quinta-feira, 7 de março de 2013

ELE É O BOM, É O BOM, É O BOM!

- Te ligo!

O eco que viria a seguir era comum. Nada mais do que isso. Quantidade e qualidade andavam de mãos dadas na vida daquele homem, a última calipso do mundo. Solteiro, uma cobertura a 500 metros da Paulista, sem mãe nem pai ou irmãos.

Um Audi e uma Harley Davidson, um cartão de crédito sem limites, mais de 2000 amigos nas redes sociais, fotos pelos 4 continentes, conhecedor de bons vinhos, uma minibiblioteca de mil livros, uma dezena de raridades autografadas, fotos com modelos, pelo menos todas as que comeu, compras somente na Oscar Freire, festas todas as noites, e é melhor acabar a descrição aqui porque o incômodo é iminente.

Ele sabia que havia urubus, mas nunca soube quais não eram e muitas não foram. Justificável o escudo, de grife, claro, mas a carcaça do Bate-Fino era de um aço tão resistente que daria inveja em qualquer Jesse Valadão. E digamos que ele fosse uma espécie dessas, mas com requinte, um perfume importado, jeans Diesel e dois rolex.

Há tempos parou de contar todas as conquistas, teve medo de ganhar dos tombos de seu escritório. Mas nada profundo. Nunca amou nada além de si mesmo. Na portaria, uma lista de nomes proibidos, tanto quanto seu número de celular e os bloqueios virtuais. Resumindo: a elegância de Rodrigo Santoro com a sutileza de Paulo Leminski, a inteligência de Chico Anysio e a riqueza de Eike Batista, ou seja, deus.

Mas entre o minúsculo e o maiúsculo há uma diferença maior que o carisma e a fama do homem. E sabe-se lá por que coisas acontecem, elas acontecem. Tarde de sábado, numa espera com um grupo de amigos em um restaurante badalado, apareceu a hostess mais incrível que pudesse existir, uma relações-públicas do paraíso.

Paralisado. Caído. Enfeitiçado. E quando a fome desaparece, significa um alerta vermelho, e este apitava uma araponga amplificada. O homem surtou.  Como um cão louco, quase dividiu a recepção dos clientes. E ela fugiu a tarde toda e todas as demais daquela semana. Não era mais o mesmo. Almoçou todos os dias, variou pratos, fez amizades com os garçons, despertou o interesse de várias clientes que sentavam por lá. Porém a menina era arisca, estava a um passo à frente dele, mesmo que as pegadas dele pisassem as dela.

As orquídeas não funcionaram, o Coco Chanel ficou com a irmã, Mas a Louis Vuitton ela aproveitou. E nada. O preço dela era muito mais deslocado. E foi com a primeira edição de Dom Casmurro que a Capitu sorriu a precisão do mimo. E um café da tarde fechou o ciclo da caça. Depois um jantar, enfim um amanhecer e o primeiro beijo. Na noite daquele dia, havia mais do que rosas na cama de seu apartamento, havia um Moët Chandon com morangos, Norah Jones no Blu-Ray, e uma vista espetacular da chuva batendo no vidro do quarto.

O que houve não nos compete, porque o óbvio aqui não, mesmo que não pareça, não aparece. Pela manhã, a chuva seca. Os sorrisos se abrem como o tempo, os lençóis de fios egípcios laçam os dois. Café da manhã de cadeiras juntas. O trabalho dela começa às 11h. Ele a deixa onde sempre esteve. Ela sai depois de ele abrir a porta. Eles se beijam. Ela o acompanha sorrindo até o carro. Ela se aproxima dele, inclina-se para mais um beijo. E antes de sair, ele diz:

- Te ligo.

O eco que viria a seguir era comum. Nada mais do que isso. Quantidade e qualidade andavam de mãos dadas na vida daquele homem, realmente a última calipso do mundo.   

           

 

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