Tudo
bem que as músicas não eram as preferidas, mas saber que era parte da música já
o deixava empolgado. E mais ainda ficou quando, durante o ensaio, fora chamado
como exemplo de afinação. Fez um solo, somente com o piano ao fundo, e
aproveitou que a voz ainda não mudara, e entoou uma melodia redonda, sob ovações
dos colegas.
Difícil
dormir aquela noite, deve ter sorrido por semanas.
E
a carreira na música prosperava, ficaram em segundo lugar numa competição de
corais, o grupo era a sensação do colégio, apresentações lotadas, aplausos
efusivos, músicas natalinas arrancando lágrimas. Era quase uma turnê.
No
ano seguinte, a Matemática desafinaria ao menino. A geometria trouxe uma
melodia e um ritmo complicados a ele, nem Djavan conseguiria acompanhar tamanha
complexidade. Dois bimestres e as duas primeiras médias vermelhas.
O
contra-ataque foi cruel, a mãe não entendeu que o coral nada tinha a ver com
aquilo, mas foi a única leitura que conseguiu alcançar. Mesmo que, de todas as
13 matérias, as médias variassem entre 8 e 10, o que prevaleceu foi o negativo.
O
coral saiu da vida dele. A música se calara.
Até
que seis meses depois, o próprio maestro tocou na casa do garoto, um disco
seria gravado, e a voz do menino estava sendo requisitada pelo mais alto
escalão. Aos 14 anos, um disco, sonho.
Não. A mãe não cedeu. Disse não a todos os pedidos do maestro. O compacto de 4 músicas foi gravado. Havia 70 rostos naquela capa e 70 assinaturas dedicadas à voz que não apareceu naquela tarde de outono de 1987.
Hoje,
cada vez que subo para um show, ainda tento colocar os 70 rostos comigo no
palco. Ainda tento me colocar naquele compacto, mas não trocaria as incontáveis
apresentações que fiz até agora para estar naquele disco, apenas gostaria de entender...
...
Geometria.