segunda-feira, 22 de abril de 2013

QUEM DIRIA...

Cíntia Bertaccini estudou comigo e com meu gêmeo de 1979 a 1987. Num bate-papo despretensioso, entre histórias novas e velhas, eis que, dia desses, ela me relata uma, ainda na incerteza de saber se eu protagonizei ou meu irmão.

Antes de começar o relato, deixo claro aqui, sem orgulho ou demagogia, que nunca consegui colar numa prova. Preferiria o zero iminente ao risco da vergonha com o professor e da surra da minha mãe.

Não faltaram oportunidades para tal, nem no ensino fundamental, no médio e na faculdade. Fato é que jamais tentei algo ousado, porque minha cara e minhas ações seriam meus melhores delatores da infração.

E se eu, cuja dedicação com o estudo nunca foram lá louváveis, não teria coragem de colar, a fama do meu gêmeo então... Era mais fácil o papa soltar um impropério durante a Missa do Galo do que o Luciano se envolver em algo escuso como esse.

Ouso dizer que a coisa mais condenável que ele tenha praticado fora a vez que ele caiu, empurrado por mim, e não me desculpou pelo sangue que lhe escorria da cabeça.

O ano é 1986. No meio de uma prova de Geografia, Cíntia, a amiga real e virtual, completava as lacunas do saber. O improvável acontece durante os minutos tensos. Ela não sabe se eu – provavelmente, mas minha memória não me deixaria esquecer – ou o Luciano, vira-se para ela e pergunta a resposta da primeira lacuna.

Tensa, ela responde que o rio que nasce no monte Viso e deságua no mar Adriático é o Pó. Não se sabe se a pronúncia lhe era ótima ou com sotaque gripado. O pidão insistiu: “Como?” – e ela: “Pó”, balbuciando de modo tenso e trêmulo. Não se sabe quantas vezes ela teve de repetir “Pó”. Cabem umas dez vezes até que a resposta viesse.

Satisfeito com o acerto, não houve mais questionamentos.

Na semana seguinte, durante a entrega das notas, o professor chama por mim ou pelo Luciano e em alto e bom som, declara:

- Da próxima vez, use um cotonete quando sua amiga te ajudar, porque rio Bó não existe!

A sala veio abaixo. Como professor hoje, somente hoje, deveríamos, ou eu ou o meu gêmeo, saber que os educadores têm ouvidos afiadíssimos. E a lição ficou dada.

Como eu disse, minha memória é excelente, se coisas amenas não me fogem da lembrança, tenho certeza de que isso me levaria à vergonha dos infernos e ficaria marcado para sempre.  E como nada é impossível nesse mundo, quem diria ver um papa soltando um “CAZZO!” no meio da Missa do Galo...

Francamente...

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