quinta-feira, 11 de abril de 2013

BIZARRICES DE UM CONGESTIONAMENTO

Quando se fala de trânsito, quase se coloca, de imediato, São Paulo, aqui no Brasil. E numa metrópole como esta, onde existe até uma rádio dedicada somente a ele, onde a alegria do morador é encontrar um caminho exclusivo, onde há um rodízio aos carros, qualquer ser tem histórias de sobra sobre.

Deveria haver um kit de sobrevivência nas ruas e avenidas da capital paulista. Enfrentar um engarrafamento, por exemplo, pode ser mais prazeroso. Por isso é comum rádios terem os melhores programas nesse horário. É comum vendedores aparecerem aos bandos – porque fome num tráfego parado é de irritar monges.

Devo confessar que usei o trânsito parado de São Paulo para várias coisas úteis. Época de faculdade, deixava para ir de ônibus, sabendo que o itinerário seria longo, assim poderia colocar a leitura dos livros em dia. Ok, confesso que já dirigi com um livro colado ao volante...

Mas, como amo criar histórias, também confesso que vários dos textos deste blog foram criados num congestionamento. Como hoje, indo trabalhar, deparei-me com o caos, que me rendeu mais uma narração.

Qualquer paulistano tem histórias sobre o tráfego caótico daqui. O recorde de congestionamento se torna uma disputa acirrada, o meu foi de 3 horas num percurso de menos de 20km.

Mas o curioso não é a coerência do relato, são as bizarrices que presenciei olhando em volta, porque, além do entretenimento do rádio, nada mais se tem para fazer.

Existe um viaduto na radial leste, principal e infernal via entre meu bairro e o centro, de uns 300 metros. Num percurso normal, você completa o trajeto em menos de 1 minuto. Lembro-me de que um dia, na entrada dele, o trânsito parou. Logo você começa a olhar aos lados.

O casaco amarelo me chamou a atenção. Era uma mulher com um pacote subindo o viaduto, fazendo o mesmo itinerário do que eu. Enfim, algo deve ter me distraído e segui no para-e-anda irritante. Minutos depois, lembrei-me do casaco, olhei aos lados e para frente e para trás, nada. Se ela não se atirou lá de cima, deve ter desistido de subir.

Qual não foi a minha surpresa que, depois de mais de dez minutos, o trânsito deu uma fluida ótima e eu a encontro terminando o trajeto antes de mim. Quem mora aqui, sabe que isso pode e aconteceu.

De gente descendo do carro para comprar amendoins, de gente descendo com crianças, que urinavam na rua vê-se de tudo. Porém o mais bizarro que testemunhei foi no itinerário da zona norte à zona sul.

Em determinado trecho, trânsito parou. Havia vários moradores de rua à minha esquerda e o que me chamou a atenção foi a triste cena de um deles escovando os dentes, usando a água da sarjeta. E o que era para ser desolador se tornou surreal. A parceira, ou sabe-se lá quem era, aparece correndo até o rapaz com um celular em mão.

Sim, moradores de rua envoltos à tecnologia, e até aqui você pode não se espantar, mas em 1998, quando eu ainda vibrava com meu primeiro aparelho, era algo não crível. Claro, o carrinho do carroceiro, repleto de lixo e com dois cachorros, estava estacionado, e o trânsito naquela via também.

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