Por
isso prefiro acompanhar de longe e sem julgar os gritos histéricos, as ações
impensadas e as inconsequentes insanidades que acontecem por aí.
Quando
eu me encontrei com a Marisa Monte, pensei ser de fato um encontro impossível
entre fanático e uma deusa, mas não, era mais paixão mesmo do que qualquer
outra coisa. Sei disso porque ídolo não perde o título, assim como filho, pai,
mãe etc.
Acho
de um presente incrível aqueles que têm seus ídolos vivos e puderam ter essa proximidade,
nem que seja por segundos, ainda assim ela existiu.
Revirando
meus dias de idólatra, o único acontecimento que mais se assemelha a isso foi no
show do Queen com o Paul Rodgers em São Paulo, em 2008. Não era o Freddie que
estaria lá nem consigo imaginar qual gafe cometeria se lá estivesse.
Lembro
que quando soube que viriam e quando soube o dia que começariam a vender,
contei dias e horas para tal. Os ingressos começaram a ser vendidos num sábado,
às 9h. Eram 9h15 quando consegui falar com o atendente.
Foram
os 450 reais mais baratos da minha vida. A sensação de ouvir do cara: “A compra
foi concluída, tenha um bom show” – me fez voltar anos e anos, me fez sentir em
Jerusalém nos anos 30 ou em Portugal. A diferença que eu chegaria tarde aos
dois locais. Essa foi a real sensação, mas, ainda assim, estaria por lá.
Sempre
fui ansioso, porém naquele momento decidi não ser. Esqueci que faltavam 4
semanas para o show. E elas vieram rapidamente. Levantei naquela quinta-feira
mais tranquilo do que pensava. Dei minha aula e voltei mais calmo do que o
previsto.
Cheguei
ao Via Funchal sereno e irritantemente relaxado. Passei pela entrada, cheguei à
cadeira e me sentei mais sossegado que um monge tibetano e me orgulhei de poder
saborear cada momento mágico sem atropelos nem sustos.
Estava
a uns 50 metros do palco, na parte de cima do evento. Ao meu lado, vários fãs
da banda inglesa, de adolescentes com seus avós a avós com seus filhos.
O
ingresso apontava 22h para o início, e eram 22h01, quando as luzes se apagaram
e o som começou. Assovios, choros, urros. E eu tremendamente calmo, sorrindo
àquilo tudo. Quando as luzes se acenderam, e trouxe para meu campo de visão um
Brian May idêntico ao que me acostumei ver desde os meus 10 anos, o
autocontrole foi para o espaço.
Escutando
HAMMER TO FALL, desabei. Caí em lágrimas, debrucei-me nas minhas mãos e chorei
um choro doído por tudo. Por saber que o Freddie poderia ter estado lá, por
saber que encontros impossíveis, mesmo que as sombras deles, acontecem.
Senti que eu havia morrido e, pretensiosamente, eu ressuscitei no 5°minuto e falando o mesmo idioma de José Saramago.
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