Estavam
atrasados para a escola.
Ele
tentou novamente, mas a filha não respondeu. Preocupado, foi até, abaixou-se e
perguntou qual era o problema. Nada. Ele olhou para baixo e viu um dos cadarços
desamarrado. Sorriu.
-
Quer aprender a dar um laço? Eu ensino você.
Ela
sorriu como nunca e prestou atenção em cada gesto que ela fazia. Não precisou
contar histórias, foi prático e rápido. O pai perguntou se podia desamarrar
para que ela tentasse. Ela assentiu, e assim o fez.
Calma
e compenetradamente, via-se a língua escapando-lhe da boca, ela repetiu passo a
passo o que aprendera há minutos. Não saiu perfeito, mas o laço estava lá.
O
dia dela estava mudado para sempre.
Entrou
triunfante pela escola a saltitar como nunca. Queria berrar aos ventos que, aos
4 anos, sabia ela mesma dar um laço como ninguém, afinal a avó teria dito isso.
Durante
a aula, a professora resolveu fazer uma interação e perguntar qual era o
talento de todos lá, o que sabiam fazer de melhor.
Uma
a uma, as crianças foram levantando e falando. De jogadores de futebol a
dançarinas. De lutadores de judô a professoras de bonecas. De bombeiros e
super-heróis a secretárias executivas, ouviu-se de tudo por lá.
Quando
chegou a vez da menina, todos escutaram quietos o talento único dela. Não houve
aplausos, não houve sorrisos. Houve apenas um silêncio meio constrangedor e
misterioso.
Na
hora do intervalo, um amiguinho chegou perto dela e pediu que o ensinasse a
amarrar o tênis. Pronto. Outro viu e se entusiasmou. Pronto. Logo, uma fila de
alunos se fez frente à menina que exibia, sorridente, o talento que herdara do
pai há pouco.
Ela
não era dançarina, secretária, bombeiro, jogador de futebol, super-herói ou
professora, mas sabe de uma coisa? Nenhum desses profissionais conseguiria
sair do lugar com o sapato desamarrado.
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