sábado, 1 de junho de 2013

A PIN UP DO ROCK'N'ROLL - parte 2

... Numa mesa de bar, duas porções, alguns chopes e ela no assunto. Um discurso de um desesperado rapaz empolgava os amigos. Um obcecado, alguém vidrado, contando todas as peripécias de um normal ensandecido. Digno de dó. Os sorrisos poderiam aparecer, mas não vieram, homem é solidário no amor do outro. Não viriam, mas vieram agora.
   
Ruiva, de pudor bélico e de óculos escuros. Um sim à depravação. O rosto dele se iluminou, e o sorriso doce e fácil puxou-o para perto. Ele imediatamente se levantou, depois de concedida, a cadeira estava ocupada. Não se pode escutar o que falaram daqui, porém temos a certeza de que ele fora preciso. Em meia hora, partiram e ele deixou outro fato, que pairou por momentos por lá e seguiu com os dois.

E sempre foi assim, como um cão, ele a seguiu. Por onde fosse, ele iria, o que fizesse, ele acataria, se ela morresse, ele a velaria. Virou esquinas, sentiu aromas, não percebeu onde estava e, onde estava, estava ótimo. Não quis bebida, a única coisa a ser sorvida era ela. Foram ao quarto. Ela trancou a porta. Apagou a luz e fê-lo sentar na cama.

Sentou em suas coxas, abraçou-o quase que num gesto maternal, beijou-lhe a testa e pediu que esperasse, depois de vendá-lo. Entrou na suíte. Quase se lhe podia ver uma lágrima a escorrer pelo rosto, entretanto a venda sorveu-a por completo.

Não demorou, em minutos ela saiu. Chegou perto de seu ouvido, balbuciou algo que o fez sorrir. Acendeu o abajur vermelho, colocou dois fones em seu ouvido, falando que a música seria o convite aos olhos. Logo, aquilo.

Não! Não podia ser! Sim, era! Aquela música! Deus! Ele poderia arrancar as pálpebras com a força que puxou a tira preta. Sim! Aquela dança! Ela! Ela! Ele a reconheceria vendado a metros de distância. Sim! Não podia ser! Mas era! Ela! Um vaivém delicioso, e ele não conseguia sair da cama.

Mesmo que trouxesse aqueles glúteos duros e redondos para perto, ele não conseguia sair da cama. Uma crise de soluço e choro, um calor no peito, um fogo dentro das calças. Estava nua, como nunca postara. Nua de pele. Onde houvesse pele, estaria descoberta.

Sim! Ela! Tentou se lembrar do nome, ela havia dito pelo caminho, mas não havia tempo para isso. Ela estava lá, era só dele. Ele chorava. Ela lambia as lágrimas. Ele tremia. Ela dançava e mexia e ele não. Talvez sentira seu quadril pular, tentando acompanhar aquele ziguezaguear doce. Gozou. Nem a tocara, e ele gozou. O corpo todo tremia. Quase que numa convulsão alucinante. A música. O cheiro. A dança.

Ela! Que chegava perto agora, ele chorava, soluçava. Abriu-lhe as pernas e lentamente deitou-se em cima dele. Imóvel, apenas deixou-se entregar e não viu que a tira de pano estava entre as mãos dela. Ela enrolou firmemente na direita. Repetiu o gesto na esquerda e traçou uma reta entre as duas mãos.

Uma ponte entre o sonho e a última coisa que ele poderia ter. Mas o que viria a seguir não se concretizaria. Não se sabe se ele berrou de dor ou de prazer, porque a música tomara conta do quarto.

Ele morria. Morria de prazer, literalmente morria de prazer. Ela lamentou, ele fora o mais ousado e dedicado. Talvez o mais apaixonado. “Que ironia”, ela pensou. Ela tirou a peruca ruiva e não sabemos o que mais aconteceu nem se os olhos eram claros, porque quando se morre por amor, o silêncio do respeito é o melhor acorde que se pode entoar. E faltavam ainda 2 minutos para a música acabar.

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