que sempre estão por perto nas horas mais tristes. Que sempre pode contar com todos quando precisar de um apoio, mas que nunca vibram com suas alegrias nem estão perto quando suas conquistas estão. Ah, "pelo menos" você os conhece desde a infância...

Enfim desejo um amor próprio infinito a você e uma autoestima que o contagie tanto que suas escolhas, a partir de 2019, sejam as corretas...

Ame-se mais, "pelo menos" uma vez ao dia... 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

BEIJE MAIS EM 2019

Se pudesse desejar uma coisa a todos que estão nessa empreitada de 2019, desejaria amor, muito amor.

Já diria um talentoso inglês, assassinado em Nova Iorque em 1980, que o mundo só precisa de amor, e é verdade.

Onde há amor, há tudo, há paz, há compreensão, tolerância e sorrisos.

E um sorriso genuíno é o protocolo da alegria, assim como o beijo é o protocolo do amor. Beijar, ah, beijar.

Tudo começa e tudo termina no beijo.

Não há intimidade melhor, não há segredos selados, não há mistérios indissolúveis que resistam a um beijo de amor.

Um beijo apaixonado é como Paris na primavera, é como uma lambida num sorvete de chocolate é como um ponto vermelho numa paisagem cinza.

Um beijo apaixonado é querer vestir-se da outra pessoa, é o frio na barriga, é o calor no peito, tudo ao mesmo tempo, é Camões na poesia, é Vinícius em Ipanema.

Todos deveriam sofrer de um beijo apaixonado, sim. Passariam horas no dia seguinte se lembrando de cada momento, o exato segundo em que tudo começou e dar uma pausa eterna no meio do dia.

Então se chega à conclusão de que o beijo apaixonado é o sorriso da vida, é a insônia desejada.

Fica aqui o meu desejo a todos neste mundo, de que as noites de 2019 possam ser testemunhas de suas lembranças, que olhos se fechem aos beijos mais passionais e que te levem a qualquer esquina... De Paris.



segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

O CORO DE NATAL


Não era o natal a melhor época da sua vida, culpa do pai, que amava dezembro e decidiu partir num janeiro para não estragar seu mês favorito. Desde então, pouca coisa restava a ele nos meses de festa. Ignorava as luzes, mal olhava aos enfeites e preferia fugir dos protocolos.


Até que naquele ano, pisando as ruas do centro da cidade, quando comprara um cachorro-quente e avistava um coreto e percebendo uma movimentação diferente por ali. Havia luzes sendo ajustadas, dez ou mais microfones posicionados a quase três metros do chão e duas dezenas de pessoas de mesma vestimenta por ali.

Estava claro que era um coral. Sim, um daqueles que emocionariam até um ateu e faria dele um homem de fé religiosa, a embalar com lágrimas nos olhos as melodias e as mensagens delas por alguns minutos de sua vida.

Mais uma vez, seu pai lhe veio à mente e se lembrou de que ele também amava as canções natalinas e as embalava com emoção, iluminando ainda mais aquela época mágica, endossando e adoçando que a vida poderia valer a pena ao menos naqueles dias, para que o restante dos meses ganhasse ao menos fôlego e uma esperança, mesmo que fosse ao próximo natal.

Não deveria ter parado, no entanto as centenas de pessoas, também atarefadas com o corre-corre de fim de ano, faziam questão de se prostrarem ali, fosse para ganhar fôlego, fosse para matar trabalho, fosse para embalar sonhos. 

Crianças e adultos se davam as mãos, camuflando-se nas intenções e nas expectativas. Ele lutou contra a sua intuição e decidiu romper com aquela briga idiota, porque a saudade pode ser cruel, mas, naquele instante, ele mesmo decidiu que seria doce.

Olhou ao redor e viu que os celulares estavam erguidos, prontos a filmarem e postarem ao mundo o espírito de luz que deveria habitar por ali, nem que fosse por apenas 20 minutos. O maestro subiu junto ao grupo, sob aplausos efusivos e esperanças fervilhantes.

O grupo agradeceu pela ovação  contagiante e o silêncio se fez segundos depois. Um tecladista e um percussionista guiariam as canções. Responderam afirmativamente ao aceno do maestro e deram o primeiro tom da apresentação.  Expectativa em alta, sorrisos acesos e o primeiro acorde menor soou por ali.

Uma mirrada senhora, provavelmente octogenária, deu um passo à frente, chegando ao microfone e provocando o primeiro ataque de fofura ao evento. O rapaz ameaçou filmar, no entanto preferiu sorver o clima, fechou os olhos.

Talvez tenha sido a voz fraca ou o nervosismo, porque a vovó nem semitonou, realmente entrou num tom desmedido e o casamento coma melodia resultou num litígio inesperado e constrangedor. Todos notaram, o maestro notou, os cães uivaram e o que era ruim pioraria, pois o coral embalou em tons diversos, todos eles, menos o adequado.

Cada um fez seu próprio show, seu próprio evento, seu próprio espetáculo e o que seria uma magia de luz tornou-se uma exibição do inferno. Alguém baixou o celular, outro também o fez, enquanto alguns, por vergonha, começaram a deixar a praça, motivando outros e encorajando muitos. Uma a um, enquanto a tortura se prolongava, o público foi se dispersando, numa situação mais do que embaraçosa.

Mas ele preferiu ficar ali e, como mágica, viu o espírito natalino pairando naqueles desafinados, no desespero do maestro e na fuga do plateia. Ele foi além da boa nota, além de uma canção, sentiu a melodia e a mensagem como um bálsamo, um regalo à alma. De repente, estava pleno e não haveria maldição ou outro áudio trevoso que o fizesse parar de sorrir e escutar os anjos em sua mente.

A melodia de três minutos teve a competência de fazer o papel inverso da música e do natal, fez as mãos se soltarem e o mundo desabar. A poucas notas do fim, era somente o rapaz. Quando o último suspiro sôfrego foi dado, as palmas tímidas ressoaram entre o vaivém frenético do povo, que mal teve a gentileza de encorajá-los a outra tentativa. 

Não, ele não, ficou ali, impávido, feliz, aplaudindo, mas tinha de sair para seguir seu rumo. Sorriu ao coral, acenou a eles e ganhou de volta sua realidade. Tudo depois de retirar os fones de ouvido e dar o último pedaço de cachorro-quente ao faminto vira-lata que abanava incessantemente o rabo e sendo recompensado pela sua insistência, sem precisar de ensaio algum.