sábado, 13 de abril de 2013

CEREJEIRAS EM FLOR

Você sabe o que é Hanami? No Japão, eles nomeiam o ato de contemplar as flores. Ou seja, quando as flores aparecem nas cerejeiras. Japoneses e turistas dividem o chão, entre cobertores, sentam e ficam olhando a beleza das cores desse espetáculo fabuloso.

Por si só, o momento seria único, mas ainda bem que existem talento, sensibilidade, criatividade e o cinema. Numa produção franco-alemã, de 2008, sob o olhar feminino de Doris Dorrie – sempre defendo que a ótica feminina sempre é algo fenomenal, e aqui a direção e o roteiro são dela – CEREJEIRAS EM FLOR é algo obrigatório para quem ama cinema, flores e a vida.

A maior parte do filme se passa no Japão, e o mais interessante são os idiomas que se mesclam. Há alemão, inglês e japonês, porém a linguagem do sensível, do delicado e da alma não precisa de tradução.

Comecei a assistir ao filme e percebi a frieza alemã de uma família nada unida, a não ser pelo casal setentão Rudi e Trudi (desafio a saberem quem é o marido, quem é a esposa). Os filhos sem tempo aos dois, que têm uma vida pacata e sistemática longe de Berlim.

Sabendo que o marido tem pouco tempo de vida, a esposa decide – por um conselho dos médicos – que façam algo juntos, uma viagem ou algo desse nível. Decidem visitar os filhos, mas percebem que os rebentos não são mais compatíveis, e os pais acabam se tornando um peso a eles.

Os dois decidem então seguir para uma cidade do litoral. A mulher, sofrendo calada pela iminente perda do marido e amante do Butô, dança japonesa que incentiva a arrancarmos as nossas máscaras e descobrirmos nossa realidade – passa a intensificar isso na vida dos dois, procurando extrair o máximo do marido, incentivando-o a dançar, a viajar, até a assistir a um espetáculo dessa arte.

Quem sabe uma viagem ao Japão, para ver de perto e - somente com ele - tudo o que sempre sonhou nos tempos em que ela se dedicou à arte. Mas o pacato e sistemático esposo prefere a lógica, mantém-se leal a ela, porém sem mais aventuras.

O que acontece? Prefiro não falar, assistam. A diretora consegue num roteiro tão primoroso e numa visão tão plástica detalhar a morbidez da vida dos dois no início do filme, mas a reviravolta que o longa ganha a cada minuto é de uma surpreendente e marcante mensagem para nossas vidas.

Existem filmes que podem mudar sua vida, sua maneira de pensar, quebrar tabus ou sugerir outros, essa produção – sem medo – arrisco dizer que não mudou em nada, foi melhor, ratificou a certeza de que o medo mata a pessoa, de que o não-tentar apenas é a sombra nua e parada num escuro.

A música, as imagens, os sentimentos, a lealdade, coisas que o cinema e a arte podem nos dar, coisas que a vida tem e que - se não prestarmos atenção nisso – perderemos a conta de quantos funerais protagonizaríamos numa vida toda. CEREJEIRAS EM FLOR não merece entrar na vida de todos, deve entrar apenas na vida de quem quer viver.

 

 

 

 

 

 

2 comentários:

  1. Esse é um dos meus filmes favoritos!
    Quando assisti exerceu um fascínio sobre mim, pois além do desfecho impressionante me apresentou para uma das danças que mais aprecio hoje, o Butô.
    Assisti muitos vídeos de grandes mestres, como os do próprio Tadashi Endo que aparece no filme numa performance incrível.
    Concordo contigo que é um filme sobre a vida, e o quanto desperdiçamos tempo protelando coisas que deveríamos tentar fazer de uma vez, já que o nosso tempo nesse mundo pode terminar a qualquer momento.
    Sonho em aprender a dança apesar da idade e a forma física não ajudarem muito.
    É um filme inspirador! E tive a felicidade de assistir um grande espetáculo de Butô ao vivo. Nunca esquecerei.
    Obrigada por compartilhar suas impressões Adriano.
    Esse tipo que cinema que nos move a divulgar no site e nos podcasts, eu quero que muitas pessoas conheçam!

    Um grande abraço :)

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    1. Conheci o trabalho de vocês pelo Lucas e achei fenomenal, um elgoio e um apoio vindo de vocês é um fôlego e tanto para seguir comentando sobre filmes sublimes como este aqui! Um abraço!

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