segunda-feira, 17 de junho de 2013

MI BEMOL AZEDO

Já disse e repito que os clichês só são clichês porque são verdadeiros. Depois que o Rezendão me ensinou isso, tenho de endossar a afirmação cada vez que me pautarei neles para começar um relato.

O famoso “Deus castiga” é a melhor forma de resumir a história a seguir. Eram duas primas e, por enquanto, não classifiquemos quem seria o anjo e quem seria o cão. Estavam numa dessas semanas de feriado ou qualquer coisa que o valha, cada qual com seus 4 aninhos.

Brincavam com suas Fofoletes, quando uma delas resolveu apimentar o lúdico. Foi durante o lanche. Uma delas mastigou bem a pipoca, misturou coma groselha na boca e simulou um vômito magistral, fato que resultou num vômito real da outra, que desandou a chorar, e acabava por entregar um ponto fraco.

E como toda criança é maquiavélica, aquilo se tornou aliado e acabava de separar as duas para sempre. Aos 12 anos, no meio de uma festa de família, a maldosa não teve outra saída, senão – no meio do aniversário do anjinho – aparecer no meio de todos os colegas dela e simular outro vômito.

Resultado, o melhor amigo da boazinha teve a calça infestada de coxinhas e refrigerante. Pior é pensar se realmente a maldosa passou anos, depois de conquistar a confiança da prima, pensando em executar outra obra-prima daquelas.

Naturalmente, elas se afastaram. Nem adolescência, nada. Mantinham um discreto contato, até a maquiavélica se casar. Sim. 13 anos sem se verem, e o convite chegava das mãos dela e do educado noivo. E santo que nasce santo morre santo. A prima boa viu o olhar doce da outra e teve a certeza de que tinha mudado. E tinha mesmo, parecia alguém normal, talvez o amor tenha feito isso a ela.

Cerimônia linda, coral impecável, arranjos únicos, uma noite banhada de elegância e bom gosto. Choro dos padrinhos, até a prima boa chorou, o que era comum e previsível. O abraço entre as primas então foi comovente. A foto ficou maravilhosa.

A música na recepção, então, de um charme poderoso. Ouvir o Daniel Boaventura cantar e trazer um Sinatra ou um Tony Bennett para juntos de todos era um sonho, um sonho. Até o padre estava por lá e embalou as danças, relembrando a juventude com seus ídolos.

Embalou tanto e misturou tanto que não se sentiu muito bem. Correu para o banheiro, entrou e saiu branco. Encontrou-se com a noiva no hall entre os banheiros, estava parado e pálido. A moça correu para ajudá-lo, ele se apoiou nela e deitou.

Estava com a cabeça apoiada no branco do vestido. Tudo rodava. Talvez tenha sido o champanhe, talvez tenha sido a maionese de camarão, talvez tenha sido as frituras, talvez tenha sido as batidas, fato é que o cara teria de colocar tudo isso pra fora, e colocou lá dentro.

Mas o mal-estar prevalecia ainda e de nada adiantou os abanos da noiva. O homem não aguentou, vomitou tudo, tudo. E, por Deus, ele teve o bom senso de rapidamente se levantar e virar o rosto para o lado contrário ao da noiva, que continuou a segurar a mão dele enquanto o jato saía.

E talvez tenha sido também, por Deus, que, segundos antes de isso acontecer, a prima boa foi chamada pela noiva para acudi-los. O coração bom e solícito do anjinho era sempre bem-vindo. Mas em segundos, a roda gigante virou de modo abrupto.

Do jato do padre, ela escapou, mas a prima que chegava segundos antes, agachava-se pra ajudar, teve os sapatos e os joelhos infestados daquele lodo azedo. E, como tudo que vai volta, sobrou para a noiva, que recebeu em cheio, no decote e no rosto, toda injúria e maldade que deu à prima, que também não aguentou e devolveu na nuca do padre.

Pois é, se Deus realmente castiga, e se o que damos recebemos em dobro, o presente veio com azedume e ao som de HELLO DETROIT.  

 

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