quarta-feira, 26 de junho de 2013

AS BENFAZEJAS DA LITERATURA

Escritor promissor num país miserável não é raro, mas com uma projeção internacional, daquelas que colocam uma nação no centro do mundo é. E ele se tornava o orgulho nacional.

Seu primeiro romance explodia com uma fúria criativa e depressão invejável. Sabia trazer os problemas e rir deles como a fome que devastava as ruas ou os escândalos que rompiam famílias e políticos.

Governo falido, não havia dinheiro para se comprar comida, muito menos livros. E ele se tornava ponte de entrada a algo. Lido no primeiro mundo, França, Estados Unidos, Inglaterra e demais exemplos se rendiam às linhas do talentoso literato.

E o país entrava na lista dos mais lidos. Seis meses, mais de 20 milhões de livros vendidos, primeiro lugar em cada esquina. ONU e ong’s descobriam aquele fim de mundo, eram as letras que traziam ar e proventos para mais de 20% dos analfabetos do local.

O mérito viria como um relâmpago. O governo se reuniu e decidiu condecorá-lo com mais que um cidadão, com 100 mil dólares, pela abastança que conseguia com seu título.

Mas o bom senso e a ideologia falam alto. Aceitou o diploma e as palmas, estendeu a mão a todos os poucos poetas e catedráticos conterrâneos, e enfiou-a no bolso para o cheque. Não cairia bem, ainda que fosse o salvador da pátria, engordar a conta corrente enquanto houvesse corpos pelas valas, que não estavam de todo limpas.

De salvador, virou herói e de herói viraria santo. Realmente, homens de boa fé são mais raros que escritores promissores.

Não conseguiremos ver até quando isso se perdurará. Ao término desse texto, não teremos o exato momento dos fatos ou saberemos se um segundo romance vingou.

O que se tem certeza é que os direitos autorais podem não durar tanto assim, por isso é que os estudos da única filha, de apenas dois meses, tinham de ser garantidos. E, convenhamos, começar uma conta-poupança com 100 mil dólares é tão raro quanto um efêmero e improvável sucesso literário.

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