domingo, 7 de abril de 2013

SOMENTE A NORMALIDADE DO EQUILÍBRIO

E vemos um homem sentado no topo de uma montanha, olhando para baixo e vendo a vida acontecer. Tentou divisar sentimentos, fatos e futilidades, porém o que enxergava eram apenas as nuvens que lhe tampavam a visão. Não sentia frio, não sentia calor, ermo a tudo, não teve paz, não teve angústia, somente a normalidade do equilíbrio.

Pensou no que tinha vivido até lá, não teve orgulho, não teve decepção, não lamentou algo ou sorriu com outro. Não lembrou amores, não recusou desafetos, não chorou, somente a normalidade do equilíbrio.

Não se lembrou de canção alguma, não conseguiu saber quais eram seus livros preferidos. Não saberia pontuar a quantos filmes assistiu, muito menos idolatrar atrizes ou atores, somente a normalidade do equilíbrio.

Se lhe perguntassem quais eram os alimentos que lhe davam água na boca, ficaria quieto. Se lhe perguntassem quais eram as cores que mudavam seu dia, estaria cego. Se lhe perguntassem quais línguas saboreou, estaria mudo, somente a normalidade do equilíbrio.

Nunca teve uma blusa manchada, nunca teve uma lambida de cachorro, nunca correu pelo campo molhado ou tropeçou numa pedra. Jamais se cortou com a gilete, nunca esfolou o joelho ou lhe pentearam o cabelo, somente a normalidade do equilíbrio.

Nunca provou algodão doce, nunca furou um bolo com o indicador, nunca sugou um delicioso milk-shake e jamais queimou a língua com pipoca. Não detestou rúcula ou amou batata frita, somente a normalidade do equilíbrio.

Forçou o pensamento em pessoas e percebeu que jamais odiou nessa vida, jamais teve remorso, nunca se arrependeu, nunca ofendeu, nunca se ofendeu, nunca amou, somente a normalidade do equilíbrio.

Nunca sentiu solidão – boa, mas nunca se sentiu amparado. Nunca abraçou ou beijou, nunca foi abraçado ou beijado. Não conheceu Paris nem a periferia. Não se abrigou de uma chuva de pingos ou de uma chuva de lírios, não estourou as bolhas de plásticos nem viu um filme de Woody Allen, somente a normalidade do equilíbrio.

Não jogou uma moeda na Fontana di Trevi, não assistiu a um show da Broadway não andou de roda gigante nem esbravejou em um congestionamento, nunca comungou, nunca pecou, nunca foi santo, somente a normalidade do equilíbrio.

E então, levantou-se, tirou um livro do bolso, as páginas em branco significavam nada. Deve ter forjado seu próprio destino. Olhou aos lados, ninguém. Olhou para baixo, e as nuvens continuavam por lá. Sentiu uma doce brisa a tocar-lhe o rosto e aquilo foi bom.

Pela primeira vez na vida, sorriu e sentiu. Pela primeira vez na vida perdeu o controle e se atirou no precipício, foi a morte mais feliz que alguém pôde ter nesse mundo.


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