quarta-feira, 5 de junho de 2013

JESUS SARAMAGO MERCURY

Talvez nunca entenda essa relação de fã e ídolo. Talvez nunca entenda, porque os que idolatro já estejam mortos. Não sei qual seria a minha reação se encontrasse Cristo, Saramago ou o Mercury.

Por isso prefiro acompanhar de longe e sem julgar os gritos histéricos, as ações impensadas e as inconsequentes insanidades que acontecem por aí.

Quando eu me encontrei com a Marisa Monte, pensei ser de fato um encontro impossível entre fanático e uma deusa, mas não, era mais paixão mesmo do que qualquer outra coisa. Sei disso porque ídolo não perde o título, assim como filho, pai, mãe etc.

Acho de um presente incrível aqueles que têm seus ídolos vivos e puderam ter essa proximidade, nem que seja por segundos, ainda assim ela existiu.

Revirando meus dias de idólatra, o único acontecimento que mais se assemelha a isso foi no show do Queen com o Paul Rodgers em São Paulo, em 2008. Não era o Freddie que estaria lá nem consigo imaginar qual gafe cometeria se lá estivesse.

Lembro que quando soube que viriam e quando soube o dia que começariam a vender, contei dias e horas para tal. Os ingressos começaram a ser vendidos num sábado, às 9h. Eram 9h15 quando consegui falar com o atendente.

Foram os 450 reais mais baratos da minha vida. A sensação de ouvir do cara: “A compra foi concluída, tenha um bom show” – me fez voltar anos e anos, me fez sentir em Jerusalém nos anos 30 ou em Portugal. A diferença que eu chegaria tarde aos dois locais. Essa foi a real sensação, mas, ainda assim, estaria por lá.

Sempre fui ansioso, porém naquele momento decidi não ser. Esqueci que faltavam 4 semanas para o show. E elas vieram rapidamente. Levantei naquela quinta-feira mais tranquilo do que pensava. Dei minha aula e voltei mais calmo do que o previsto.

Cheguei ao Via Funchal sereno e irritantemente relaxado. Passei pela entrada, cheguei à cadeira e me sentei mais sossegado que um monge tibetano e me orgulhei de poder saborear cada momento mágico sem atropelos nem sustos.

Estava a uns 50 metros do palco, na parte de cima do evento. Ao meu lado, vários fãs da banda inglesa, de adolescentes com seus avós a avós com seus filhos.

O ingresso apontava 22h para o início, e eram 22h01, quando as luzes se apagaram e o som começou. Assovios, choros, urros. E eu tremendamente calmo, sorrindo àquilo tudo. Quando as luzes se acenderam, e trouxe para meu campo de visão um Brian May idêntico ao que me acostumei ver desde os meus 10 anos, o autocontrole foi para o espaço.

Escutando HAMMER TO FALL, desabei. Caí em lágrimas, debrucei-me nas minhas mãos e chorei um choro doído por tudo. Por saber que o Freddie poderia ter estado lá, por saber que encontros impossíveis, mesmo que as sombras deles, acontecem.  
 
Não vi mais nada até o fim da música. Chorei por 4 minutos escutando uma voz que não de Farrokh Bulsara, ainda assim era seu nicho que estava lá, ainda assim ele poderia ter estado lá, ainda assim consegui ver o legado da maior voz que já escutei.

Senti que eu havia morrido e, pretensiosamente, eu ressuscitei no 5°minuto e falando o mesmo idioma de José Saramago.

 

 








 

 

 
 

 

 

 
 
 

 




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