quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

OS 3 PASSOS PARA O NÚMERO 2

Existem coisas nesse mundo que você domina. Ou por experiência, ou por dedicação, ou pelos dois. Nesses quase 40 anos de vida, tive de aprender a conviver com uma coisa natural, que nasce com você e que morrerá com você.

Posso dizer, sem delongas ou pudor, que a arte de retardar uma ida ao banheiro acabou se tornando numa titulação invejável. Poucos sabem os sintomas como eu. Poucos sabem retardar a desova como eu.

Não me orgulho disso, pelo contrário, tive de sofrer alucinações e calafrios que fariam um sádico ficar roxo de raiva.

Dicas: a primeira sensação é segurável, uma pequena concentração e uma respiração ofegante eliminam a sensação de mal-estar. Num intervalo de uns 10 ou 15  minutos – sugiro que nesse ínterim, se você não tem experiência, procure um banheiro – a sensação volta ainda mais forte.

Por uns 5 minutos, o incômodo será insuportável, sugiro aqui que você desabotoe a calça e triplique a respiração ofegante – prática que, num local com mais pessoas, pode ser meio constrangedor. Mas ninguém nesse momento pensa em constrangimento.

A sensação passará se você for corajoso. Mas digo que a terceira é a derradeira. Ninguém, nem o mais experiente dos homens, eu me incluo nisso, consegue segurar a terceira. Porque o involuntário aparece, e, mesmo que você seja um Rambo, o próprio organismo se encarregará de tudo.

Para defender essa teoria, tive de passar, por inúmeras, incontáveis vezes os momentos de suores frios e de tortura lancinante. No carro, cinema, no estádio, no metrô, tenho histórias maravilhosas a respeito.

Tanto que eu trazia comigo meu amigo “reforço”. Sim, um chumaço de papel higiênico, porque nunca se sabe quando o inferno poderia bater à sua porta.

De banheiro de rodoviária do interior a banheiro em reforma com baratas passando pelo meu pé – detalhe, nessa hora, o barata pode ser do tamanho de um gato, você a ignora por completo – coleciono sensações inesquecíveis e regozijantes.

Poderia me expor, mas prefiro expor meu irmão mais velho. Sempre fui alvo dele e nesse dia eu inverti o jogo. Indo a um sito em Guararema, interior de São Paulo. Pelo caminho, a dor de barriga apareceu.

Implorei a ele pra pararmos. E Marcelo sempre pirraçando. Indo devagar e rindo. Estava desesperado, porque já me encaminhava para o estágio 3 – acho que todos entenderam o que isso significava.

Quase comendo o puta-que-pariu do fusca, ele parou num pulgueiro de um bar. Voei com meu reforço e lembro de ver estrelas enquanto sentia o frescor do alívio descendo pela minha cabeça e tomando conta de todas as partes do meu corpo.

Pronto para sair, ouvi o Marcelo bater à porta, implorando para entrar. Não sou vingativo, mas fui vingativo. Mal mesmo. E comecei a enrolar. Os murros se tornavam mais abruptos, enquanto ele berrava. Tapas, socos. Até que os pontapés vieram avassaladores.

Sabia que a lontra já devia ter colocado a cabeça pra fora e abri. O olhar sôfrego dele era de dar pena. Talvez o fato de eu ter aberto a porta tenha trazido um alívio repentino, e ele me perguntou se meu reforço poderia ajudá-lo.

Naquele dia tive a certeza de que tinha de ensinar os 3 passos ao Marcelo, teríamos chegado no sítio a tempo, e o dono do bar não teria um prejuízo pela porta destruída.

 

 

2 comentários:

  1. ...a lontra já devia ter posto a cabeça para fora..."!!!!!! RSRSRSRS meu Deus!!!

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