sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

SEGREDO SELADO

Vida carteiro nem sempre é tão ruim. Havia os latidos, havia as tempestades e havia momentos mágicos, como aquele, quando o rapaz viu aquela moça. Talvez tenha sido numa conta de luz ou na fatura do cartão, o boa-tarde que ela deu foi diferente.
 
Daquele dia em diante, sempre torcia para que ela aparecesse em seu caminho. Um mês de sorrisos, foi encorajado pelos colegas a se declarar, mas não, preferiu algo mais original: escrever para ela.
 
Na primeira carta, colocou toda a admiração e clichês que se possa existir. E não há como se deixar envolvido, nem que fosse pela curiosidade, por mais óbvio que seja o conteúdo, ela cairia e caiu.
 
Não estava presente quando a primeira foi posta na caixinha. Carta mesmo, com selo, envelope, perfume e com uma caligrafia caprichada, de homem, mas legível.
 
Dia sim, dia não, aquela rua estava em seu itinerário. Como desejou, na segunda carta, estava a moça a sorrir quando o vira. Batata. Sempre soube que aquelas aulas de português no ginásio serviriam para algo. Ela sorriu aquele sorriso lindo e ele, todo corado, se dava de bandeja.
 
E era um desafio e tanto. Dicionários, livros, filmes, tudo servia de motivo para escrever. Depois de passada a limpo, borrifava um perfume da Boticário, dividido em duas vezes no cartão do amigo, e pronto: amor no ar.
 
Terceira carta, e a moça já o esperava no portão, com sorrisos e amores.E assim desenrolou por dois meses quase. Quase 30 cartas depois, ele decidiu marcar um encontro. No próximo sábado, estariam juntos. E óbvio que ela saberia o remetente, mesmo que estivesse e branco, porém principalmente pela carta não vir com o carimbo do correio.
 
E ela estava mais radiante ainda quando recebeu a última antes do encontro. Ele apenas sorria a ela e a menina devolvia um ainda mais largo.
 
Comprou a melhor camiseta polo da loja. Barbeou-se no salão. Nunca tinha entrado naquele café, mas o chefe disse que seria elegante se assim fosse. Encheu-se de coragem e pensou faltar-lhe quando, da esquina, a viu entrar.
 
Esperou cinco minutos, tomou ar e entrou. Ela não o vira. Ele sorriu. Ela levantou a cabeça. Eles se olharam. Ele sorriu ainda mais. Ela olhou aos lados não sabendo se era para ela. Ele se aproximou sorrindo. Ela teve a certeza de que ele vinha em sua direção. Ele parou. Ela esboçou um sorriso. Ele esboçou um cumprimento:
 
- Oi, boa tarde.
 
- Boa tarde.
 
- Surpresa?
 
Ela sorriu e:
 
- Eu não o conheço de algum lugar?
 
Calou o sorriso e as esperanças. Claro que ela o conhecia, mas não ali, não sem uniforme ou sem a carta. Então ele se desculpou, ela disse um tudo-bem simpático enquanto acenava para a garçonete e pedia uma água sem gelo.

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