quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ELISABETE E AS VÍRGULAS AMESTRADAS


Elisabete era um menina traquinas, amante de bichos e de letras, sempre soube como cuidar de cada 4 patas, mas tinha um terrível problema ao escrever, não sabia como colocar vírgulas.

Escrevia redações e mais redações e as notas só não eram melhores porque as vírgulas da professora apreciam em destaque. Cansou-se de não ter as próprias vírgulas, desejava noite e dia, dia e noite, uma solução.

Procurou o santo protetor da gramática, e nada. Rezou para todos os santos possíveis, nada. Quanto mais escrevia, mais frustrada ficava. Sabia que era impossível, porém uma caixinha de vírgulas amestradas seria perfeito para que deixasse suas linhas e histórias intocadas.

Numa manhã cinza, não esperou nada além das nuvens e das chuvas, entretanto escutou um burburinho que saía do baú de brinquedos. Quando abriu, quase berrou de susto e de alegria, as tão desejadas vírgulas amestradas, de todas as cores, estavam por lá.

Trancou a porta do quarto, pegou caneta e papel e fez um texto como faria normalmente. Decidiu não pontuar e a magia tomar conta. Depois, abriu o baú, pegou um punhado de vírgulas e as despejou sobre o papel. Inacreditavelmente, cada qual se posicionou no lugar certo, fato constatado no dia seguinte, quando a professora entregou o texto a Elisabete, elogiando seus acertos.

Fenomenal.

E assim acabaram os problemas da menina. Como cabelos e unhas, as vírgulas se reproduziam aos montes e de modo ilimitado. A menina as teria para sempre. Do ensino fundamental à graduação em Direito, elas a acompanharam de modo leal, cirúrgico.

Mas numa mesma manhã, elas se calaram. Elisabete as procurou e elas não mais estavam por lá. Revirou o guarda-roupas, papéis e tudo mais onde poderiam estar. Assim como a infância, soube que as vírgulas mágicas também passam e deixam o caminho, o livre-arbítrio aceso.

O mais interessante é que, a partir daquele momento, a formada, que se transformou em doutora, sempre pensa que sua pontuação fica manca nas petições e afins. Mas sabe ela que, muito tempo antes de perceber, as vírgulas mágicas não mais estavam lá.

Talvez nunca existiram. Sabem como é, leitura e estudo demais tendem a deixar certas sequelas...

 

 

 


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