quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

REFLORESCER

E ao virar a esquina, viu-se apaixonado. Não precisava saber se ela era linda, porque linda seria com qualquer parte que enxergasse. Mas era linda. Sabia que era paixão porque essas coisas não se explicam.

Tal qual os dedos estão para as mãos, todos os sentimentos pertencem ao ser humano. E aqui não precisou menos que dois olhares. O calor lhe subiu do estômago e parou no peito. Como uma angústia doce a palpitar sonhos.

E quando o coração grita, a coragem responde. Tomou-se dos dois e seguiu em frente. Nem percebera que o sorriso era fácil, encantou-se pelo olhar e decidiu dar-lhe uma flor, aceita de modo tímido.

No dia seguinte, viu que a flor ainda estava com ela, não titubeou e deu-lhe mais uma, outro olhar encantador e um beijo pelo ar.

E foi assim que a alimentou, todos os dias, todas as flores possíveis, de todas as cores, todos os aromas e todas as formas.

Semanas depois, ela estava cercada. Uma floreira de matizes rodeava-a por todos os lados. Todos os caminhos cobriam-lhe de pétalas e adornos. E por lá ficou.

Passou a regar todas elas, todos os dias, a cada momento, por meses. Incríveis dias aqueles, incríveis flores aquelas, nenhuma morrera, cada vez mais abertas, cada vez mais vivas.

No entanto de tantas flores em sua volta, ela não se mexia. Tomou-se das cores e dos aromas e por lá ficou. As idas e vindas diariamente  dele começaram a lhe cansar os braços, as pernas e a ocupar um tempo que o deixava escondido a qualquer outra ação.

Não sabia se as regava por paixão ou por hábito. Dores e mais dores. Levava água, e não encontrava de novo onde a buscar. Não conseguia ajuda daquele olhar, ela estava cercada de muitas flores e preferiu lá se acomodar.

A água no fim, e o cansaço rasgava-lhe o peito. Ele pediu, mas ela não saiu. E numa manhã, parou em frente e precisava de água, ela não tinha. Sentou-se na metade do caminho, sob olhares indecisos. Agachou-se e por lá morreria de sede.

Sentiu um toque em sua nuca, outro em seus lábios. Sentiu a água a lhe correr pela boca e depois de alguns goles, abriu os olhos. E antes que pudesse ver o que viu, desejou ver o caminho de flores aberto a passos, mas não.

Ela continuava parada olhando-o indecisa, cercada de flores. Não pôde entender, porém não era mais paixão a trazer-lhe a vida, era amor. Então levantou-se e seguiu.

Não olhou para trás, deixou a paixão ali mesmo, estática, a ver as primeiras pétalas secarem...  

2 comentários:

  1. Como assim ninguém comentou por aqui? É absolutamente doce e lindo. Parabéns, moço.

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  2. Muito obrigado, Kell! Excelente uma análise assim!

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