Estava
na cama há meses. A doença degenerativa não escolhe saldo bancário, mas quando
escolhe, sempre tem uma acolhida confortável.
Era
virado pra cá, era virado pra lá. Conseguia ao menos abrir a boca pra comer.
Engolia palavras, decidiu desperdiçar mais nenhuma. A enfermeira bem que
tentava, as visitas também, mas o olhar, que sempre estivera perdido, procurava
algo que nem ele saberia explicar.

Do
momento que abria os olhos até o momento de calá-los, era essa a sua visão.
Olhava pela janela e, durante as 8 horas acordado, enxergava além. Mesmo que
ninguém conseguisse ver seu sorriso, porque sorria pra si, e sorrir
egoisticamente é o mais saboroso deleite.
Se
iria morrer, que fosse daquela forma, com aquela lembrança: tinha 12 anos
quando, pela janela, a viu pela primeira e última vez. Passou a vida inteira
tentando perguntar o nome dela, passou a vida inteira com a imagem mais
acolhedora que contornara, passou a vida inteira sem saber que seria a melhor
coisa que protagonizara.
E
pela janela o mundo o viu morrer naquela manhã, e pela janela, somente por ela,
ele ficou sem saber quando a veria de novo.
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