terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O RAY CONNIF DO HARD ROCK

Por uma febre alucinante chamada rock’n’roll, em 1982, fui envolvido de uma maneira inebriante e definitiva.

Meu irmão mais velho certa vez apareceu com o LP do Iron, The number of the beast - e minha vida se transformou por completo.

O futebol da rua continuava a ser interessante, mas meus sonhos não mais alcançavam as redes. Meu sonho agora virava o mundo numa corda de guitarra, num acorde pesado e num solo interminável.

Como era expressamente proibido pelo meu irmão de escutar os discos dele, tinha de esperá-lo para colocar a agulha no vinil e meu show teria início.

Ele fechava a porta da sala, intermitentemente aberta pelo meu pai, para abaixar o volume – pegava o encarte e cantava junto às músicas.

Eu rumava ao corrimão da escada, perfeitamente encaixado como uma guitarra e solava junto com a canção – uma cena prévia do que anos mais tarde se concretizaria conosco, só de que modo inverso.

Naquela época, havia umas guitarras de brinquedo – coisa que nem o Luciano – meu clone – com todas as economias dele poderia adquirir.

Apelei à minha tia, que comprou duas, uma a cada gêmeo. Não preciso reforçar – quem já conhece a fama de Torquemada da minha mãe – que dona Ignes quase me matou, mas sobrevivi.

Montava minha primeira banda, em 1983, o MORCEGO NEGRO, que por drogas e egos não seguiu adiante. Enfim, aquilo era um brinquedo, tinha de galgar os passos de Eddie Van Halen.
 
Até tentei redecorar minha guitarra com fita crepe e isolante, frustração. Naquela mesma época, vi um clipe do Queen e me encantei com o piano de Freddie Mercury.

Estava decidido, eu queria um piano e seria o primeiro a introduzi-lo no mundo heavy metal. E foi durante o jantar, aproveitando o início do ano, com o boletim pintado de 10 – até em matemática – que fiz o pedido ao meu pai.

Ele me olhou calmamente – como sempre fazia - sabia que a renda de assalariado jamais lhe daria o luxo de comprar um piano e me introduziu ao mundo do rock’n’roll:

- Filho, você tem de levar a música para onde você puder. E você não vai conseguir levar o piano a qualquer lugar. Vamos comprar um violão, daí a música irá com você aonde você quiser levá-la.

Em março de 1983, aquele amante de Ray Connif me levou ao Mappin da praça Ramos e me deu um Giannini, com uma capa marrom horrível. Feliz da vida, dormi com ele.

Coincidentemente, na minha primeira aula de violão, aprendi uma música do Roberto Carlos, Fé. E mesmo que não fosse um hard rock, foi o que me conduziu a persistir até hoje nos inúmeros shows que fiz... Cantando.

 

 

2 comentários:

  1. Seu pai foi sábio e pensou rápido ao dar a resposta. E vc levou à sério o conselho dele, afinal, a voz é um instrumento super versátil, desde que , é claro, não se esteja com faringite!

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    1. Sim, fiquei meio frustrado quando não pude ter o piano, mas foi o violão que me introduziu a este mundo da música! Fê. faringite nunca mais! - rs

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