Morava
numa vila, aconteceu durante o futebol do sábado à tarde, dia anterior à
comunhão do menino - quem já jogou bola sabe que, quando se está desmarcado, e
a bola não é passada a você, ninguém gritaria: “Caramba, amigão, eu estava
livre, que pena, tentemos na próxima jogada.” Não.
-
CARALAHO!!! PUTA QUE PARIU, você não me viu livre???
De
imediato, a janela de uma das várias casas geminadas se abriu, e mãe do
coroinha quase engasgada, entre o ódio, o inconformismo e a vergonha, ordenou:
-
Pra dentro! Você se confessou ontem, seu boca suja!
O
centroavante, cabisbaixo, teve de obedecer a ela, e entrou sobre gargalhadas e
as imprecações do time, porque ficariam com um a menos.
Nunca
foi vingativo até aquela hora. Vergonha. Por instantes tornou-se Smeagol.Tinha
de devolver na mesma moeda.
Domingo
de outubro, dia da comunhão. Entrou na fila para pegar a hóstia, passou pela mãe e a
viu em prantos, um santinho aquele gordinho. Ele tomou a comunhão, não
conseguiu tirar com a língua a bolacha presa no céu da boca e – assim que o fez
com o dedo - não titubeou.
Ao
passar perto da mãe, fez da hóstia o chiclete preferido e a mastigou até ver as
lágrimas dela subirem aos olhos e reverterem-se em ódio vidrado. Tenso.
Durante
aquela semana, um dos times sempre estava com um a menos, porque as marcas das
cintadas ainda estavam roxas nas coxinhas grossas. Mordeu o corpo de Cristo e
engoliu o pão que o diabo amassou.
Que delícia! "Mordeu o corpo de Cristo e engoliu o pão que o diabo amassou" Finais assim tão bons, me faz lembrar porque amo ler e escrever!
ResponderExcluir[]s, professor!
Professora, obrigado! Se alguém como vc gostou, sinal de algum valor eu tenho!
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