terça-feira, 9 de abril de 2013

JOHNNY BE GOOD!

E coube à família serem 4, pai, mãe e filhas. E coube à família nascerem todos numa mesma semana, o que significava quase duas semanas de festas e de preparação. Todo mês de julho era assim, 4 festas ininterruptas. Semanas antes, a mãe se entregava a tudo. O cheiro de bolo e das empadas de queijo embalava o sobrado.

E não era incomum alguns parentes mais próximos acamparem por lá por dias, festas de fim de ano no meio do ano, os eventos eram mais disputados que um espaço na Time Square em dezembro.

E numa dessas festas, uma das meninas, já com 30, ganhou um coelho. Sim.

Um coelho, não era um cão ou um gato, mas um coelho. Tudo bem que nas noites de tempestades, os pais as incentivassem a ficar do lado de fora e se imaginarem enfrentando Poseidon.

Ou quando convidaram o professor de matemática da caçula para um chá, por ser o primeiro a dar uma nota baixa às estudiosas.

Um coelho até seria coerente a tudo isso. Indagado, o pai apenas arriscou: “um dia você vai me agradecer por ter recebido o Johnny”.

Dois anos depois, o pai, vítima de câncer deixou uma data aberta no calendário das festas. Ainda no hospital, ele fez as mulheres jurarem que as celebrações continuariam, e que fariam um bolo a ele, mesmo que não estivesse lá para soprar as velas.

E no ano seguinte, o pai esteve em foto, na frente do bolo e, mesmo que as velas não tenham sido sopradas, ele sorria durante o “Parabéns”.

As tempestades e Poseidon não davam mais as caras por lá, porque não seriam páreo à dura realidade que soprava por ali. Dessa vez foi a mãe que deixaria o bolo embatumar e as empadas queimarem.

5 anos e 20 festas depois, ela estava no hospital, lutando para que as celebrações ainda ficassem intactas. Lutou com tudo que tinha, entretanto não conseguiu mais apagar as velas e se foi.

No ano seguinte, naquela semana de julho, a irmã mais velha teve uma viagem a trabalho. A caçula não se lembrou de quem era a festa naquele dia. O que realmente não esqueceu foi que não havia mais o cheiro do bolo ou das empadas de queijo. O vaivém estava quieto e o silêncio daquela manhã a ensurdecia.

E chorou, chorou como nunca, porque, mais do que sozinha, estava sem ninguém. Sentiu a caluda casa a romper-lhe os tímpanos e desejou por um milagre. Sim. Um milagre que apareceu e lhe lambeu os pés, não como um cão nem como um gato, mas como coelho.

Sim. O próprio. Ela, que já tinha enfrentado deuses e notas baixas, fez o que tinha de fazer. Sorriu ao Johnny, abraçou-o firmemente e soube que o amor que sempre esteve com ela ele sentia também, ele recebia também.

E sem bolo nem empada, fez a única coisa que tinha de fazer, beijou seu orelhudo e disse no ouvido dele: “obrigado, pai”.

 

 

 

 

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