domingo, 3 de março de 2013

GIOCONDA E A UNANIMIDADE

Não é sempre que se vê alguém completar 90 anos. E a bisa, danada que só, diria ela “traquinas” não era um exemplo do que se imagina a essa idade. Tinha uma rotina bem movimentada. Desde hidroginástica a frequentes sessões de cinema, ela dividia seu patchwork com os saraus na casa das amigas do curso de italiano.

No bairro, bastava ver o fusca 71 azul para associar à dona Gioconda, que buzinava sempre duas vezes quando via um conhecido pelos bairros do Ipiranga, onde nasceu e de onde nunca saiu. Formou-se, casou-se e ganhou netos e bisnetos, tendo o museu nos fundos do casarão.

Com Bernardete, uma espécie de enfermeira e governanta, costumava passear pelos jardins da casa e do museu, diariamente. Querida, porque é difícil ser isso na família por tanto tempo, tinha o apoio e a atenção de todos.

E a festa-surpresa estava pronta. Dois dias antes da data, para não levantar suspeitas. E mesmo que a nona dissesse que a má-sorte também viria de modo antecipado, teimaram em preferir a novidade ao azar. A casa de um neto seria a hecatombe.

Convidada para uma sessão de filmes de Fred Astaire, o que o fazia um dos preferidos da avó, ela chegou, como sempre, sozinha. O ronco do carro entregava-a. Cerca de 200 pessoas lá, entre amigos e parentes.

Mal entrou e a luz se acendeu: “FELIZ ANIVESÁRIO!” e logo em seguida a luz se apagou. Uma pane no bairro deixou quarteirões e mais quarteirões no breu.

Enquanto todos se mobilizavam, clicando celulares para iluminarem a casa em busca de velas, ficou aquele gosto de “poatz” – e tiveram de ficar à meia luz, e o pior é que nem Fred Astaire pôde estar presente, pois, assim como ele, a surpresa dançou.

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