terça-feira, 19 de março de 2013

A DIFERENÇA DE ÍDOLO E DE DEUSES

É comum haver certos costumes em cada parte deste mundo. Se acontecimentos triviais têm lá suas diferenças mesmo tendo o mesmo fim, o que dirá de alguns comportamentos.

E aqui no Brasil ainda não alcancei o real significado da idolatria. Sim. Existe um ponto crucial em que um ídolo deixa de sê-lo e sobe a um patamar de deus: a morte.

A morte em terras brasileiras a determinadas pessoas e a determinados defuntos traz uma conotação tão sublime, tão única, que pecados são perdoados, diferenças são esquecidas e, pior, valores lhes são atribuídos.

Pense rápido, quando ler os nomes que aparecerão por aqui, compare-os a um status de idolatria no Brasil: Émerson Fittipaldi, Gustavo Kuerten, César Cielo, Nelson Piquet, Pelé, Luis Fernando Veríssimo, Maria Esther Bueno.

Tenho certeza de que você deve ter aprovado a maioria. Agora, por favor, leia os seguintes: Ayrton Senna, Denner, Mamonas Assassinas, Chorão, Cazuza, Tancredo Neves.

De cara, a diferença entre os dois grupos é a vida e a morte.

Mas existe uma diferença ainda maior entre eles: o status de deus.

O Brasil ama a morte, o Brasil ama a morte por acidente, o Brasil ama a morte em decorrência de um sofrimento absurdo e, consequentemente, eleva isso como um bônus nas qualidades já gigantescas dos que se foram.

Não questiono de forma alguma o talento daqueles que foram, as promessas que os rondavam quando foram podados no auge da carreira.

Posso me equivocar, mas acho que não. Qualquer brasileiro identificará todos os que se foram, sem exceção, como exemplo de tudo. E acredito realmente que são. Mas nem todos, aposto que metade deles, não deem o valor exato a todos que se encaixaram no grupo dos vivos.

A diferença pontual entre os dois: a morte.

Quanto mais brutal, quanto mais comovente, quanto mais sofrida, os talentos vão triplicar, quadruplicar, quintuplicar. Ouso dizer que se o Pelé fosse argentino, seria maior que Martin Luther King ou Nelson Mandela.

Não quero entender por que isso acontece aqui, mas acontece.

E o que aconteceria se Neymar, o casal da banda Calypso, o Felipe Massa e o Thiaguinho morressem vítimas de circunstâncias violentas ou sofríveis? Atingiriam o patamar de Denner, dos Mamonas, de Ayrton Senna e do Cazuza.

Morte a Émerson Fittipaldi, Gustavo Kuerten, César Cielo, Nelson Piquet, Pelé, Luis Fernando Veríssimo, Maria Esther Bueno, tornem-se deuses também.

Já o Maradona, se fosse brasileiro, seria um azar dos diabos a ele...
 

 

 

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