segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A LIGAÇÃO

Não pretendia sair de sua mesa o dia todo. Esperou que a ligação viesse o quanto antes. Tentava se concentrar no trabalho, mas a planilha parecia bailar em seus olhos como um barco à deriva.

Olhava o relógio, olhava o telefone. Avisou o colega ao lado veementemente que anotasse o recado as duas vezes que precisou deixar a sala. Ninguém ligou. 

Almoçou em sua mesa. Nada.

E então o telefone tocou, e o fornecedor percebeu e não pontuou o desinteresse e a indiferença dos prazos, não entendeu por que, mesmo que pontual, o elogio não foi ouvido.

14h.

Alguém perguntou algo, porém foi o colega quem respondeu. Tensão. Perdeu as contas das vezes que checou para ver se havia linha no telefone. Tudo perfeito.

O desconforto se espalhou pela sessão. Nem mesmo o chefe tentaria algo.
Mesmo assim ele tentou, um “tudo bem” tão sinistro que nem o café com a bolacha recheada que apareceu em sua frente sanara o drama.

15h.

Outro toque. Engano. Aquela angústia que queimava seu peito conseguia ganhar expressões bem convincentes em seu rosto. Em três anos de empresa, o comportamento calmo sumira naquele dia. E de tal forma que ninguém tentou desvendar.

16h.

O suor já começava a cortar frio o desfigurar do homem. Nem a véspera de feriado servia-lhe como consolo, tudo o que esperava era o toque certo do telefone. Mas nada.

17h.

A planilha continuava aberta no mesmo ponto da manhã. O tempo era seu principal companheiro. Apenas mais uma hora e ele teria de atender àquele chamado. Teria de acontecer. Iria tocar.

18h.

Seção vazia. Não respondeu a ninguém nem mesmo ao chefe. Começou a arrumar as coisas pausadamente, sem tirar os olhos do aparelho. Só restou sair e caminhar pela chuva, e os trovões jamais o deixariam escutar as 4 vezes que o telefone tocou.

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