sábado, 16 de fevereiro de 2013

ADRIANO MERCURY

Existem dois tipos de astros, os que são astros e os que acham que são. Eu, claro, estou no degrau abaixo. Porém creio que os aspirantes a astros são os que mais se divertem. Talvez o pouco compromisso com o holofote deixe mais em evidência a ânsia de um dia ter pensado em subir no próximo degrau.

Ao longo desses meus quase 40 anos de estrada (risos), colecionei momentos magistrais, fui Freddie Mercury por várias noites, justamente por não ter a ousadia de escolher a mesma profissão que o líder do Queen.

Ouso muito agora, imagino Farrokh Bulsara tentando me imitar dando aula... Ok, fui exageradamente pretensioso. Fato é que nem eu nem ele poderíamos imitar nossas escolhas. Porém como ele é o ídolo, cabe a mim tentar imitá-lo.

Mas bem antes de cantar na Long Play Rock, aos 10 anos, fiz minha primeira apresentação no aniversário de um vizinho. Em 1983, o álbum CREATURES OF THE NIGHT, do Kiss, alçava voos gigantescos, tanto que os trouxeram para um show fantástico no Morumbi.

Naquela noite, fui Paul Stanley, e, com a minha guitarra de brinquedo, embalei a noite de tios, tias e amigos, fizemos uma dublagem perfeita e aqui eu sabia quais seriam meus sonhos.

Anos depois, após embalar as tardes de faxina que minha mãe fazia em casa, com músicas ao vivo, fazendo duo com a dona Ignes, tive a ideia fixa de cantar as músicas do Queen. Por que não? Mesmo tom, tentaria alcançar as notas que somente mister Mercury conseguia.

Foram horas de sofrimento, horas de apoio vocal, horas de chuveiro. E quando consegui a primeira, tentei a segunda, a terceira e tive minhas recompensas garantidas. Ok, ok, era minha mãe que elogiava, mas se o santo de casa fazia milagres, por que não, né?

Tarde quente de sábado, 1992, estava eu na sala, janela escancarada. Sol maior e embalei SOMEBODY TO LOVE. Fechei os olhos e, se George Michael conseguiu uma apresentação única no show do tributo ao vocalista , eu também poderia fazer esse tributo da zona leste de São Paulo.

Cantava para milhares de pessoas, eu, meu violão e um único canhão de luz. Dei minha alma e todos os tons que pude. Cantava como se fosse a última vez na vida, como se fosse a única voz do mundo.

Quando terminei, ouvi aplausos do lado de fora. Tive a certeza de que meus vizinhos foram lá para apoiar. Não. Eu tinha me enganado. Eram duas mulheres, que se disseram emocionadas e que foram atraídas pela emoção da minha interpretação.

Eu agradeci e soube que, por uma única tarde, aqui do Tatuapé, fui promovido a Freddie Mercury. E até hoje eu nunca consegui achar um vídeo que seja do líder do Queen dando uma aula de português...

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