quinta-feira, 25 de abril de 2013

TEMPOS DE "MERDA"...

Na entressafra de emprego, qualquer coisa é válida para tentar uma guinada na sua vida. Lembro que em 1993 estava louco atrás de um. Devo confessar que este ano foi determinante a muitas coisas. Foi a primeira vez que vi o Palmeiras campeão, foi o ano que conheci OS ANOS INCRÍVEIS e foi o ano que o teatro invadiu minha vida e me fez amar ainda mais a arte.

Perto de um colapso, lembro que fazia inglês na época e dividia meu verbo to be com classificados dos jornais e a programação de TV na madrugada. Talvez tenha sido aquele programa na Record, havia um culto evangélico e o pastor berrou olhando para a câmera: “Você que está desempregado, pegue sua carteira agora e berre aos céus, Senhor, salve minha vida!”.

O desespero faz isso, corri para minha carteira, levantei-a, mas não poderia berrar, porque em minha casa na época eu era o único sem horário para levantar diariamente. O berro não saiu, mas a fé falou bem alto.

Dias depois, um vizinho músico me convidou para um teste numa peça infantil, seria parceiro dele tocando violão. Cazzo, genial, além de artista, o show bizz receberia o melhor contador de piadas da família. Lembro que numa noite, depois da aula de inglês, o Marcelo me levou até o teste.

Fui aceito e comecei a ensaiar as músicas. Ensaios e mais ensaios. E aquele cheiro da coxia foi impregnando em minhas veias. Estava dentro do cenário do teatro brasileiro. Ok, não tão dentro assim, ficávamos ao lado, acompanhando os atores com cantorias lindinhas da peça infantil e contracenando em todos os atos.

Dois meses depois, a peça O COLORIDO CAMINHO DO CORAÇÃO estrearia no teatro Flávio Império, zona leste de São Paulo, para convidados, parentes e afins. Tensão. Meus pais estavam lá, meus irmãos estavam lá, amigos estavam lá. Casa cheia.

A entrada dos músicos se dava do fundo do teatro, tocando os violões e cantando com os atores. Parávamos os dois em cada escada de acesso ao palco, apoiando os instrumentos nas pernas e embalando a multidão, que nos acompanhava com palmas.

Tentei evitar o figurino, mas nada demais. Ficávamos inteiro de preto, com um babado laranja no pescoço e um adorno vermelho em forma de triângulos de quatro pontas. E a maquiagem? Pó no rosto, lápis nos olhos e batom vermelho, fato que fez meu pai indagar, ao término da peça, entre os parabéns de todos: “Essa maquiagem é necessária?”.

O musical infantil era fantástico, cativante. Minha mãe e minha prima de 6 anos perderam as contas de quantas vezes assistiram ao espetáculo. Foram centenas de apresentações, em 3 teatros diferentes, durante dois anos. Dezenas de escolas públicas fechavam passeios para nos ver, por 60 minutos, eu me sentia um Molière.

Todas as apresentações foram mágicas. Pois as crianças nos faziam sentir superastros - até autógrafo cheguei a dar -  em cada aplauso, riso e xingamentos ao vilão. Vivi bons momentos no palco e trouxe todos eles comigo nas minhas aulas no cursinho.

Pois é, os tempos de “merda” foram marcantes. Confesso que muitas vezes, à noite, eu fecho os olhos e me lembro das palmas das crianças, numa cadência deliciosa, num coro ingênuo e sincero:

- Começa! Começa! Começa!

2 comentários: