sexta-feira, 12 de abril de 2013

VOCÊ TEM MEDO DO QUÊ?

Tinha de levantar da cama, não havia outra alternativa. Mas os medos o prendiam no canto esquerdo dela. Recluso como um bicho protegendo sua comida, sabia que deveria enfrentar tudo.

Rezou, rezou e rezou, porém não sabia se a fé também se escondera em qualquer parte do seu coração. Fato é que Deus não o ajudava, ninguém o ajudava, porque ele se cobria agora entre três travesseiros e os suores frios de medo, que deixavam sua boca amarga e queimavam seu peito e sua garganta.

Tentou descobrir-se, olhar em volta do quarto, ver as persianas refletidas pelo sol da manhã. Tentou se lembrar de coisas boas, entretanto não cabiam naquela cama, já haviam escorregado para fora e o cachorro deve ter comido todas.

Mudou lentamente de posição, como se a paúra o brecasse a qualquer gesto. Nem mesmo o livro de autoajuda conseguia ser um convite a algo mais corajoso. Medo, angústia, solidão e fantasmas. Os piores inimigos da cabeça, as sombras da imaginação.

Tentou esboçar um movimento, mas as pernas estavam travadas, não respondiam a estímulo algum. A morte seria a melhor coisa. Sumir seria o melhor a ser feito, e à francesa, sem alarde, sem exposição.

Não entendia como o sol brilhava diferente, não entendia como um dia pensara, sentira diferente. Como a mesma música de tempos atrás desafinava agora? Teve a certeza de que se tentasse sorrir, os dentes cairiam. Queria dormir pra sempre para ver se os sonhos fossem diferentes.

Para tentar fugir daquilo tudo, mesmo sabendo que tinha de enfrentar seus medos, ser bravo, corajoso, e defenderia o direito de ter medo de quer sim fugir de tudo, porque não havia vergonha alguma em não querer tudo ali.

Piorou. O tremor aumentou, a queimação no peito e garganta carcomiam-lhe a alma. O suor banhava seu lençol e seu pijama e agora o sol não mais estampava o teto do quarto. Sentiu-se cair, na verdade, deixou-se cair e sentiu que sorria agora, porque sabia que havia acabado.

Uma queda longa no escuro, sem volta, sem redenção. Até que o despertador tocou pela quarta vez e se viu atrasado para o trabalho. Durante o banho, lamentou ter se cortado fazendo a barba e sorriu um sorriso tímido...

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