quarta-feira, 17 de abril de 2013

NÃO FOI SACANAGEM...

O lado ruim de se morar em uma casa geminada é que a privacidade acaba sendo um momento raro e, muitas vezes, só acontece quando ninguém diz coisa alguma. O lado bom é... É...

Que seja. Quem mora numa sabe que segredos, brigas, comentários, os vizinhos da esquerda e da direita em poucos dias já faziam parte do seu dia a dia. E, como o ser humano acaba se acostumando a tudo, conviver com a intimidade alheia deixa de ser anormal e passa a ser corriqueiro, gerando até uma carência quando tudo está quieto.

Cresceram numa casa geminada, não se sabe quanto da vida deles foram expostas, mas, quando se é criança, não se pensa a respeito. Ou, se pensa, com certeza é porque a exposição acaba sendo inevitável.

Havia um banheiro nos fundos, atravessando o quintal, colado ao quartinho de bagunças. Quis aquela tarde que o banheiro de cima estivesse ocupado. O menino teve de correr ao dos fundos.

Concluída a obra (ambíguo isso, né), ele e seus 12 anos se encontraram desamparados. Sim, não havia papel higiênico por lá. Tensão. Aquela sensação de pavor. Abriu a porta, esticou a cabeça, ninguém.

Levantar-se e procurar ajuda era inviável, porque, se fosse para levantar e andar... Melhor deixar a imaginação correr solta.

Rezou para alguém aparecer. Escutava o cachorro da vizinha latir, uma conversa entre casais e, principalmente, os convidados da casa à esquerda, bem como o cheiro do churrasco naquela domingo. Ninguém.

Pensou em chamar por alguém, mas ficaria evidente demais. Lembrou-se do irmão. Pegou o celular e mandou um SMS: “Cadê você?”. “Aqui no quarto, por quê?”. “Pode vir até o quintal?”. “Pra quê?”. “Desce, vai!”.

Em segundos o menino aparece. Abre a porta de tela e vê o rosto do irmão, que escancara a porta, mostra o rolo de papel higiênico, balbuciando: “Acabou o papel”.

E o mais velho não teve dúvidas, de lá mesmo, em alto e bom som:

- Mãe, acabou o papel higiênico do banheiro daqui debaixo e o Juninho precisa se limpar, onde tem?!

As risadas dos convidados vieram antes da ajuda do irmão, que jurou que não fez de propósito. Pior para o caçula que, por causa do papel higiênico, teve de assumir o papel de ingrato e o de cagão da tarde.

 

 

 

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