sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

BABUÍNO DA VINCI

Era uma tribo de macacos, os simpáticos babuínos. Lindos, de narizes compridos e dentes afiados, uns tinham uns coloridos. Viviam numa ilha, de longe, apesar das diferenças, eram todos iguais. E por lá fixaram leis, comidas, hábitos e similares a qualquer país deste universo. E os babuínos, apesar de estranhos, tinham lá seu charme, diria Ray Charles, no fundo eram elegantes.

E como elegância puxa arte, e como arte era para quem sabe, e como lá, de longe, eram elegantes, de longe eram artistas. Adoravam arte. Arte contemporânea, antiga, barroca, escrita, melódica, pintada, coreografada. Arte escrita, cantada, encenada e demais adjetivos.

Como toda comunidade, havia um grupo de líderes, escolhidos a dedo. O dedo de um babuíno sabe muito. Escolhiam os mais fortes, que sobreviviam a competições esdrúxulas, que não cabe aqui, não é hora nem lugar.

Pois bem. O que importa é que havia o líder dos líderes, que por sinal, também tinham lá outros seguidores, que eram líderes de mais alguns outros líderes e que, por extrema sorte, ainda tinham lá seus seguidores, porque ninguém é de ferro.

Mas havia o líder de todos, o bauíno-mor. O pior de ser babuíno não é a aparência elegante, de longe, de longe, é o fato de não ser líder. Já não bastasse a realidade, nascer babuíno e seguidor é pior que o Brasil em agosto.

Mas, falou-se tanto em artes e onde elas estão? Pois é, estão chegando por aí, pois nenhuma vem de dentro, todos vêm de fora, e aqui são analisadas. Há que se ter cuidado com a navegação das obras, o joguete do mar e os ruídos podem complicar o estado delas. Vêm numa jangada só, carregada, cheia de informações, assuntos, cores e conceitos.

E parece-nos que a remessa de hoje está farta. Imediatamente, os seguidores tomam as obras e, por lá mesmo, abrem-nas e as dispõem sobre a areia mesmo, pecado mortal aquilo. Mas ordens dos líderes, que seguiam os líderes, que seguiam o líder das artes, que seguia, como todo mundo, o líder-mor, e que tinham juízo e obedeciam às ordens. Escolhiam as melhores, dentre todas maravilhosas. Palmas às escolhidas, escuro às renegadas.

Minutos depois, sete obras destacavam-se. Agora, o trabalho menor cabia ao líder das artes. Imponente, sabendo menos que todos os estúpidos do mundo, carrega a imponência no nariz sujo. Ele para, olha, olha e olha. Olha para os babuínos seguidores, que indicam duas em destaque.

Todos os seguidores aplaudem fervorosamente a primeira. Em seguida, o que já era comum, o líder da arte escolhe a segunda.

Assim, está eleita a obra mais bela da semana. Cabe ao babuíno-mor fazer a parte que lhe serve: como não cria e não sabe a ciência de arte alguma, resta-lhe o óbvio, senta o traseiro em cima do nome do autor da obra escolhida.

Assim, o líder das artes aplaude o feito, como se o líder dos lideres acabasse de criar algo, e exibe aos demais. Todos, sem exceção louvam a obra do babuíno, que se tornou autor sentando na obra alheia. Os babuínos não aceitam essa tese, muito menos eu.

Calemo-nos, então com a mediocridade do babuíno-mor e aplaudamos a sábia atitude dos seguidores. Um viva à sobrevivência. O nome do verdadeiro autor? Escondeu- se na marca imunda do macaco.

 

 

 

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