quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A DEUS...

Os anos que passaram juntos voaram como a vida que se escapa. Lá estava ele, sem a tão elétrica disposição ou sua pré-disposição em agradar. Foi uma sortuda por ter convivido com alguém iluminado, que sorria e dizia sim a tudo, quase que como uma reza, um mantra sistemático e prazeroso.

Mesmo tentando os piores momentos, ainda que nesse adeus, não consiga precisar um dia só que se arrependeu de cruzar seu caminho nem com as loucuras que fez. Cada dia algo novo. Mas se pudesse nomear suas atitudes, diria que o imprevisível sempre foi sua marca registrada. A monotonia em sua vida disse tchau quando ele entrou nela.

- Ainda respirando com dificuldades?

- Sim, doutora...

- Volto já com o medicamento.

- Linda essa médica, se você estivesse bem, repararia no perfume dela, seu safado, ficaria assanhado como sempre ficou com perfumes, principalmente os cítricos. Daí sairia por aí, faria amigos como sempre fez. Tem um bando deles rezando por você, meu lindo. – beijando sua cabeça e enxugando uma lágrima.

- Filha, quer que eu fique um pouco, você está exausta...

- Não, mãe, fique com as crianças, por favor...

- Elas querem você, estão chorando muito, talvez sua presença seja melhor...

- Mãe, quero ficar aqui, eles vão entender, console-os, saio assim que terminar... – beijou a moça e saiu.

- As crianças não vão aguentar, querido... – desabou em cima dele – Eu não vou aguentar...

- Senhora...

E a agulha entrou no soro, que levou o que tinha de levar até onde tinha de ser levado. A respiração parou, ela o abraçou com uma dor aguda, funda, foi amparada pela médica, que viu o que sempre via e ainda teve tempo de achar linda a coleira que saía por aquela porta, mas preferiu não perguntar onde a comprara, seria insensibilidade demais naquele momento.

3 comentários:

  1. Vc é mesmo surpreendente, Dri! Histórias desse tipo mexem comigo, vc sabe! rs
    E eu faria exatamente o mesmo...

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    1. Seja qual for a separação e pelo motivo que houver, sempre existe uma dor, sempre existe uma indiferença, Dri!

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  2. E como doí essa dor,quando a gente pensa que vai acabar, ela volta em forma de saudade...

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