quarta-feira, 24 de abril de 2013

MAMÃE, MAMÃE, MAMÃE...

Só existe uma coisa pior às mulheres do que liquidação perdida, roupas iguais, meia-calça furada e unha quebrada: CONCORRÊNCIA. Ele, filho caçula o último do clã, xodó da mãe. O maior companheiro, confidente, digamos que ele seria a filha que ela não teve. Entretanto, havia algo em seu caminho, a primeira namorada. Aos 23 anos, o caçula se amarrava sério. Isso significava menos tempo com ela, a vida se dividia entre o estágio, a faculdade e a namorada.

Os dois irmãos já haviam se casado, e o curso natural de tudo seguia. Mas não devia ser daquele jeito. Desde o dia em que se conheceram, gregos e troianos, franceses e ingleses, judeus e libaneses tinham de dividir a mesma vida. Não que a moça fosse um primor, mas qualquer uma que aparecesse naquele dia, com aquele avatar, seria reprovada de cara. Era como levar um vegetariano a um churrasco, ainda que a picanha fosse de primeira, a recusa era certa.

O coitado tinha de ficar como a Suíça entre Irã e Iraque, sentia-se as próprias Malvinas. Páscoa, Natal, aniversários, qualquer que fosse o evento, uma farpinha daqui, outra farpinha dali. Um olhar mal-interpretado, uma palavra ambígua e inúmeras situações péssimas. Não cabe aqui saber quem tinha razão, cabe nos deliciarmos com determinadas situações.

Em se falando de aniversários, quando, nos anos seguintes, eles caíam em dias de semana, a disputa era para ver quem o cumprimentaria na frente. E também, nem vamos levar em conta o dia da formatura, em que a nora armou o jantar surpresa na pizzaria, mas o pai teve de pagar tudo, sem a intervenção da mãe. Ou quando no aniversário da garota, esta ganhara uma saia três vezes o número dela, afinal, “ambas vestiam quase a mesma numeração” –essa foi ótima. E o coitado tinha de ouvir de ambos os lados.

Convenhamos, a menina nada fizera, apenas aparecera na vida do menino, provocação suficiente aos ataques daquela mama italiana. Sempre a senhora fora mais ofensiva do que a nora, que também tinha mãe, e que, a conselho desta, nada fazia contra a sogra. E como o destino e o ardil quiseram, todos os golpes foram contra-atacados com um gesto só: o casamento.

Sim, depois de quase 4 anos de namoro, eles se casariam. E digamos que não foi exagero da mama chorar por quase uma semana todas as noites, esperando o filho voltar das aulas que dava até 23h num cursinho. A rainha estava encurralada. Não havia mais nada a ser feito, a princesa tomara a dianteira e brilhantemente colocara um hiato profundo entre os dois. Nada mais deveria ser feito. Ela acatara. Resolveu levantar a bandeira branca da paz. As injúrias foram se apagando, a vida foi seguindo e até as duas estavam mais chegadas. Chás à tarde. Compras aos sábados. Ajuda na escolha de roupas e convites. A geladeira e o fogão como presentes. O rapaz estava radiante, a menina não cria que fosse verdade e a mama era só doces, mimos e sorrisos. Paz.

E o assunto surgiu num domingo à tarde, na semana do evento. Uma inovação, se a noiva entraria com o pai, porque o noivo não entrava sozinho com a mãe? Ora, um pedido ingênuo, e o sim não titubeou a aparecer. Ele seria conduzido pela mama até o altar, nada mais alegórico, nada mais original. As cunhadas adoraram, todos adoraram, os sorrisos eram fortes e sinceros. As rivais enfim se juntavam e ao som de We are the champions, orquestrada e com um coral fabuloso, a mãe e o caçula seriam o abre-alas da personagem principal da noite. 

Enquanto entravam, a mama disse que iria ao banheiro e que não demoraria. O caçula já tenso com tantas atribulações apenas pediu para que ela fosse rápido.

Mal os padrinhos acabavam de se ajeitar no altar, a mama aparecera. DE PRETO! Sim, trocara o vestido, vinha com um longo, negro, lindo, e completamente fora do tom. Era uma cereja numa feijoada. Esperou os primeiros acordes, nem deu chance ao filho de balbuciar algo e entraram. Sim, era o hino da melhor e mais astuta vencedora de todos os tempos.

Conseguiu por semanas conquistar a inimiga para, num golpe genial, marcante e eterno, deixar aquele vestido de pano de cozinha no chinelo. E havia um véu (risos), sim, um véu negro que cobria a tristeza daquela Corleone genial. Como num cortejo fúnebre, foi a primeira vez que uma missa réquiem e um matrimônio entravam de mãos dadas.

E o clichê antagônico dizia “presente”, vida e morte, começo e fim, gregos e troianos, ingleses e franceses, judeus e libaneses, sogra e nora dividam literalmente a vida do rapaz. Houve quem a odiasse, houve quem a aplaudisse, mas uma coisa é certa, todos ficaram embasbacados, boquiabertos, pasmos, catatônicos, e o resto da história virou lenda, e os desejos do sacerdote tornou-se real:

- ... Até que a morte os separe!

E ela esteve lá, de vestido e véus pretos e atendia por “mamãe”.        

 

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