domingo, 20 de janeiro de 2013

AO MEU GÊMEO GÊNIO!

Quem tem certa assiduidade em meu blog cansou de ler textos envolvendo eu e meu irmão mais velho. Talvez porque as sandices e os gostos nos tenham colocado mais em evidência.

Quem me conhece sabe que tenho um irmão gêmeo, o Luciano, pouco citado porque ele é a extensão de meu pai, sereno, nada traquinas e odiosamente responsável.

Se eu começasse a citar todas as benfazejas desse anjo neste mundo, só acabariam com minha imagem de o gêmeo podre da história. Mas, como diz meu irmão mais velho, endossado por uma amiga minha: “Adriano, você se basta” – decidi enaltecer esse cara, que dividiu por 9 meses a barriga da minha mãe e ficou somente com as sobras.

Esse moço, aos 9 anos, começou a confeccionar aquelas pulseirinhas com nomes. Ele as vendia na escola. Tinha uma lista de clientes e, com o dinheiro acumulado, comprou um tênis Rainha.

Excelente zagueiro. As notas 10 no boletim foram uma constante, em todas as matérias, da primeira série ao MBA.

Nunca reclamou de nada. Era o primeiro a se oferecer a arrumar a mesa, buscar o pão, guardar a roupa, desgalhar a salsa (odeio fazer isso). Sempre fazia massagens no meu pai, nunca tomou uma surra da minha mãe.

Começou a estagiar aos 17 e fez uma brilhante carreira com os números. E é a eles que guardo um agradecimento eterno.

1988. Primeiro ano do ensino médio, fiquei em recuperação em matemática. Precisava de um sonoro 6 para passar. Quando digo sonoro, era mesmo, porque minhas 4 médias bimestrais juntas não somavam 15 pontos.

Desesperado, voltei daquela aula tendo de aprender o que nem o professor conseguiu. Em casa, minha mãe pedia para que ele fosse minha salvação. Pacientemente, como somente Luciano sabia ser, ele pegou toda a matéria do ano e olhou.

Fez uma careta, coçou a cabeça, pegou o lápis e na minha mão e me ensinou o be-a-bá daquele inferno. Na semana seguinte, fiz a prova. Voltei e ele me perguntou, antes de meus pais, como eu tinha me saído. Devolvi aquela cara tão manjada de “eu fiz”.

Dias depois, soube que havia passado de ano com meu sonoro 6. Minha nota mais alta de matemática desde a quinta série. Tenho certeza de que eu nunca o agradeci, porque, se eu passei, foi pelas mãos desse gêmeo brilhante.

Ele me olhou e sorriu. Recebi parabéns de meus pais, mas sempre soube que os parabéns deveriam ser a ele.

Talvez Luciano Paciello nunca leia esse texto, porque os números sempre foram mais marcantes em sua vida que as letras. Gênio, irônico, destoante. Fã de Def Leppard, Tina Turner, Ronnie James Dio.

Entretanto uma coisa eu sei muito mais do que ele: de todos os degraus que precisei para não cair no abismo, até hoje, a maioria veio dele.

Mas ele nunca me deixou agradecer por completo, sumia pelos ares antes disso.

12 comentários:

  1. Nossa... Que lindo! Ainda lembro dos dois na escola como se fosse hoje. Bjs,

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    1. Oi, Mi, como está, danada? Obrigado pelos elogios! Eu nunca me esqueço de nós dois na escola, principalmente da ajuda dele na matemática! - rs - Bjos!

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  2. Acho que agora ficou claro porque Deus resolveu dividir em 2 tantas qualidades...

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    1. Fê, tenha certeza de que o pouco que sobrou pra mim, tive que rebolar! - rs

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  3. O maior agradecimento ao seu irmão, certamente é a bela amizade que existe entre vocês. Parabéns pelo texto (achei um dos mais lindos que escreveu) e pela família que tem! Bjo!

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    1. E você, Lu, é uma fofa por ser tão meiga! Obrigado pelas palavras, porque de família você entende muito bem! Bjos!

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  4. Dria,
    essa é uma homenagem linda. A cumplicidade, amizade e amor entre todos da família é louvável e exemplar.

    Abraços,

    Del

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    1. Boas, Del, obrigado pelas palavras! Base familiar é tudo, e isso meus pais souberam dar também! E minha mãe deu mais, surra principalmente... - rs - Abraços, man!

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  5. Linda homenagem, Dri! Seu irmão merece ler esse texto! E hoje, podemos dizer que são 2 gênios: um dos números, outro das letras! Adorei! Beijos

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    1. Dri, o cara é uma realidade nos números! Eu ainda sou uma promessa, mas como vc é minnha amiga, vou aceitar seus elogios! Beijos!

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