sábado, 16 de março de 2013

AONDE TEUS PASSOS TE LEVAM...

Havia meses que o rapaz não dormia bem. Os problemas se amontoavam em suas costas feito sanguessugas. Não havia porto seguro, nem de casa nem do trabalho, nada. Seguindo certa vez um conselho do endócrino: “quando tiver problemas, ande!”

E foi o que começou a fazer, se os obstáculos não sumissem, ao menos a saúde poderia estar intacta às bofetadas da vida.

Fazia o melhor itinerário que podia, sem ladeiras. No primeiro dia, no meio da calçada que beirava a avenida, havia uma moita regada por um lodo e uma piscina barrenta. Desviou. Continuou.

Pelo caminho, pensava, pensava, pensava. Se houvesse jeito pra tudo, haveria jeito pra tudo. Sabia que havia uma solução, bastava andar e pensar.

No segundo dia, sempre depois do trabalho, fosse a hora que fosse, ele calçava os tênis e seguia, procurando a solução enquanto ganhava chão. E sem perceber lá estava de novo com a mesma moita, o mesmo lodo, a mesma piscina.

Esperou que os carros que passavam a toda à sua direita passassem a toda à sua direita para que ele fizesse esse trajeto, de uns 50 metros pela avenida.

E a vida seguiu por uns dias. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e orando. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e orando.

A situação não havia mudado em nada. Certo, alguns amigos notaram uma ausência flácida na região abdominal, ele as dores musculares, que cediam a cada dia.

Depois de semanas, percebeu que a melhor parte do dia era a caminhada. Em até  certos trechos do trajeto, ele esquecia os problemas e se lembrava de outras coisas que o faziam sorrir.

E a vida seguiu por umas semanas. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e orando. Andando, trabalhando, não dormindo, pensando e orando.

Não conseguiríamos terminar o relato sabendo se todos os problemas foram sanados, se o sono voltou em paz. Porém o que se pode contar é que, naquele dia, no exato ponto em que tinha de desviar por causa da moita, ele parou.

Olhou bem adiante e seguiu comedido. A moita havia sumido, assim como o lodo e a piscina. Havia apenas 50 metros de barro seco. Ele pôs o primeiro pé, seguiu do segundo e caminhou firme pela primeira vez aquela parte do trajeto.

E durante esses 30 segundos, nenhum carro passou a toda à sua direita.

 

 

 

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