sábado, 6 de abril de 2013

A PRECISÃO DOS PACIELLO

Se meu irmão mais velho fosse me cobrar por todas as vezes que eu dedico um texto a ele, estaria em débito por vidas. E aqui vai mais uma história envolvendo a infância dos irmãos Paciello.

E, pra variar, as personagens encarnando as mesmas personalidades. Luciano, o santo, Adriano, o pentelho e Marcelo, o cão. Mas aqui o destemido tinha de ser incitado e todos vão concordar comigo.

Em 1984, estávamos numa tarde em casa. Eu e meu gêmeo na parte de cima da casa, e o mais velho na sala, desfrutando de sua mais nova aquisição: um LP dos Scorpions.

Abro aqui um parênteses, Marcelo tinha um ritual todo especial para escutar rock’n’roll. Sentava no meio da sala, aumentava o máximo que minha mãe pudesse permitir, até fazer os vidros fumês de casa tremerem e virava as caixas de som para si, fazendo uma acústica especial, pelo menos era o que ele dizia.

Enfim, sabe-se lá por qual motivo, eu e o Luciano começamos uma briga, mas a certeza é que ele deveria ter razão e eu era o culpado. E os afagos vieram com ataques de chinelos um no outro. Adorávamos as miras e a disputa começou, não sei quem acertou mais, sei apenas que o Luciano conseguiu se desvencilhar de mim e desceu correndo.

Não tive dúvidas, corri atrás, até o meio da escada e sapequei uma chinelada estupenda...

... Em cima do toca-discos, cuja tampa baixada protegeu o LP do ataque, mas não a ponto de não fazer a agulha pipocar o importado e pular a música.

Tensão...

Eu olhei aterrorizado àquilo. Os olhos do meu gêmeo se dilataram, primeiro olhando ao chinelo, depois encarando os do Marcelo e depois a mim. Troquei um olhar longo com o Luciano e tentei, por segundos, evitar o do mais velho, mas foi inevitável.

Olhos vidrados, vermelhos, aterrorizantes. Ele apenas me encarou e disse um convidativo:

- Corre...

Juro que eu estava a uns 5 degraus do topo e sumi. Juro que o Marcelo em três, exatos três passos quase me alcançou e, em menos de 10 segundos depois, esmurrava a porta trancada do banheiro. Consegui raciocinar, porque o medo faz isso.

Eu via a porta rangendo, quase se partindo em pedaços, aos berros de “eu vou matar você” e eu implorando pela minha vida e pela minha mãe.

Por sorte o LP ficou intacto. Por sorte as batidas na porta cessaram, por sorte minha mãe era certeira e os dardos tranquilizantes, exatos 4, fizeram o Marcelo dormir por umas 10 horas...

 

 

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