domingo, 10 de fevereiro de 2013

FOLIA...

A premissa maior de Jorge Benjor mais uma vez ratifica o óbvio, Carnaval em fevereiro. De repente, somos algo sistemático dentro de nossas próprias prisões de regras e de costumes. Trio elétrico para santo, para lavagem de escadaria, para padre novo, para nascimento de mais um no Olodum, para congestionamento, de carros, de gente e de impostos.

Há tanto o que se comemorar, há nada o que se comemorar. Talvez a tristeza seja tanta, a miséria seja tamanha, que nem mesmo a música consiga afastar os males, parece mesmo que as maledicências tupiniquins gostaram da festa nacional, como bom brasileiro. Cantando não afastamos os males, atraímos.

Pois é inadmissível um lugar onde tanto se canta tanto se chora, arde-se em crises e lamúrias, cantamos a maledicência e agora casamos com ela.

Imaginemos neste exato momento o Brasil na Marquês de Sapucaí, Rio de Janeiro. A Unidos do Terceiro Mundo pronta para entrar na avenida. A platéia de caviar em mão, já que o país inteiro está na concentração, ressoa salvas inglesas, italianas, espanholas e francesas.

O nosso parco português vive no morro, e é de lá que tiramos o talento para a parada de agora. Os batedores de carteira aquecem os tamborins, são flanelinhas e meninos de rua por profissão. Os batedores-móres carregam no surdo uma cadência ainda maior.

Veem-se políticos precisos na percussão (rombo - rombo - rombo). Atrás, no carro abre-alas, há uma mata seca, de 25% de verde ainda, é o carro Amazônia, com cerca de 1000 micos-leões empalhados, todos eles vindos de fora. A ala das baianas não roda mais, está de mãos dadas, orgulhosas de parir o Brasil há 512 anos.

No carro Brasília há os Dragões da Independência, cada qual com chapéus de celulose, puxam a introdução do samba-enredo (Marcha, soldado, cabeça de papel...). Em seguida, os estrangeiros ovacionam a mulher brasileira. São as nossa loiras, naturais ou não, mexendo para lá, mexendo para cá o ganha-pão (Yes, nós temos bananas).

E então, vemos o carro Pagodeiros, são os negros-suíços, todos de cabelos amarelos, gingando para lá, gingando para cá, com Mercedes, ouro, tudo em nome da COHAB. Atrás estão os desafinados, nossos negros desafinados, pobres miseráveis, carregam o preconceito nas mãos, pois não conseguiram comprar a confiança da sociedade.

Agora a Unidos do Terceiro Mundo está na avenida. Não há confetes, não há serpentinas. E então, os turistas começam a jogar notas de dólares, abençoando a passagem da escola promissora. Mas fora um terrível engano. Todos, sem exceção alguma, pararam para pegar as esmolas.

E assim terminou, não houve mais festa. Não houve mais desfile. E o nosso carnaval estava vendido. Atado pela fantasia gringa, trajado de hipocrisia e realidade.

Mas esperem, parece que há alguém ainda na avenida! Sim! Há um gari limpando o que sobrou. Retalhos de fantasia, o sutiã de uma qualquer e a dignidade do Brasil. E se chegarmos bem perto, poderemos ouvi-lo cantarolar:

- Já raiou a liberdade, já raiou a liberdade no horizonte do Brasil.

 

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