quinta-feira, 6 de setembro de 2012

QUEM ERA AQUELA MENINA?

Não sabia há quanto tempo estava olhando pela janela. E tanto tempo assim não foi o suficiente ao menos pra se deliciar com o longínquo pensamento que, somente há dias, tomava conta de suas lembranças.

Estava na cama há meses. A doença degenerativa não escolhe saldo bancário, mas quando escolhe, sempre tem uma acolhida confortável.

Era virado pra cá, era virado pra lá. Conseguia ao menos abrir a boca pra comer. Engolia palavras, decidiu desperdiçar mais nenhuma. A enfermeira bem que tentava, as visitas também, mas o olhar, que sempre estivera perdido, procurava algo que nem ele saberia explicar.

Bendito momento aquele. Tantos meses sem nada pra se apegar até morrer, e justamente agora, que tinha um, decidiu pensar atabalhoada e desesperadamente, como uma criança prestes a largar a chupeta – sugando-a até perder o sabor da infância.

Do momento que abria os olhos até o momento de calá-los, era essa a sua visão. Olhava pela janela e, durante as 8 horas acordado, enxergava além. Mesmo que ninguém conseguisse ver seu sorriso, porque sorria pra si, e sorrir egoisticamente é o mais saboroso deleite.

Se iria morrer, que fosse daquela forma, com aquela lembrança: tinha 12 anos quando, pela janela, a viu pela primeira e última vez. Passou a vida inteira tentando perguntar o nome dela, passou a vida inteira com a imagem mais acolhedora que contornara, passou a vida inteira sem saber que seria a melhor coisa que protagonizara.

E pela janela o mundo o viu morrer naquela manhã, e pela janela, somente por ela, ele ficou sem saber quando a veria de novo.

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