sábado, 22 de junho de 2013

ESTEFÂNIO, O ESTABANADO

Há coisas nessa vida que vão além de qualquer explicação. Tentar desvendar o porquê das coisas é inútil, é como tentar achar uma razão para se amar alguém, ama-se e pronto.

Podemos estender isso ás demais coisas nessa vida. Há os que nascem lindos, os que nascem feios, os que são educados, os ogros. Há os delicados, há os atenciosos e há pessoas como Estefânio.

Se a tropeirice – Guimarães que me dê licença – possa definir alguém, esse alguém é Estefânio. O cara nasceu derrubando coisas, chutando outras, quebrando mais algumas. No berçário era o único a perder a chupeta, abrir o berreiro e acordar todos.

Na escola, sempre voltava sujo do suco, da tinta, com o joelho ralado. Foi o único a quebrar o nariz dormindo, além de tudo era sonâmbulo. Talvez a única segurança de mantê-lo ileso dos outros e dele mesmo, além da distância, fosse um isolamento à Hannibal Lecter.

Que a fama de furacão lhe era peculiar, todos sabiam. Agora quando o desastrado colocava em risco a paz do universo, uma interdição deveria ser requisitada.

Estava o homem no metrô, tranquilo no contrafluxo num raio de ação seguro a todos. Mas o que uma inofensiva empadinha de frango com requeijão poderia causar: quase uma guerra civil.

O cara exagerou nas 6 empadas e começou a sentir o efeito delas entre uma estação e outra. O conselho dele mesmo era não levantar, mas existem coisas que fogem aos conselhos e ao controle. Não aguentando mais, esperou, suando frio, pela próxima estação.

Fato é que, se calmo, ele já causaria um terremoto, alucinado seria uma hecatombe. E foi o que aconteceu. Num relance de sorte, havia ninguém entre o banco e a porta do metrô. Numa linha reta, saiu em disparada. Conseguiu, às bicas, se safar de duas velhinhas e uma mulher.

Não se sabe como, conseguiu pedir informação a uma funcionária, que apontou o andar de cima, em busca de um banheiro. Tudo bem que de cara ele escolheu a escada rolante errada e ficou amassando degraus por uns 30 segundos. Mas isso se descarta por causa do desespero.

Quando conseguiu alcançar a escada certa, precipitou-se em desabotoar a longa bermuda para facilitar a respiração, dominar o controle e viabilizar o objetivo. Tudo seria plausível, caso ele fosse normal.

E tudo daria certo, mas é Estefânio no comando. E foi na metade do trajeto, quando o celular tocou e ele soltou a mão direita, a mesma que segurava a bermuda aberta, para atender ao chamado. Escolha errada. A bermuda escorregou e, assim que atingiu o topo, ficou presa entre os degraus. Vergonha alheia. Ele conseguiu se prender na escada, fazê-la parar, derrubar dois dos degraus com o impacto brusco.

Ele ficou preso, a bermuda também. O instinto o fez tentar puxá-la para cima, contornando uma cena dantesca. Estefânio no chão, com a bermuda nas canelas, a mão esquerda na bermuda e a direita com o celular. O lado bom disso tudo: a vontade de ir ao banheiro passou.  

O lado ruim, não havia cueca limpa na gaveta dele naquela manhã...

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