quarta-feira, 20 de março de 2013

"EU TINHA FOME DE TUDO SEMPRE"

Existe uma coisa na vida de um garoto adolescente além dos hormônios: a GULA. No meu caso, tal pecado capital teimar em quer dar as mãos a mim, porém eu a mantenho longe de meu raio de ação.

Posso dizer que aos 13 anos ela me conduzia a uma fúria ininterrupta de abusos, ousadias e coragem.

Lembro que me descontrolava fácil com a fome, não conseguia distingui-la da gula, para mim eram a sombra e a escuridão. Os ataques furiosos aconteciam perto do meio-dia. Quando minha mãe não servia o almoço perto disso, eu berrava dos quartos: “FOME!”.

Ou ainda, ficava sentado à mesa da cozinha, já posta por mim, dedilhando impacientemente na madeira, numa toada melancólica e irritante até que a comida fosse servida.

E as escapadas? Na surdina, nem duas horas depois, a fome me assaltava novamente, eu corria à geladeira. Era mestre em enganar os 4 de casa. Fazia nada de barulho, mas às vezes era pego, porque 5 pessoas numa casa, a circulação também se justificava.

Quem nunca me entregava era o anjo do meu gêmeo.

Abusava tanto de comidas, que em festas de casamento era comum a cólica intestinal e as dores de barriga já durante a festa, tamanha voracidade e descontrole.

Confesso que abusava, mas como, aos 13 anos, controlar isso? Não tinha essa maturidade, não tinha essa vontade. Cansei de quantas vezes ouvi coisas horríveis de minha mãe e de meu pai, que proibiram até meus amigos da rua de, se saíssem com uma guloseima, me darem. A que ponto teria de chegar: “Meu nome é Adriano, só por hoje, não comi”.

Mas o auge foi no colégio. Estudava pela manhã e não tinha fome – fato raro isso – logo cedo. Não tomava café, entrava às 7h. Às 8h, a fome me cutucava e eu detonava meu lanche na segunda aula. E, claro, ele era insuficiente.

Na hora do recreio, às 9h45, todos tinham seus lanches e eu apenas uma saída.

Havia uma bacia que a freiras do colégio destinavam aos pobres – em minha defesa, até hoje tenho certeza de que o destino não era a eles. Pois bem, era comum ver lanches deliciosos inteiros, chocolates intactos, pacotes de bolachas inalterados.

E aquilo, além de um desafio era tentador. E roubei um sanduíche delicioso de queijo e presunto. E comi feliz. E assim, começou a ser minha rotina. Se houvesse - e sempre havia – e tomava para mim.

Num dia, os amigos de sala viram e se entusiasmaram, e acabei virando o líder da bacia dos pobres, mas ao contrário. Famintos da sala estavam comigo, percebi que a fome não era só minha, que a gula também tinha braços e pernas para aliciar outros espinhentos. E isso aconteceu até o dia que terminei meus estudos por lá, um ano depois.

Não me orgulho de ter feito isso nem me envergonho, porque sabia que aquela doença seria incurável, mas por que não controlável.

Isso tudo não foi um desabafo ou um pedido de ajuda. Creio que a gula é algo frequente na vida de todos. Não me considerei um doente, no entanto não posso fechar os olhos a isso.

Hoje a gula continua a me rondar, mas distante, bem distante, porém não posso dizer que não a enxergue. Porque, quando isso acontece, eu procuro caminhar muito, antes que ela ganhe pernas e volte a dar as mãos a mim.

4 comentários:

  1. Dri, ri muito com a parte: "e acabei virando o líder da bacia dos pobres..."...kkkk...muito bom! E eu te entendo...aliás, ainda bem que vi a foto dessa pizza depois do almoço, senão comeria a tela...rsrsrs.
    Bjs

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    1. Dri, demorei mais para achar a figura ideal do que para escrever o texto! E achei uma que me deu uma gula do inferno logo após ter comido! - rs

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    2. E vou te dizer que também comeria fácil, fácil essa pizza agora!!! Está com uma cara ótima!!! E esse queijo derretendo?? Hummmmm....FOME!!! kkk

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    3. Pois é, Dri, acho que a busca valeu enão, né? - rs

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