quarta-feira, 13 de março de 2013

O PRIMEIRO EMPREGO

O primeiro emprego. O primeiro dia no primeiro emprego, aquela sensação totalmente desconfortável. Como numa festa em que você não conheça pessoa alguma. Você não ri das piadas. Você não acha o nome das pessoas na lista de ramais, você não sabe a diferença entre os colegas e os clientes. Torce para o simpático ser colega, e não. Torce para o nojento ser cliente, e não.

E a menina, novinha que só, primeiro ano de faculdade, conseguia, pelas mãos do pai, um emprego numa firma do bairro. Firma de duas pessoas, um mais novo e outro mais velho, que se odiavam de uma forma pessoal, mas se davam bem no profissional.

Um desfile de bizarrices. Desnecessário falar que a emissora do rádio era a mesma, e a moça mudava todos os dias e tinha de explicar a todos instante que não sabia quem, havia feito. Mesmo que fossem somente os 3 por lá e um ficasse for o dia todo.

Desnecessário falar que o mais velho exigisse que os recibos fossem datilografados em pleno século XXI.

Desnecessário dizer que ela trabalhasse 2 horas pela amanhã e mais 3 à tarde, por causa de ajustes ilegais trabalhistas.

Desnecessário também falar que a moça colocou ordem na mesa suja do velho e teve de tomar uma bronca por ser tão eficiente e pró-ativa.

Desnecessário dizer que as ambulâncias que ficavam na firma por um tempo ficaram na garage da família da menina, e as sirenes acordavam a vizinhança toda numa madrugada de domingo.

Desnecessário falar que ela fazia o serviço bancário de ambulância cujo motorista asmático vivia tendo crises beirando a morte.

Mas o pior foi ter de ouvir, numa manhã, sem qualquer explicação, que ela seria substituída por um rapaz. Ela saiu transtornada. 6 meses vivendo aquilo tudo e ainda isso. Voltou chorando para casa e tomou uma bronca da mãe, que disse que se fosse para chorar e reclamar que ela o fizesse ao velho.

Tomou coragem. A passos firmes subiu a rua limpando o rosto. Determinada a tudo. Pegou o velho revirando a bagunça e soltou tudo. O desdém que ele devolveu foi o suficiente para que ela virasse lenda aos motoristas das ambulâncias e arregalasse os cansados olhos:

- Vai tomar no seu cu!

E a menina virou celebridade. Quem a conhecia, sabia do seu desabafo. 

Anos se passaram, e, no itinerário dela ao ponto, ao longo desses anos, era comum que o velho estivesse na frente da firma, vendo o nada, fazendo nada. Era comum que ambos se cruzassem, era comum que ela olhasse a ele e ele respondesse:

- Boca suja!

2 comentários:

  1. Não sei se era para ser engraçado, mas juro que dei uma gargalhada ao final do texto. Adorei essa menina! Bjo

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