terça-feira, 11 de junho de 2013

PASSANDO A PERNA NAS LEIS

A paixão pelo circo e pelo mundo dos palhaços sempre o aproximou do picadeiro. Desde criança, quis se pintar e, principalmente, conseguir andar com as pernas-de-pau. Talvez a vida vista além de todas as cabeças seria muito mais bonita.

Quis o pai e os dias que a carreira de advogado fosse prioridade. Formou-se e assumiu com maestria o escritório do avô. As leis tributárias eram os pratos a serem equilibrados, e, diga-se de passagem, muito bem equilibrados.

Foi então que se encontrou com um curso de palhaço, desses que servem para livrar as pessoas do estresse, desses que servem como terapia. Mas a ele não, era mais do que isso.

Aproveitou bem a chance, e, três vezes por semana, ele e mais 29 tiravam as máscaras de executivos, comerciantes e médicos e assumiam os narizes vermelhos e as traquinagens. E na terceira semana, o sonho. Sim, as pernas-de-pau estavam em seu caminho.

O que demoraria a todos, a ele foi nada. O sonho era seu combustível. Ele montou aquilo como se montasse na própria fantasia. Em duas aulas, já se equilibrava muito bem. A partir da quarta, ganhou caminho, ganhou vida. E o que seriam apenas alguns passos tornou-se em dança, pulos etc.

Estava tão familiarizado com o assunto, que o professor o indicou a uma brincadeira. Um primo inauguraria uma concessionária imensa de uma marca alemã. Haveria de tudo, até mesmo um palhaço com as pernas gigantes. Nem mesmo os 100 reais por 5 horas de trabalho, mais o lanche e o refrigerante tirariam a chance. Sim, ele foi!

Estava lá, e pôde reconhecer dois ou três clientes, com a família, se divertindo com carrões, pipocas e as peripécias daquele palhaço. Divertiu-se duplamente, mas principalmente por não ter sido reconhecido, nem seria.

Dançou, pulou, entreteve o muno. Disseram que dois carros foram fechados por causa do malabarismo eminente. Talvez tenha sido azar, talvez tenha sido distração, talvez tenha sido inexperiência, porque uma hora ela apareceria.

Foi num movimento de balé que, ao içar a perna direita num chute para trás e abrir os braços, a perna de madeira acertou em cheio o queixo de uma doce senhora, que sorria encantada até ser nocauteada.

Burburinho. Correria. Gritos. Sim, a velhinha estava no chão. Ele se virou aflito, tenso. Quis descer o quanto antes de lá, e esse gesto afoito o derrubou. Ele caiu em cima do carrinho de pipoca. Foram ao chão o pipoqueiro, os milhos. As pombas do mágico voaram para o banquete. As crianças voaram para as pipocas. O caos.

Ele ficou sem o lanche, sem o cachê e rezou para que a senhora não tivesse tido algo pior. Mas a sequela maior foi quando, na segunda, ao abrir a porta do escritório, encontrou a mesma senhora, de nariz quebrado e queixo ralado, e tentou dissuadi-la de processar um artista circense. São três horas de conversa e até agora não obteve êxito algum...

 

 

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