sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

UM ANO DE AMOR

O rapaz tinha nascido em berço de ouro, tanto na matéria como no invisível. Lindo, rico, inteligente, coração imenso, puro, trilíngue, sem vícios - a não ser o de cativar pessoas.

E ele o fazia como ninguém. Desde a infância, o sorriso fácil e convidativo era como uma bênção a quem dele cruzava o caminho. Angariava histórias e mais histórias. Era o mais requisitado na faculdade de Economia, exemplo de notas e de fama.

Mal saía, preferia o quarto, os livros às festas, e talvez isso fosse sua melhor propaganda. Torpedos, curtidas e seguidores, quase um séquito de babões invejosos.

Até hoje, pelo que consta, nunca se apaixonou, mas perdera a conta de meninas que beijou, das camas  em que deitou e de todos os arrependimentos que colecionou. O genro ideal, o filho ideal, o namorado ideal, o amante ideal.

Até que uma mulher lhe cruzou os olhos e devolveu tudo o que sempre emanou. Em cheio. Avassalador. Daquelas paixões que mais ferem que assopram. 10 anos mais velha, não estava em redes sociais nem conhecia Wim Wenders, mas amava Chico.

Não cabe aqui saber onde e de que forma, coube saber que começaram um relacionamento. Ele sumiu. Ela apareceu, e todos a desaprovaram. Pais, amigos, o mundo não poderia perdê-lo.

Recusou o emprego na empresa do padrinho e foi ser estagiário anônimo. Largou a casa dos pais, e foi morar nos 60m² do centro, honesto e sem cortinas. Enfrentou a família porque sabia que ela – que agora ama cinema alemão – valia a pena.

Sozinha, porém há meses, não mais, em São Paulo, sorria toda manhã quando acordada com beijos nos olhos. Foram poucos os encontros no apartamento da zona sul, cujos quadros sempre a ajudaram desviar a atenção dos olhos que a comiam.

O menino, que agora era assistente, crescia longe e mais feliz ainda, porque dizem que o amor faz isso.

A promoção à chefia dela foi comemorada num jantar de 250 reais e com uma cortina nova na sala, combinando com o primeiro TV de high definition, que ela teimava em dizer que não se diferenciava do antigo de 20 polegadas e, por causa disso também, ele a amava mais ainda.

Certa noite, ela disse que morreria feliz daquele dia em diante, porque nunca sorriu tanto e que levaria consigo cada segundo que esteve ao lado do homem mais júnior da sua vida.

Dez meses depois, foi o que aconteceu, o câncer no intestino foi fatal.

Hoje, ele ainda continua no apartamento dela. Finalmente com o tapete de couro de que ela tanto gostava. E não há uma só noite que ela não sorri a ele, e não há uma só noite que ele chore pra ela.

 

 

 

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