terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

PRAZER, EU MESMO!

Há anos não sabia o que era uma noite sozinho. Foram 16 anos de casamento e jamais parou e pensou que uma noite pudesse ficar sem ninguém. Perdido. Revirou a agenda, achou ninguém.

Buscou os mais de cem canais a cabo, achou nada. Viu horários de cinema, até encontrou, mas nenhum filme que pudesse tirá-lo de uma sala e colocá-lo em outra.

Decidiu que sairia para ver pessoas, para sentir a brisa daquela noite quente. Parou o carro perto de uma rua cheia de bares e seguiu a pé. Quando se está só, apenas caminhando com o tempo, há mais espaço para observar a vida ao redor.

Por dez minutos, olhou as mesas lotadas, escutou risadas, conversas, o barulho dos copos, o cheiro das frituras e dos perfumes. As buzinas não o incomodaram tanto quanto o som das estrelas, que sussurravam a noite.

Lembrou-se de que não havia comido. Entrou numa padaria, sentou-se, pediu um lanche e ficou observando a movimentação. Crianças com sono, casais conversando, o barulho da chapa.

Fuçou no celular. Comeu o lanche porque viu que ao menos o sanduíche e o suco o entreteriam por uns dez minutos. Enquanto tentava comer devagar, olhou o TV, até mesmo a novela, pelo menos as imagens tentaram colocar a mão em seu ombro.

Pensou, mais uma vez, que jamais pudesse imaginar um sábado à noite sozinho. Não sorriu nem se orgulhou.

Foi então que tentou se lembrar de como eram seus sábados à noite. Pontuou cada festa, cada sessão, cada bar. Passou por cidades, ruas e pessoas. Esforçou-se para relembrar sobre o que conversou da última vez que saiu com a esposa.

Não conseguiu. Esforçou-se para se lembrar quais eram os assuntos que teriam se ela estivesse lá agora. Não conseguiu. E, por fim, esforçou-se para se lembrar por que casou com ela...

Terminou o lanche, bebeu metade do suco, pagou e saiu.

No caminho de volta, tentou andar o mais rápido que pôde de volta ao carro, mas – por mais veloz que fosse – não conseguiria deixar para trás que estava sozinho há muito, muito tempo.

 

 

 

Um comentário:

  1. A pior solidão é aquela em que estamos acompanhados... Um dia, infelizmente, todos passam por isso.

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