sexta-feira, 5 de abril de 2013

DESTINO?

Quando acordou pela manhã, estranhou ver aquela foto em suas mãos. A amiga de nãos atrás apareceu para um bom-dia inusitado. Não soube o que raciocinar primeiro: como ela foi parar ali, onde estaria a foto e como a encontrou. Mal trabalhou direito tentando juntar todas aquelas peças.

E teria sido apenas uma curiosidade se na manhã seguinte não tivesse acontecido a mesma coisa. E, para piorar, não se lembrou onde colocou a foto, mas talvez o sonambulismo fosse seu melhor GPS. Mas por que tudo aquilo? Descobrir-se sonâmbulo, vasculhar uma foto, a mesma foto? Não titubeou. Pediu para que a mãe escondesse aquela foto e que ela não falasse o local.

Não soube se passou o dia mais tenso em resolver as duas coincidências ou imaginar que uma terceira pudesse acontecer. Saiu com os amigos, mas não bebeu, escolheu estar bem sóbrio. Chegou em casa e antes de dormir certificou-se de que a foto não estava por ali e escutou o dever cumprido da mãe.

Na manhã seguinte, antes mesmo de abrir os olhos, sentiu algo em suas mãos: a foto. Destino? Não a via há anos, desde o casamento dela. Tinha se mudado para França. Decidiu arriscar pelas redes sociais e a encontrou. Em menos de duas horas, soube que estava separada há meses e de volta ao Brasil.

O encontro não tardou, um café depois do trabalho trouxe momentos deliciosos aos dois. Quase contou sobre a foto, mas achou piegas e previsível demais. Calou-se. Com a promessa de um cinema, voltou pra casa. O momento do sono passou a ser um acontecimento. Não saberia o que pensar se acordasse de novo com a foto, não saberia o que pensar se acordasse sem a foto.

Em todo caso, deixou-a no criado-mudo. Na manhã seguinte, sorriu aliviado ao sentir algo em suas mãos. Não era sonambulismo, era coincidência mesmo e que poderia esquecer essa curiosidade. Mas não. Não era a foto que estava consigo, mas o recorte do filme que prometeram ver. Deu um pulo, o coração parecia sair-lhe da boca.

E a tesoura? Como leu? Como procurou? Decidiu falar. Não, melhor não. Cada vez mais certo de que algo mágico acontecia. Seria ela? Mas depois de tantos anos e de uma pequena paixão que nunca aconteceu? Marcaram o cinema e talvez tenham se dado as mãos meia hora do final da projeção. Jantaram e se beijaram na porta do prédio dela.

Os encontros começaram a ser mais frequentes. Bares, restaurantes, viagens, meses depois estavam na mesma casa. E, quando fazia as malas para algo definitivo, viu a foto que iniciou tudo. Teve uma enorme vontade de contar, mas não, porque há coisas que não devem ser ditas, porque a poesia falaria por si só. Aquele seria o segredo dele.

Bem como o segredo da mãe e da repatriada, que já tinham silenciado as coincidências combinadas entre si.



 

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