segunda-feira, 11 de março de 2013

A MOOCA DOS "CANÓLI"

Existem passeios turísticos que se tornam turísticos por tradição. Em São Paulo, ir a um jogo na rua Javari, do Juventus, é um exemplo típico disso. Não pelo evento dentro de campo, porque não é isso que entrará aqui – já que a pelada foi horrenda – mas pelo contexto interessante e apaixonante que cercam esse acontecimento.

Estou longe de ser o Vinícius, amigo meu e fiel frequentador desse evento, porém – contagiado por suas histórias – e por tudo o que já li, estive eu e meu mais velho ontem na Mooca, acompanhando de perto tantos lances de alambrado.

Quem conhece o bairro – e eu sou um deles, estudei por 7 anos nele – sabe que o reduto de italianos o transformou num local mágico, familiar. E isso é visto logo na entrada do estádio. Famílias aparecem como se fossem a um parque de diversão. Todos com as camisas grenás à mostra, mãos dadas. Diria que um jogo ali, às 10h da manhã de um domingo ensolarado rouba muitos fiéis da região.

E se aqui há um ato ecumênico, diria que os canólis - canudos de massa folhada, salpicados de açúcar e recheados com creme ou chocolate – são as hóstias. E todos podem já comungar logo na entrada ou durante o jogo. Está longe de ser uma ambrosia, mas ninguém mesmo se delicia com hóstias.

Os avôs, tios e tias riem e cumprimentam todos, acabam abraçando quem por lá chega e sorri. E não há como não sorrir na Javari. Lembro que estive lá pela última vez em 1985, e meu sorriso de ontem foi o mesmo.

O hino do Moleque Travesso no início. As faixas escritas em italiano e os gritos que lembram os argentinos do Boca reforçam a ideia de que ainda existe uma certa ingenuidade e saudosismo no futebol.

Os torcedores conversando quase na nuca do bandeira. Os tifosi soltando impropérios arcaicos colados ao alambrado. Quase deixam o jogo de lado, ruim, por sinal, bem ruim.

Mas o que me deixou mais intrigado foi o medo de a partida terminar por falta de bolas. Sim. Os jogos por lá só podem acontecer com um número de bolas triplicado ao de uma peleja comum.

Pude contar que nada mais, nada menos que 4, sim, 4 bolas se perderam para fora do estádio.

E depois de ver tudo isso, quando esperava que meu domingo matinal estava completo, vejo o massagista do clube tocar a campainha da casa de uma nona qualquer, pedindo uma das bolas.

E, pela cara dele – que voltou de mãos vazias – estava claro que a bola fora murcha,  já que é um atrevimento manchar o lençol branco da nona. Se for pra ter mancha, que fosse do canóli, que ficou conversando comigo o dia todo.

4 comentários:

  1. Rsrs... Adoro este bairro, sempre me senti em casa aqui. Bjo

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    1. Acho que a Mooca está no coração de todos de SP, como o Juventus, Fê!

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  2. Passeio imperdível para amantes do futebol e da Itália em versão retrô anos 40.

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    1. E fica ainda melhor com um irmão que abre portas! Marcelo Paciello um verdadeiro guia turístico da Javari!

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