segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

SAUDADES DO PRIMEIRO DIA DE AULA?

Domingo à noite. Tensão. Seria o primeiro dia de aula na escola nova. E o moleque estava tenso desde sexta, nem viu o sábado passar e acordou mais cedo no domingo, para piorar, e prolongar o sofrimento.

Aos 16 anos tudo pode ser diferente. Tinha de acertar a roupa, acertar o horário, acertar o ônibus. E se errasse a sala? E se errasse a turma, teria de lidar com ela até o fim do ano.

Primeiro dia. Não almoçou, não leu, não viu TV, ficou recluso no quarto escuro, ouvindo mais do que a chuva, ouvia o próprio medo a travar-lhe as ações.

E se caísse no pátio na entrada do colégio? E se todos vissem? E se todos rissem? Não adiantaria se destacar no futebol, seria lembrado pelo tombo do primeiro dia de aula.

E se sentasse perto de um mala? E se sentasse perto de uma menina linda, que riria dele por se apaixonar? E se sentasse perto da janela e ficasse olhando para fora procurando os amigos antigos, que não apareceriam?

E se não tivesse fome e não comesse? E se o estômago lhe roncasse durante o silêncio no meio da aula de redação? Todos ririam que, além do tombo haveria um alien na barriga.

E se tivesse vontade de ir ao banheiro? A vergonha o deixaria pedir? Porque todos ririam do cara que, além de cair no pátio e de ter o estômago barulhento, era o cagão da turma.

Mas e se não aguentasse e, com vergonha, ficasse quieto e fizesse tudo nas calças? Além de tudo, seria o cagão do ano.

E se na volta, no ponto de ônibus, todos os da turma pegassem ônibus com ele e espalhassem pela rua que o moleque era a aberração eleita daquele ano e entraria para os anais da escola para o resto da vida?

E se chegasse em casa, falasse aos pais e eles o obrigassem assim mesmo a voltar no dia seguinte e encarar os risos de todos, dizendo que ele logo faria amigos?

Ele não queria dormir naquele dia, mas teve de.

Foi então que o celular tocou e o acordou. Ele atendeu, era a gerente do banco, dizendo-lhe que o saldo estava estourado. Ele sorriu e percebeu que um saldo negativo no banco é bem melhor que os tempos de colégio.  

4 comentários:

  1. Tudo bem, ele não se foi eleito o cagão do ano (salvo pelo gongo, ou melhor, pelo celular), mas tb parece que não aproveitou muito as aulas de matemática...

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    1. As aulas de matemática realmente escorregaram pelas suas mãos como o dinheiro!

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  2. E quem de nós não passou por isso né Bro? Espetacular!

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