terça-feira, 5 de março de 2013

AS LINHAS DA VIDA

Nunca foi dado a videntes ou cartomantes. Sempre ignorou as sandices do ocultismo ou a ciência das adivinhações, porém tanto quanto desconfiava porque não tinha fé não saberia explicar por que naquele dia escutou a cigana que o parou numa esquina qualquer.

Ela tomou a mão dele, ainda que a ciência das letras lhe fugia o domínio, a mulher leu bem os traços quase indecifráveis da direita. E não precisou de muita coisa, em segundos falou que ele se casaria com alguém do bairro vizinho que tivesse passado por uma cirurgia no coração, que a esposa seria leal até o fim dos dias.

Semanas depois, a profecia se realizara. Ele arregalou os olhos quando percebeu que a moça se encaixava em tudo o que a cigana lhe havia dito. Mesmo que estivesse com um pé atrás, mesmo que não fosse um amor assim tão intenso, mas lealdade não é algo que se vê sempre. E assim ele se casou com a promessa.

E quando se fala que lealdade é algo raro e que as adivinhações não devem ser levadas tão a sério, um ano após se casar, se divorciava. E julgou-se idiota por seguir as coincidências daquela tola. Largou o sugestionável e decidiu seguir o que a vida deveria realmente trazer.

Casou-se pela segunda vez, sem cartomante nem igreja. Sabia que nunca pôde seguir profecias e por isso este deveria ser o bem-sucedido enlace. Não foi. 3 anos depois, divorciava-se pela segunda vez. A diferença é que agora a decepção e o sentimento pacóvio não estavam lá, quis a vida, quis os dois que cada qual seguisse sua vida.

E, pela terceira vez, estava num relacionamento. Desejou ser o último, mas o passar dos dias apenas endossou que ele e ela se completavam nas diferenças. Tinham a certeza de que havia uma troca, uma troca de opiniões, de vontades e de que empatavam cada qual a vida do outro.

E, quando jurou a si mesmo que assim como a cigana, esqueceria do amor, abandonaria o coração e viveria das aventuras que o mundo colocasse em cada curva que fizesse. E foi numa dessas curvas que ela apareceu.

Olhar agudo, sorriso fácil, encaixe perfeito. Um a extensão do outro. E todos os clichês faziam um séquito atrás dos dois. E era fácil, e era leve, porque eram apenas um.

E não se sabe em que momento ele parou, depois de quase 10 anos juntos, numa sacada de um hotel. Ele virou sorrindo a ela um sorriso tão besta tão imbecil que ela nem percebeu e talvez nunca saberá.

No cartão-postal à mãe, ela colocou o nome daquele bairro e dizia que o coração - o mesmo operado há anos - batia as saudades e as felicidades como nunca sentidas. E ele bem que desejou, mas não poderia mandar outro cartão postal à cigana daquela esquina.

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